A decisão do Governo Federal em encerrar o apoio ás denominadas Escolas Cívicas, criadas pelo Governo Bolsonaro com o objetivo de desenvolver a disciplina e a consciência patriótica nos alunos, merece reflexão. Há até reações negativas de algumas famílias e setores militares com esta acertada decisão do atual Ministro da Educação, com apoio do Presidente Lula. Compreende-se: muitas famílias, sobretudo mais pobres, veem nesta inclinação militar do ensino uma segurança maior para seus filhos, muitas vezes expostos aos descaminhos da vida em suas desassistidas comunidades. Mas uma sociedade, mesmo que precise de instituições militares e que estas se pautem pela pedagogia de hierarquia e disciplina, não deve nem pode estendê-la ao conjunto do sistema escolar. Primeiro, porque é inadequada. Poder-se-ia entender o valor da disciplina no começo da Era Industrial, vez que as fábricas se assemelhavam a quartéis e exigiam dos operários uma severa obediência a regulamentos aos quais estes, oriundos do campo, não estavam habituados. Hoje, não só a indústria diminuiu seu peso na economia, fortemente terceirizada, como, internamente, substituiu as tarefas mais mecânicas por robôs…
Aos trabalhadores exige-se , cada vez mais, funções de gestão de complexas atividades num contexto permeado de direitos difusos. Mas se mudou a tecnologia, mudou também a sociedade, muito menos rígida do que há um século. Aos jovens, hoje, deve-se a formação não só para o mercado de trabalho – e este não se reduz à indústria – como para o exercício da cidadania. Vivemos sob o dilema de defender e aprofundar o Estado de Direito Democrático que funciona sob o império de uma Constituição e suas leis, sob o acicate das tensões derivadas da convivência com origens e convicções diferentes. Não se trata mais de formar pessoas para obedecer mas para tomar decisões numa sociedade complexa, principalmente como a brasileira, composta por etnias diversas e distintas orientações pessoais, todas respeitáveis. Finalmente, se a guerra, como dizia Churchill, o condutor civil da luta contra o nazi-fascismo na II Guerra Mundial, é assunto importante demais para ficar nas mãos de generais, a educação de uma Nação, hoje, não pode ficar entregue á uma concepção militar. Os próprios estabelecimentos de ensino para a carreira militar agora devem se dobrar aos imperativos do respeito à democracia.
Pedagogos, como Anísio Teixeira e Paulo Freire, este com obras traduzidas no mundo inteiro, e vários outros, aprofundaram o conhecimento sobre o processo educacional moderno, com base no avanço da Psicologia contemporânea – hoje alimentada pela Neurociência – e recomendam novos métodos, civis, para a Filosofia da Educação . Estes métodos também ensinam a importância da disciplina mas o fazem através das Artes, dos Esportes e da Ação Solidária. O denominado “escolanovismo”, aliás, implantado no Brasil depois da Revolução de 1930, em substituição aos parâmetros do ensino religioso que até então predominara no Brasil, teve, no seu tempo, idêntica inspiração, recolhidas, aliás, das experiências americanas.
Civismo, enfim, é uma virtude que se exerce no respeito à Lei e no amor aos compatriotas de todas as origens e convicções. Está no coração da Nação e não na ponta de um revólver, como monopólio de militares.. A isto, enfim, se propõe a educação civil: Formação de Cidadãos.