Há um personagem, tão fascinante quanto desprezível, na mitologia grega, Medeia, cuja origem estava numa distante colina nos confins do Mar, onde Jasão foi buscar o famoso velocino de ouro, um precioso pelego dourado, guarnecido per ferozes animais. Filha do Rei do lugar, Medeia, cujo nome pode tanto sugerir medo como mediação, ajudou o grande herói a pegar o velocino e com ele se fez ao mar, seguidos pela frota real do pai desconsolado. Aproximando-se do Argo, navio de Jasão, Medeia, não hesitou. Cortou seu irmão, junto a ela, em pedaços e jogou-os na direção da embarcação paterna. Quando o Rei viu a cabeça do filho boiando sobre as águas, exasperou-se e parou a perseguição. Mas Medeia teria que pagar caro pelo seu pecado. Não apenas deste, mas outro mais, quando, abandonada pelo marido, assassinou seus dois filhos. Passou a ser um símbolo da loucura que nos leva a atos inconcebíveis que acabam nos deixando irremediavelmente isolados. “Em meio a tantos perigos, resta-me eu”, grita ela no fundo de sua solidão.
Nesta semana, vimos, também, um tal James, negro, com 62 anos, ter seu dia de fúria pecaminosa num metrô de New York. Despejou sua frustração sobre inocentes indeterminados ferindo perto de 30 pessoas. Parou a cidade. Preso, estará irremediavelmente condenado à vida. Não sabemos direito o que leva alguém a tais atos; sabemos que, todos, temos um limite. E até chegar este limite devemos procurar, senão a difícil felicidade, momentos de distensão, lazer, um pouco de amor.
O corpo exige, o coração suplica, a cabeça procura. Daí porque, nestes tempos de tanta tensão e insegurança as pessoas procurem tanto fazer viagens, ver outras paisagens, distrair, fazendo do turismo um dos segmentos mais promissores da economia contemporânea. O sabath bíblico já tinha esta preocupação: Tendo feito o mundo em seis dias, Deus guardou o último como descanso. Uma propaganda de uma Agência de Turismo, na televisão, até chega a este paroxismo: “Viajar nos torna melhores!”.
………………………………………………………………………….
Não vamos a tanto. Mais diletantismo e menos filosofia. E por falar nisso, não há como não falar, nesta semana, do balonismo, este sonho de “balonautas”. Mas, felizmente, não raptarão nenhuma donzela…O 32º. Festival do Balonismo em Torres, que abriu dia 14, é um colírio para os olhos, depois do tormento da pandemia, das dificuldades econômicas da conjuntura, das polêmicas amargas e inevitáveis das campanhas eleitorais – e já estamos em meio a deste ano. Cerca de 60 mil pessoas são esperadas em Torres nestes dias. Veem alegrar as almas…
Trata-se do maior festival de balonismo da América Latina. Cinco dias de competições emocionantes, shows inesquecíveis e muita diversão. O Festival contará com competições de balões esportivos em diversas provas e com apresentações de balões em formatos inusitados, que farão a festa ainda mais divertida e colorida. Não esquecendo, é claro, do tão aguardado Night Glow, onde todos os pilotos juntam-se e iluminam a noite com suas máquinas acesas pelas chamas dos maçaricos.
Tudo começou, como diz a Carla Horn, que acompanha os balões em Torres desde o início, meio por acaso. Ela me mostra a página do Dr.Google: “No ano de 1989 surgiu a idéia de trazer alguns balões para a abertura de um outro festival que era realizado no município, o sucesso foi tão grande que, a partir do ano seguinte, surgia o I Festival Sulbrasileiro de Balonismo. O I Festival de Balonismo de Torres contou com a presença de dez balões. O evento, que era inédito no sul do Brasil teve sua primeira edição no mês de Outubro, mas os ventos não foram muito favoráveis e impediram a realização de algumas provas.
A segunda edição em 1990, foi transferida para o mês de abril, mês com ótimas condições climáticas para o voo. Com quinze balões e centenas de pessoas prestigiando o evento, e o mês de abril passou a ser o mês oficial do festival até os dias de hoje. Esperado pelos moradores da cidade, que praticamente vivem do turismo.
Esta praia tornou-se ao longo destes anos a Capital Brasileira do Balonismo, e recebe cerca de 100.000 pessoas por ano no Parque de Balonismo no período de realização do Festival.”
Hoje temos balões, balonistas e balonismo na cidade, o ano inteiro. Como o surf, vai se tornando uma marca da cidade que aguarda a aprovação no Congresso Nacional de um Projeto de Lei que faz de Torres a Capital Brasileira do Balonismo. No Festival deste ano haverá muita música, poesia, jogos e, sobretudo, encontros. Além do veraneio, a cidade vai alongando sua vocação turística, agora não pelo dedo de Deus sobre a Natureza prodigiosa, mas pela inteligência do sua gente. Outros festivais, outras atividades, outros pontos de encontro coletivo deverão, ainda serem inventados para que Torres se torna cada vez mais encantandora e próspero. Dentre elas, mais atividades culturais, como recomendava Ruy Rubem Ruschel, baluarte dos estudos históricos na cidade e da literatura local. E por que não, com urgência, uma Casa de Cultura, com boa capacidade para eventos, congressos, uma boa sala de cinema e atos, uma Biblioteca com acesso à Internet e bons espaços para nossa juventude?