OPINIÃO – O desafio no governo Lula III

O dia de quarta-feira (31/05), em Brasília, foi de grande tensão, não por ameaça de golpe nem quebradeira, mas pelo confronto entre os Poderes Executivo e Legislativo, em torno da aprovação da Medida Provisória da reorganização do Governo Federal, após 4 derrotas de Lula sobre temas importantes, um deles, o Marco Temporal, que aponta, ainda, para um embate da Câmara dos Deputados com o Supremo.

2 de junho de 2023

Meu amigo Pedro Pinho, atual Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, no Rio de Janeiro, me lembrou hoje que Marco Túlio Cícero, o grande orador romano, político e filósofo, qualificou a História como Mestra da Vida; porém não o fez para que ela entrasse no Templo dos Deuses, mas para fornecer exemplos, auxiliar, com o já ocorrido, as decisões para o futuro. Digo isso a propósito da conjuntura que atravessamos.

O dia de quarta-feira (31/05), em Brasília, foi de grande tensão, não por ameaça de golpe nem quebradeira, mas pelo confronto entre os Poderes Executivo e Legislativo, em torno da aprovação da Medida Provisória da reorganização do Governo Federal, após 4 derrotas de Lula sobre temas importantes, um deles, o Marco Temporal, que aponta, ainda, para um embate da Câmara dos Deputados com o Supremo. O projeto governamental acabou aprovado, mas a um preço alto em emendas parlamentares e incertezas sobre o futuro da governabilidade. Analistas culpam o Governo por falta de articulação política e, sobretudo, ausência de Lula neste processo. Na verdade, embora haja, sim, questões pontuais e até pessoais, a crise expressa, de um lado uma mudança estrutural nos tempos vividos nos últimos vinte anos, nos quais Lula esteve afastado do Poder, que criaram um novo espaço público no mundo, as Redes Sociais;  e de outro, no fortalecimento da Câmara no Governo Bolsonaro, que acabou instituindo um regime de “parlamentarismo de coalizão” que garroteia o Planalto. Lula não é Bolsonaro. Resiste e quer de volta o Presidencialismo, por duas vezes preferido pelo eleitor brasileiro em plebiscito, ainda que permeado por emendas parlamentares.

Vejamos algumas destas mudanças históricas. No plano internacional o mundo vivia, em 2003,  os efeitos do primeiro impacto negativo sobre a Pax Americana instaurada pela queda da União Soviética: o atentado às Torres Gêmeas em Nova York, 2001, em cuja rastro semeia-se a desastrosa intervenção militar sobre Iraque e Líbia, comprometendo a imagem libertária herdada da vitória na II Guerra Mundial Os Estados Unidos, no entanto, ainda pontificam sobre a  globalização glamourizada. Hoje vivemos sob o impacto de mudanças radicais na forma de produzir, com inteligência artificial e de comunicar, com o advento da Internet, sob nova configuração geoeconômica e geopolítica no mundo pelo acirramento da  concorrência entre vários protagonistas mundiais, dentre eles potências nucleares e países emergentes com ambições próprias, tudo sob o acicate da transição energética. .

Internamente, o Brasil passou do idílio democrático da redemocratização sob os auspícios da Constituinte, no qual um jovem Presidente  oriundo da classe trabalhadora e com o apoio de um Movimento Sindical ativo, das Comunidades de Base da Igreja pré Paulo II e da Intelligenza  surfava os benefícios de uma era de bons preços de commodities garantindo-lhe, praticamente sem oposição,  os recursos para uma gestão admirável: Lula I e Lula II, de 2003 a 2010. Saiu com 85% de aprovação. Hoje, mercê das mudanças estruturais no mundo, o mesmo operário, vinte anos mais velho, vive uma conjuntura internacional tensa e pouco favorável às nossas contas, associada a um período de inédito crescimento de uma direita furibunda e retrógrada, a ponto de rezar pela volta do regime militar, com assento no Congresso, em alguns Estados, nas Igrejas Pentecostais, todas com grande versatilidade nas Redes Sociais redistribuídas numa infinidade de diuturnos meios de comunicação espalhados por todo o país Tudo mudou. E exige mais além do que a reedição do passado, morada dos deuses. E muito mais do que melhor articulação e boas relações. Trata-se de um desafio histórico. Difícil mas não impossível…




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