OPINIÃO – O Caso Ana Moser

Toda solidariedade a Ana Moser, ex-Ministra do Esporte, não só pela sua demissão da pasta como pelas circunstâncias que a cercaram. 

15 de setembro de 2023

Toda solidariedade a Ana Moser, ex-Ministra do Esporte, não só pela sua demissão da pasta como pelas circunstâncias que a cercaram.  Ela é uma pessoa fantástica, com clara inclinação à esquerda, linha ideológica hegemônica do Governo Lula, ligada a todo universo do Esporte e vinha fazendo um trabalho exemplar. Foi substituída por um deputado do Centrão, com o que o Presidente Lula alcança 39 Ministérios e tenta gerenciar 16 Partidos Políticos dentro do seu Governo, sem perder aquele mínimo de identidade programática interna. Trata-se de assegurar, não só governabilidade a seu próprio mandato, mas, sobretudo, estabilidade à conjuntura. Tudo indica que está conseguindo tudo isso, deixando-nos, porém, o travo amargo da saída de uma extraordinária mulher em sua equipe. Talvez, nos próximos dias, ainda tenhamos que testemunhar a perda de mais um lugar feminino na alta cúpula dos Poderes. Já ninguém duvida que a vaga de Rosa Weber no STF será ocupada por um homem. Branco.

Deve-se compreender, contudo, diante disso, que Política de Estado, se faz no espaço próprio da Política, por políticos, através dos Partidos. Se alguém não  gosta dos políticos e dos Partidos, paciência, é um direito seu. Ainda assim, poderá participar da vida pública numa ONG, numa Associação de Pais e Mestres da Escola dos filhos ou, como eleitor,  dos Conselhos Municipais que acompanham a vida das Administrações Municipais.  Ou faça trabalho voluntário. Mas saiba que estas alternativas não o credenciam para a vida política institucional, mesmo sendo uma celebridade. A Política está em todo lugar, todos os momentos da vida, mas quando  organizada pelo Estado, em relativa oposição `a Sociedade Civil,  não é , sequer, um campo de méritos pessoais, mas de disputa eminentemente política, mesmo  quando sejam exigidos requisitos técnicos, como o preenchimento de vagas nas Cortes de Justiça. Não há concurso para alguém se tornar Ministro de Estado ou das Cortes Superiores de Justiça. Gostemos ou não, estas são as regras. Hoje, aliás,  a extrema direita se compraz em denunciar tudo isso apelando diretamente às massas, em busca de uma representação primordial direta, dita DEMOCRACIA DIGITAL,  mas o faz com uma intervenção arbitrária nas Redes, no fundo, comandada, como explica o livro ENGENHEIROS DO CAOS, por pequenos grupos de interesse. Modelo muito mais autoritário e menos recomendável do que os sistemas parlamentares existentes.

O resultado são as mobilizações manipuladas das coloridas Primaveras ao longo do mundo ou as barbáries das ocupações Capitólio, em 2022 e em Brasília, no 8 de janeiro.  Claro que há sempre espaço na gerência governamental para casos especiais – especialistas , notório saber ou efetiva liderança social -, mas essa não é a regra. É exceção, sempre dependente das condições políticas subjacentes. Maior preocupação deveríamos ter, nestes dias, com a tramitação de novas regras eleitorais no Congresso. Na sombra da delação premiada do Ajudante de Ordens de Bolsonaro, urdem os parlamentares um retrocesso inominável na questão eleitoral. Além de anistiar, uma vez mais, os Partidos por malfeitos em eleições passadas, quando semearam laranjais de falsos candidatos com o mero intuito de trapacear a cota de candidatos, o novo regramento aponta para a eternização dos atuais ocupantes de mandatos numa estranha e pouco recomendável aliança da esquerda, direita e Centrão.

Aqui, portanto, o registro tanto pela saída de Ana Moser, mas, principalmente de um cenário que vai congelando o perverso perfil identitário das funções públicas no Brasil: Homens brancos heterossexuais.




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