OPINIÃO – O ETERNO RETORNO

As sociedades, conquanto não sejam orgânicas como os seres vivos, parece que também tendem à homeostase. Equilíbrio.

17 de dezembro de 2022

Meu amigo Pedro Pinho, Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, no Rio de Janeiro –  um dos últimos defensores do nacionalismo como bandeira para o que denomina “Consenso de Brasília”, um Programa  ideal entre os Consensos e Dissensos de Washington, estes últimos ainda dispersos por Pequim, Moscou, Irã e Cuba mas francamente antiamericanos – me lembrou o que segue:

“Em 29 de março de 1549 Tomé de Sousa chegou a Salvador, atual capital do estado da Bahia. Trazia com ele o Regimento Régio de 17 de dezembro de 1548, com orientações precisas sobre a organização do poder público na Colônia: fazenda, justiça e defesa. Também se fazia acompanhar de aproximadamente 1000 homens (soldados, profissionais, funcionários públicos) e seis jesuítas, chefiados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Duas lições deveriam os entrevistadores televisivos tirar do fato que vivenciavam, se tivessem um resquício patriótico, se interessassem em ampliar os horizontes intelectuais, e, fundamental para sua profissão, conhecessem a história do Brasil. Primeiro, que a organização estabelecida no Portugal quinhentista durou quase quatro séculos. Toda estrutura de governo que teve o Brasil, entre o 1º governador-geral e o Governo Provisório da Revolução de 1930, fundou-se no tripé: defesa, segurança e finanças.”

Curiosamente, o Presidente eleito e diplomado Lula também começou as indicações do seu terceiro governo por este mesmo tripé: Haddad para a Fazenda, Flávio Dino para a Justiça, a qual está afeta a Polícia Federal e José Múcio, um obscuro mas articulado ex deputado federal, conservador, para o Ministério da Defesa. Como dizia o Príncipe Salinas, personagem antológico de um filme do Diretor italiano Luchino  Visconti – “O Leopardo”-,  pilhado colocando suas fichas tanto na manutenção da Monarquia, quanto na República emergente em seu país no século XIX: “As coisas têm que mudar para ficar como estão…” . Ou, como prefere o dito popular: “É no andar da carroça que as abóboras se ajeitam”. Nada mais republicano.

As sociedades, conquanto não sejam orgânicas como os seres vivos, parece que também tendem à homeostase. Equilíbrio. A vitória de Lula não só surpreendeu muita gente, começando pelo seu adversário, o Presidente Bolsonaro, ainda meio catatônico em seu silêncio, como os levou à indignação militante. Saíram às ruas em manifestações, infestaram as Redes conclamando à revolta, obstruíram estradas e até se penduraram em paredes de quartéis rogando por “intervenção” militar, federal, até sideral. No dia 12 (dezembro/22) foram às vias de fato em Brasília, promovendo incêndios em veículos, atacando delegacia de polícia e tentando ocupar a sede da Polícia Federal. Foi o clímax da “resistência” ao resultado das urnas que naquele mesmo dia levavam à diplomação  Lula e seu vice Alckmin pelo Tribunal Superior Eleitoral. Dois dias depois começou-se a sentir o longo braço da Lei e da Ordem, tal como, aliás, havia advertido o Presidente deste Tribunal, Ministro Alexandre de Moraes, e já se anunciam prisões de bolsonaristas extremados em vários Estados. Paira, ainda, sobre o Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, suspeita, resultado da denúncia feita à Imprensa por um policial de serviço no Palácio do Planalto, de estar envolvido na trama. Tudo isso, enfim, parece sugerir ao futuro Presidente muita cautela. E nada mais cauteloso do que trilhar neste terreno minado com a sabedoria centenária da velha fórmula do Poder: Defesa, Segurança, Finanças. Os jesuítas, enfim, parece não fazerem mais falta.

Cairá muita água neste verão. Os reservatórios voltarão a se encher. Os poetas continuarão a contar estrelas e a vida seguirá seu curso. Depois da tempestade, a bonança. O eterno retorno ao equilíbrio que, nas democracias republicanas, repousa sobre a Lei e as Instituições. “Duela a quién duela”…




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