A economia de mercado, por definição, opera com base em trocas e as trocas se fizeram, ao longo dos séculos, com o recurso a uma mercadoria capaz de funcionar como denominador comum de valores: Primeiro conchas, depois o sal – de onde os “salários”- , mais tarde o boi, por fim os metais: prata e ouro. Neste último caso, a mercadoria de referência tinha a vantagem, além de funcionar como meio de troca, também como reserva de valor, pois não se degradava ao longo do tempo. Cumpriu, aliás, um importante papel para o enriquecimento de certas pessoas e grupos sociais. Com o advento dos Modernos Estados Nacionais os metais foram substituídos pelo papel moeda, através do compromisso dos Governos de honrarem “em ouro” aquilo que estes papeis supunham representar. Com o tempo, porém, este lastro foi desaparecendo.
Em 1971 o Presidente Nixon, por exemplo, desvinculou o dólar do ouro… No Brasil, o Plano Real, de FHC, também o desvinculou. Claro que o poder de emissão deu um poder imenso aos Estados, embora os descuidos com a quantidade de moeda derramado num mercado restrito pudesse levar à inevitável desvalorização dela. Daí a preocupação de certos economistas, mais ortodoxos, à direita, até, hoje com os Gastos Governamentais. Mais ainda quando os déficits governamentais começaram a ser preenchidos com a emissão de Títulos Governamentais, vendidos ao mercado sob o pagamento de uma certa remuneração compensatória à “poupança” dos “investidores”. Mercado, aliás, e investidores são palavras que se referem, cada vez mais, ao sistema financeiro. Tudo isso tornou-se mais complexo ainda, com a criação de Bancos como lugares onde aqueles que detêm algum recurso líquido, seja em decorrência de salários ou outros rendimentos, seja em decorrência da venda de um bem, depositam, por segurança ou comodidade, estes recursos. Estes Bancos acabam cumprindo um papel significativo no sistema econômico, além de guardar dinheiros:. Intermediam pagamentos, financiam operações de crédito, mobilizam capitais para investimentos. Bancos fazem tudo isso multiplicando os recursos depositados emprestando-os a terceiros mediante uma pequena retenção para efeitos de segurança, enquanto aplica seus lucros e parte dos depósitos num lastro de ativos que lhes dá certa garantia patrimonial. Economistas chamam este processo como de criação de “moeda escritural”. Tanto que, se de uma hora pra outra. todos os depositantes correrem aos caixas dos bancos para pegar seu dinheiro depositado, eles não têm como pagar imediatamente. Isso posto, o valor de suas ações em Bolsa, eis que são normalmente empresas abertas, despenca e entram em colapso. Se este colapso se irradiar, teremos uma crise de proporções gigantescas.
O mundo financeiro, que já é fictício, eis que fundado em moedas sem lastro e em operações sem conexão com o mundo real da economia, desaba. Isso aconteceu em outubro de 1929, que arrastou vários países para uma crise sem precedentes, inclusive Estados Unidos. Outros mergulharam em profunda crise política que acabou na II Guerra Mundial. Mais recentemente, em 2008 e 2009, a crise se repetiu e repercutiu no mundo inteiro, com reflexos até hoje, exigindo vultosos recursos governamentais para que a economia não viesse abaixo. De lá para cá, alguns fatores do festim financeiro especulativo só o acentuou pois o imenso poder do segmento financeiro tem conseguido impedir a intervenção governamental corretiva e limitadora em seus mercados.
A fórmula da governança mundial hoje, consagrada pelo chamado CONSENSO DE WASHINGTON é : “O Governo não é solução, é problema”, ditado pelo ex-Presidente Reagan há 40 anos. Com isso, os mercados financeiros e o sistema bancário que lhe corresponde ficaram cada vez mais soltos e voláteis. A queda do BANCO DO SILICON VALLEY – e mais outros dois bancos -, já trouxe prejuízos imensos à banca europeia, inclusive CREDIT SUISSE. Já abalada por uma inflação elevada que intensifica as pressões sociais, a União Europeia vê sua moeda , o euro, desabar e corre o risco de entrar em colapso. Não por acaso, Reino Unidos enfrenta uma vigorosa greve geral, que potenciou a greve do setor de saúde e a França se mobiliza de novo em busca da recuperação do poder de compra dos trabalhadores. Tudo muito confuso. Perigoso.