OPINIÃO – Chamado às urnas se aproximando (e um panorama sobre eleitorado de Torres)

"Pesquisa recente da DATAFOLHA aponta que cerca de 54% da população até evita falar em política, na família e entre amigos, para evitar dissabores. Não obstante, é papel de imprensa, dos intelectuais, até das confissões religiosas, procurarem elucidar dúvidas e esclarecer as pessoas sobre o significado da Política".

6 de agosto de 2022

Daqui a menos de dois meses, no próximo 2 de outubro, os brasileiros serão chamados às urnas.  Oxalá não tenhamos nenhum contratempo neste processo. Daí  trazermos à  borda do tempo, como problematização, a questão eleitoral, sempre controversa. Pesquisa recente da DATAFOLHA aponta que cerca de 54% da população até evita falar em política, na família e entre amigos, para evitar dissabores. Não obstante, é papel de imprensa, dos intelectuais, até das confissões religiosas, procurarem elucidar dúvidas e esclarecer as pessoas sobre o significado da Política. Tenho feito isso nesta coluna nos últimos dez anos. Volto à carga, não para induzir preferências, vez que as tenho pois fui fundador de um dos grandes partidos nacionais e por ele candidato algumas vezes,  mas para enfrentar o desafio de falar em Política com  naturalidade.

Há muitos que dizem  detestar Política… Gostemos ou não, entretanto, a ela está no nosso meio e interfere no dia a dia de cada um de nós, desde o Alvará de Construção da casa e o  desenho da cidade (veja-se o intenso debate realizado na Audiência Pública sobre o Plano Diretor de Torres),  até o valor dos nossos salários e se a saúde deve se manter pública e gratuita ou privatizada..

Bom lembrar a origem da palavra, lá nos gregos: Polis. Foram eles que no século V  AC trataram de juntar as pessoas que viviam em Atenas para indagar-lhes sobre as decisões de interesse público, como ir ou não ir à guerra. Na época, uma revolução, porque os soberanos detinham o monopólio absoluto do destino dos seus Reinos. De lá pra cá o processo democrático, com altos e baixos, foi se aperfeiçoando e tem seu momento máximo em dia de eleições.

Outra coisa importante na Política – e poucos se dão conta – é compreendê-la como uma jogo de interesses, não de pessoas, mas de grupos sociais. Importa, pois, saber quem defende o quê, em termos de partidos e protagonistas. Já era assim na Antiguidade. Quando o Grande Cesar derrubou a República de Roma, controlada pelos patrícios donos das terras e escravos ele o fez em nome de um Partido, denominado de Partido do Povo. Pagou caro. Foi assassinado por aqueles que pretendeu controlar.

E em Torres, será que podemos indagar sobre suas tendências político-ideológicas? Não se trata, aqui, de desvendar segredos profundos mas de especular um pouco a partir de resultados das últimas eleições. Torres, em primeiro lugar, nunca foi cenário de grandes embates políticos estaduais/nacionais, embora porta de entrada para um Estado que fez destes conflitos um cotidiano, tanto na luta pela posse da terra, em nome de Portugal, como, depois da República, em torno de projetos alternativos para a Sociedade. Nesta época, dividiu-se o Rio Grande do Sul em duas facções cujas reverberações ainda se fazem sentir: Progressistas, à esquerda, do lado republicano radical,  sob o comando de Júlio de Castilhos, arauto positivista dos chimangos, de quem descenderiam Getúlio Vargas, Jango, Brizola, Alceu Collares, Olivio Dutra e Tarso Genro, cada um a seu tempo, versus Liberais, à direita, cuja ascendência remonta a Silveira Martins, estadista do Império que comandou a Guerra Civil de 1893/5 e Assis Brasil, dissidente republicano que comandou a reedição deste conflito em 1925, chegando a nomes contemporâneos como J. Sartori, Eduardo Leite, Heinze e Lorenzoni. No centro da controvérsia, o papel do Estado como suporte do desenvolvimento e da cidadania.

Nossa pacata  cidade, marcada pelo trânsito de veranistas e sem um forte movimento social e cultural, ficou a reboque  dos acontecimentos e só depois de redemocratização, 1988, começou a desenvolver um protagonismo crítico  mais consistente. Fruto disto foi a eleição de uma Prefeita do PT, não por acaso Professora ligada ao CPERS, o segundo maior Sindicato da América Latina, em 2012. Mas foi uma vitória  episódica e sem maiores implicações,. Desde então, porém,  se percebe na cidade uma efervescência crítica  que tem assegurado entre um quarto e um terço dos votos para candidatos mais à esquerda. Basta ver o resultado das eleições para Presidente em 2018: Bolsonaro 70% dos votos válidos contra 30% para Haddad. Ainda assim, pode-se ver que esta é uma sociedade conservadora, de classe média, hoje com 31.518 eleitores, dos quais 20% idosos, sempre cautelosos, com bom nível médio de renda e excelente acesso a serviços básicos, baixo nível de pobreza – dos 39.064 (2020) habitantes, apenas 1.710 são beneficiários do Auxílio Brasil – e perto de 7.000 com curso superior. Índicadores das eleições para o Governo do RS em 2018, ano difícil para as esquerdas no Brasil,   confirmaram, aqui, sua boa  margem, demonstrando uma relativa estabilidade desta fatia no eleitorado.

Por isso mesmo, estranha o baixo desempenho do PT nas eleições locais de 2020, inferior a 5%, fazendo supor que tanto neste ano, quanto nas municipais, daqui a dois anos, aquela faixa não só se recomponha como até se revigore, voltando a ameaçar a velha elite dividida entre PP e MDB, às quais ainda podem se acrescentar novos protagonistas, aliados â forças conservadoras emergentes no Estado, tanto do PSDB de Eduardo Leite, quanto do PL, de Lorenzoni..




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