A semana que passou foi tomada pelas repercussões do Relatório Final da CPI/Covid. E tudo indica que se prolongará até que os festejos de Natal ocupem nossos corações. Já não há nada a dizer, entretanto, que não tenha sido profusamente registrado pela Mídia nos últimos seis meses: Resultado: 80 indiciados, inclusive o Presidente da República por 10 crimes, dentre eles o prosaico de charlatanismo por indicação imprópria de medicamento ineficaz á doença. Muitos, nem só governistas, estão insatisfeitos com o Relatório de Renan Calheiros. Plinio Arruda Sampaio Jr. Sintetizou em artigo no Portal A TERRA É REDONDA, dá razões para achá-lo brando e insuficiente. Outros, contudo, afirmam que a dose está excessiva,. Agora, é esperar as instruções processuais: Câmara dos Deputados, na difícil expectativa da abertura do Impeachment do Presidente e Mnistério Público, de cujas providências resultarão diversas ações judiciais. A pressão por resultados concretos, seja do Observatório do Senado, constituído justamente para acompanhar tais procedimentos, seja da Mídia e Opinião Pública, seja da Oposição, hoje bem mais ampla do que Partidos e suas bancadas, extravasando em organizações da sociedade civil, será grande. Poucos, entretanto, acreditam em sentenças rápidas. Assim como as águas das chuvas enchem as bacias hidrográficas que acabam desaguando no mar, a Política Nacional tende a acumular tensões para desaguar nas eleições gerais do ano que vem. Podem crer.
Uma questão, porém, emana da pandemia,: as narrativas. Outro dia, ouvindo um amigo, francamente bolsonarista, ele condenava veemente a China, os Governadores e Prefeitos, a Mídia, o Supremo, a CPI e outros demônios soltos por aí, afirmando que tudo não passa de interesse político. Ele insistia; – “Olha o resto do mundo, a pandemia tá em todo o lugar. Por que culpar o Presidente?”. Ocorre-me, então, aproveitando o ensejo, registrar, aqui as observações da Ex-presidente da Irlanda e advogada, Mary Robinson. Ela sinaliza quatro lições que deveríamos retirar desses tempos
a) O comportamento humano coletivo pode fazer diferença, porque foi isto que nos protegeu antes de termos as vacinas (…)
b- governos importam. Podemos ver isto nos países que conseguiram manejar bem a pandemia. (…) um número grande de países que enfrentaram bem a pandemia era liderado por mulheres (…)
c- a ciência faz muita diferença.
d- a compaixão faz diferença.
Nestes pontos, as diferenças entre o Brasil e vários outros países, nos quais o índice de mortes por habitante foi mínimo – o mais notável deles a Nova Zelândia- são imensas.
Nosso comportamento coletivo, em primeiro lugar, não foi exemplar. A pressão por abertura do comércio, das aulas e de aglomerações em festas irregulares o atestam. Aqui, ressalta o comportamento reprovável do Presidente sempre fazendo chacota sobre o uso de máscaras, das vacinas e do isolamento.
No tocante às Políticas Governamentais de enfrentamento á pandemia, nossa diferença é crucial. Apesar do apoio notável ás transferências de renda federal para Governos Estaduais e Municípios, bem como ás famílias, acompanhadas de incentivos à manutenção de empregos, o Presidente Bolsonaro botou tudo isso a perder ao não providenciar a compra de vacinas em tempo hábil. Perdeu-se.
E se perdeu por não acreditar na Ciência, preferindo tergiversar, com apoio num Gabinete Paralelo, contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde e suas próprias Agências, começando pelo conflito com o Ministro Luiz Mandetta.
Finalmente, faltou sensibilidade humana ao Presidente, sempre ironizando a doença, os infectados e familiares dos que não resistiram: Estariam fazendo mi-mi-mi com uma gripezinha.. E lá se foram 605 mil vidas sem um gesto sequer de humanidade daquele que nos deveria guiar, da majestade do cargo que ocupa, com razão e sensibilidade. Mostrou-se insensível, lembrando a máxima relativa ao bárbaro Gengis Kahn: “Esta é a forma cruel dele ser gentil”…
Da CPI , finalmente, não advirão apenas discutíveis processos judiciais. Já há um julgamento moral da opinião pública. Da gávea dos meu outono contemplo um ano de 2022 difícil para Jair Bolsonaro & Família. Felizmente, os que leem esta coluna, sobreviveram. À todos nós, brasileiros, a reflexão e a liberdade para, daqui a um ano, decidirmos o rumo a tomar.