OPINIÃO – BRASÍLIA , Capital da Esperança

Hoje, a imagem de Brasília se vê desgastada pela própria função que ocupa como capital, de onde emanam notícias nem sempre alvissareiras para os brasileiros. Há, entretanto, que separar o que foi Brasília como um suspiro modernista no seu tempo, e o que hoje representa, inclusive pelos seus altos custos

26 de abril de 2022

A provecta Brasília completou 62 anos mas guarda, ainda, alguns encantos de origem.  Antes de ser inaugurada como Nova Capital por JK, em 21 de abril de 1960,  Brasília foi uma ideia força da ideologia do desenvolvimento, que o moveu e sustentou como grande liderança nacional. A transferência da capital para o interior foi, talvez, a única constante progressista ao longo de décadas, como assinala o sociólogo Benício Schmidt, num de seus trabalhos sobre Política Urbana.  Imaginava-se, desde sempre, que este movimento não só se constituiria em importante fator de interiorização do país, como garantia da ocupação territorial, mas também de maior segurança como sede do Poder Central, distante do litoral. No curso do tempo, porém, a interiorização se deu mais pela expansão da fronteira agrícola do que por Brasília.

Num artigo pioneiro meu sobre a cidade, intitulado “Brasilia: O Mito e o Pito”, dentre os sete equívocos que a enalteciam, trato desta questão. Na Constituição Republicana de 1891 este anseio ficou registrado e reiterado pela Constituição de 1946, determinando a criação de várias Comissões encarregadas de delimitar o perímetro do futuro Distrito Federal. Coube ao Marechal José Pessoa, enfim, entre a morte de Vargas, em 1954, e a posse de JK, a importante tarefa não só de definir esta localização e velar pela bandeira da transferência da capital, jamais aceita pelo conservadorismo,  como obter, junto ao Governo de Goiás, a desapropriação da vasta área que garantiria o início das obras. Goianos, aliás, tiveram um papel decisivo em todo este processo, não apenas por ceder o coração de seu território para o Governo Federal, como pelo clamor de vários de seus líderes em defesa da transferência da capital. Providenciaram, também, através de ações do Governo levadas a efeito pelo seu vice governador, Bernardo Sayão, os primeiros esforços que permitiram a descida do já Presidente JK ao local, como sua permanência durante todo o período da construção da cidade: o “Catetinho”, residência oficial do Presidente, até hoje preservado. Brasília, enfim, tornou-se o emblema das 30 Metas de Juscelino. Era o que se dizia, na época, a Meta Síntese de seu Projeto para o Brasil, que consistia em fortalecer o mercado interno com o empoderamento da indústria, bem como pela montagem de uma vigorosa infraestrutura nacional capaz de articular os mercados regionais.

Os mais jovens estranham, mas a luta política no Brasil, desde que Vargas chegou ao Poder, em 1930, travava-se, pela direita, pelos que defendiam o Brasil Primário Exportador, com base no que diziam sermos melhores – o Agro – e, pela esquerda, pelos que defendiam a industrialização. No epicentro pois, daqueles Anos Dourados, Brasília despontava como a estrela do engenho e arte verdadeiramente nacionais, capaz de iluminar um promissor futuro. Custou caro e ainda custa. A União Federal dá à cidade R$ 16 bilhões anuais para sustentá-la.; 1 de cada 3 reais do orçamento da capital federal é do bolso de todos os brasileiros. Mas valeu a pena. A cidade, com suas múltiplas faces e escalas, ocupando a dupla função como capital federal e lugar de residência dos locais,   é motivo de orgulho do país, como destacou uma de suas mais agudas estudiosas, Arquiteta Briane Panitz Bicca(1946-2018), Coordenadora do Dossiê de candidatura de Brasília à Patrimônio Mundial da UNESCO: Patrimônio Cultural da Humanidade, na exaltação de seus criadores Lucio Costa e Oscar Niemeyer,  “cives”, como sede da República e aprazível “urbs” onde vivem, com invejáveis  indicadores urbanos, em torno de 4 milhões de pessoas, em grande parte oriundas dos grotões do sertão e que tiveram em suas vidas, com Brasília, uma verdadeira revolução. A renda per capita do Distrito Federal  é 33% maior que do Estado de São Paulo e 260% superior ao último colocado no ranking, Maranhão  e é, portanto, o lugar mais rico do país, o que alimenta a imensa diversificação do setor terciário da cidade com inusitadas oportunidades. Hoje, porém, a imagem de Brasília se vê desgastada pela própria função que ocupa como capital, de onde emanam notícias nem sempre alvissareiras para os brasileiros. Há, entretanto, que separar o que foi Brasília como um suspiro modernista no seu tempo, e o que hoje representa, inclusive pelos seus altos custos, sob o controle de um governo retrógrado e desorientado, exatamente o oposto do que era ao tempo de JK.

Fiquemos, pois, com seu valor simbólico, tão eterno, para nós, como as pirâmides e as catedrais medievais. Como tributo pessoal ao que Brasília me proporcionou, eis que ali fiz toda minha vida profissional, deixo dois livros e um arquivo  de notas para sua História: ‘Brasília, o Direito à Esperança”, Ed. Caliandra/1990, e “Brasilianas”, Ed. Paraleleo 15/1998.




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