OPINIÃO – ECONOMIA GAÚCHA RESISTE

Nesta semana, novos dados vieram á lume sobre nossa economia, divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Mostram que, graças à boa safra e ao mau ano anterior, o PIB RS cresceu surpreendentes 10,4% no ano passado, número duas vezes e meia superior ao do PIB Brasil".

18 de março de 2022

Muito se tem discutido, ultimamente, sobre o comportamento da economia gaúcha. Como em quase todos os assuntos da vida, há os pessimistas, que advogam uma perda de substância de nossas atividades produtivas e outros não tanto. Nos anos 60 do século passado, um jornalista maranhense, Franklin de Oliveira, publicou um série de artigos para o Jornal do Brasil que se transformaram em livro: “Rio Grande do Sul, um novo Nordeste”. Não tratava ele, aí,  da degradação ambiental do nosso mais importante bioma, o pampa, hoje preocupante,  responsável pela nossa tradição pecuária. Ele mostrava que éramos vítimas de relações desiguais com o centro industrializado do país, no rastro dos mesmos argumentos que haviam levado a Comissão Econômica para a América Latina, da ONU, a propor, a partir de 1949, o salto industrial do continente. Em resumo, produzíamos bens primários de boa qualidade e bons preços que eram mandados para o centro do país que, com isso, conseguiam levar a cabo um rápido processo de modernização industrial, com elevados níveis de acumulação e investimento, graças aos baixos salários de seus trabalhadores alimentados por nossos produtos bons e baratos. Esta mesma linha de raciocínio avançou sobre a década seguinte, dos anos 70, com trabalhos clássicos dos Economistas Cláudio Accurso, Paulo Renato Souza e Francisco Machado Carrion Jr. Embora eles falassem numa tendência à crise da economia gaúcha, já não prognosticavam qualquer desastre. Na verdade, neste tempo que atravessou a segunda metade do século passado, o Rio Grande do Sul continuou mantendo uma forte capacidade de produção agropecuária, simultânea à forte transformação industrial que fez do eixo Porto Alegre-Passo Fundo, passando por Caxias, o segundo maior polo metalmecânico do país. Ou seja, fomos diversificando nossa economia que se distribuiu sobre vários pontos do território ao ponto de compormos um PIB regional superior aos PIBs do Uruguai, Paraguai e Bolívia juntos, graças ao qual continuamos numa das principais posições no ranking nacional. Não obstante, os problemas relacionados ao financiamento do Governo Estadual acabaram contaminando as análises, levando a um crescente pessimismo sobre nossas forças, mormente no desastrado Governo Sartori 2014-18. No correr daquelas décadas, a análise da economia regional sofisticou-se, graças à notável qualificação dos economistas, paralela à constituição de um núcleo de profissionais na Fundação de Economia e Estatística que muito contribuíram para se compreender melhor não só a dinâmica inter-setorial da nossa economia, como suas relações com o exterior e o financiamento público. Relevaram, neste processo, os estudos que evidenciaram as perdas do Estado nas relações fiscais com a União, no balanço entre o que esta cobra e o que devolve ao Estado, num montante médio anual equivalente  ao valor da dívida pública do Governo, perdas da Lei Kandir, que impedem a cobrança de ICMS sobre produtos exportados e a insuficiência no processo de cobrança do ICMS.

Nesta semana, novos dados vieram á lume sobre nossa economia, divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Mostram que,  graças à boa safra e ao mau ano anterior, o PIB RS cresceu surpreendentes 10,4% no ano passado, número duas vezes e meia superior ao do PIB Brasil. Esta foi a melhor performance da série iniciada em 2002.A Agropecuária teve um crescimento de 67,5%)  sendo que,  só na soja, o crescimento foi de 80% –; a  Indústria cresceu 9,7% , chegando a participação de  6,7% do total no Brasil.

No cálculo per capita, o RS está 25% acima da média brasileira, com R$50.840,40 reais ao ano, correspondente à metade da renda per capita de Portugal, que tem a vantagem de ser um ponto turístico europeu e o benefício de receber volumosas divisas de seus naturais que trabalham fora do país.  Houve, com efeito, um aumento de 10% em relação a 2020,

Lamentavelmente, porém, os bons números não devem perdurar no ano atual. A seca inclemente comprometeu grande parte da safra e ainda por cima teremos pela frente um péssimo ano para o Brasil, com elevados juros, inflação incontrolável e virtual estagnação econômica. Vejamos como os distintos candidatos, ainda indefinidos, se proporão a enfrentar este desafio.




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