Quase nove meses do novo Governo e já se pode dizer que Lula III vai indo bem, obrigado. Em recente entrevista ao jornalista Breno Altman, Samuel Pessoa, economista avesso `a esquerda, ativo membro da equipe econômica do ex-Presidente Bolsonaro, reconheceu que as medidas do Ministro Haddad, a quem deu uma nota 9, mesmo com uma certa ‘inconsistência’ do Arcabouço Fiscal, estão corretas. Ao governo deu nota de aprovação 7,5. Com efeito, as últimas estimativas dão uma taxa do crescimento do 3,2% ao PIB deste ano, dez vezes superior à do começo do ano. O desemprego está caindo, os salários melhorando, a inflação sob controle e as vendas de fim de ano prometendo uma retomada aos melhores níveis de anos anteriores. Ou seja, é ,o Brasil voltando a crescer. Não obstante, o cenário externo não é nada promissor, mercê do aperto monetário frente ao recrudescimento da inflação, embora o anterior pessimismo quanto ao crescimento chinês tenha arrefecido. O PIB mundial (OCDE) deverá crescer apenas 3%, puxado pela economia da India 6,3%, da China 5,1%. Estados Unidos não vai muito bem – 2,2% e países europeus, nem isso. A Alemanha, aliás, que é o carro chefe da economia europeia está em recessão, isto é, com dois trimestres no negativo. Atrás dela prenuncia-se o pior para os demais países europeus
“Durante décadas a Alemanha foi a menina dos olhos da economia europeia. Seus pilares eram uma grande estabilidade monetária com um mínimo de inflação, juros baixos, um sistema de transporte muito eficiente, um padrão de consumo interno alto e estável, uma pauta de exportações e importações de alto padrão e ‘last but not least’, um equilíbrio político de espírito “conservador ilustrado” tido como inabalável, com a alternância ou combinação entre social-democratas (SPD), verdes (Bündnis 90/Die Grúnen) e as uniões cristãs, a social da Baviera (CSU) e a democrata (CDU) do resto do país, além da presença eventual do liberal FDP….
Com tais predicados, o governo de Berlim tornou-se o fiel da balança da União Europeia e do continente como um todo, exercendo uma parceria sobretudo com Paris. … Ela e Nicolas Sarkozy tiveram uma influencia decisiva para impedir que o estilo histriônico do italiano Silvio Berlusconi se tornasse a marca principal da política europeia. Ao contrário, Angela Merkel transformou a austeridade – para além da fiscal – no brasão político mais importante da Europa no começo do século XXI. Ao mesmo tempo, a Alemanha tornou-se o carro-chefe da economia continental, graças à sua variada pauta de importações e exportações.
Dos dez países que mais importam da Alemanha, oito são europeus: os outros dois são a China e os Estados Unidos. Os mesmos números e as duas exceções se repetem na coluna das exportações. A economia continental europeia está presa à alemã como um comboio na locomotiva, ou… um peixe no anzol.
De repente, não mais que de repente, este belo edifício mostrou frinchas e rachaduras nos alicerces, e hoje ameaça desequilibrar-se, arrastando o continente inteiro. A inflação subiu meteoricamente, de quase 0% para quase 10% ao ano, em média: no setor de alimentos, 20% e na energia, 40%. A demanda interna caiu, a externa adernou perigosamente com as oscilações da economia chinesa e a pressão protecionista dos Estados Unidos. A indústria alemã, carro-chefe das exportações e importações, sobretudo de veículos, autopeças e acessórios, de produtos farmacêuticos, artefatos elétricos, aviões e helicópteros, além de outros, entrou em depressão. No começo de 2023 o FMI previu uma retração de 0,1% na economia do país. Depois aumentou-a para 0,2% e agora a previsão está em 0,4% negativos”. A economia ocidental, portanto, paga um preço alto ao ser arrastada `a sustentação da política externa americana de apoio à Ucrânia contra a invasão da Rússia.
O Brasil, entretanto, ao se equilibrar diante do conflito Ucrania/Rússia, tem conseguido receber fertilizantes necessários ao novo boom do agrobusiness e vai superando, gradativamente, os desequilíbrios provocados tanto pela pandemia, quanto pelos erros da administração passada. Prova-o o calor da recepção e os aplausos a Lula em seu pronunciamento na Assembleia Geral da ONU. O problema é que, como os países avançados estão sob uma crise sem precedentes, isso acabará impactando todo o Sul Global, inclusive o Brasil. Ou seja, nas palavras de Antônio Gutierres, Secretário Geral da ONU, que associa a crise às mudanças climáticas : “ A humanidade abriu as portas do inferno”.