Esse texto abaixo é o meu mantra. Vou repeti-lo todos os anos nesta data (Dia de Finados) em protesto contra o descaso da administração municipal em relação ao cemitério municipal. Escrevi este texto um ano após a morte da minha mãe. Já se passaram oito anos, meu pai faleceu no ano passado, e tudo continua exatamente da mesma forma. Não consegui mudar uma linha no texto, pois nada foi acrescentado a toda aquela precariedade do cemitério da cidade. Uma pena. Quem não leu terá agora a oportunidade; quem já leu, poderá relembrar, caso tenha esquecido algum detalhe. Então, vamos ao texto…
Uma hora ou outra, esse momento vai chegar. Sempre foi assim e continuará sendo assim por muito tempo! Estou falando sobre a “morada final”, que ainda hoje, para a maioria das pessoas, é o cemitério.
Como tradição, as pessoas que morrem na cidade invariavelmente são enterradas no cemitério local. Nada de novo nisso! A novidade é que eles crescem – e crescem muito – a ponto de ficarem extremamente lotados e demandarem espaços que, muitas vezes, não existem para ampliá-los.
Atualmente, os serviços de cremação estão sendo agregados aos funerais. Contudo, eles não estão disponíveis em cidades menores, e os valores ainda são muito altos para a maioria da população.
Mas esta coluna não vai tratar exatamente dos valores, nem das formas de tratamento dos corpos dos nossos entes que se foram, nem da falta de espaço nos cemitérios. A ideia aqui é tratar dos que ficaram!
A grande maioria dos cemitérios são grandes depósitos de pessoas: uns mais sofisticados, até glamourizados, outros nem tanto. Nesta semana será celebrado o “Dia de Finados” e, como em qualquer lugar do país, haverá um grande fluxo de pessoas para o cemitério local.
O cemitério da cidade, o chamado “Cemitério do Campo Bonito”, embora digam ser “cuidado” o ano todo, apresenta uma precariedade atroz.
Até acredito que façam capinas e pintem os muros, como é sempre noticiado, mas isso é o básico do básico. Não peço que seja como nossas praças e ruas, que às vezes são bem cuidadas (outras, nem tanto). Gostaria que fosse, ao menos, um lugar onde as pessoas, geralmente idosas, que ali vão em momentos já naturalmente tristes, tivessem um mínimo de conforto.
Acho que não preciso falar sobre a estrutura do local, porque também imagino que a maioria das pessoas que estão lendo esta coluna já esteve lá. Mas, para aqueles que ainda não foram, adianto: não há calçadas ou ruelas pavimentadas; tudo é saibro e barro puro. Não há bancos em lugar algum, então, se alguém precisar sentar, terá que se contentar com alguma lápide. O banheiro é precário e só há um na entrada do local. E, se você precisar de água em qualquer ponto do cemitério, prepare-se para caminhar bastante para encontrá-la. À noite, não sei como é, pois ainda não estive lá nesse horário, mas saí de um enterro já anoitecendo e notei que a iluminação era quase inexistente.
Capina e pintura são necessárias, mas um pouco mais de humanidade e respeito pelos vivos e pelos mortos não é pedir muito. Pavimentar as entradas, o estacionamento e as ruelas principais, colocar bancos em pontos estratégicos, melhorar a iluminação, construir banheiros e pontos de água mais acessíveis e plantar algumas árvores – esses pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença.
Claro que não espero que o cemitério municipal se transforme em um desses que se vê nos filmes americanos. Mas é possível, sim, torná-lo mais agradável e confortável, não para os que nos deixaram, mas para os que ainda estão por aqui. Afinal, embora seja uma visita triste e saudosa, não precisa ser mais difícil do que já é.