OPINIÃO – Os segredos da Realidade

"Tenho, aqui, falado sobre as várias dimensões da realidade social . Ora palpável, ora virtual, sempre implacável, às vezes, memorável. Os estudiosos, porém, há muito tempo sabem que nem tudo que 'a-parece' é o que é".

7 de setembro de 2024

Tenho, aqui, falado sobre as várias dimensões da realidade social . Ora palpável, ora virtual, sempre implacável, às vezes, memorável. Os estudiosos, porém, há muito tempo sabem que nem tudo que “a-parece” é o que é.

Um grande teólogo da Idade Média, Pedro Abelardo, mais famoso pelo seu amor por Heloísa do que por suas ideias, professor de Dialética, já escrevia naquela época  “Sic et Non“, título de um de seus livros, mostrando que tudo “é e não é”: “A opinião de Abelardo de que a dialética é o único caminho da verdade teve o efeito benéfico, na época, de desfazer preconceitos e encorajar o pensamento livre. Para ele nada, exceto as Escrituras, é infalível; mesmo os apóstolos e os padres são passíveis de erro.” Também já falei outro dia sobre as aparências que nos enganam. Estudiosos – e aqui me refiro aos acadêmicos das Ciências Humanas – , enfim, também, nunca chegaram a um acordo sobre o que é a dita realidade. Há de um lado conservadores, que confiam na efetividade do “fato social”, esmerando-se  em medi-lo; há os marxistas, para os quais a realidade vem envolta pela ideologia dominante; e há os idealistas, inspirados num tal de Max Weber, inclinados ao culturalismo. Para mim, heteroxo convicto, uma coisa é certa: Nascemos escravos de uma língua, de uma geografia nacional e humana e de um tempo histórico, e só com um verdadeiro calvário crítico conseguimos ultrapassar esses limites. Como economista, então, me guio por Bertrand Russel, um dos gênios do Século XX. Dizia ele: “A economia como uma ciência separada é irrealista e enganosa, se tomada como um guia na prática. É um elemento – um elemento muito importante, é verdade – de um estudo mais amplo, a ciência do poder”. E, então, outro estudioso, o completou, como se depreende do artigo do Professor Luiz G. Belluzzo recentemente publicado na Carta Capital: Entre os poderes da economia, brilha de forma intensa o Poder Performático da Linguagem. “Apoiado no linguista John Austen, Christian Marazzi em seu livro ‘Capitale e Linguaggio’ cuida das marchas e contramarchas da finança dos últimos 40 anos. Marazzi sublinha a natureza performativa da linguagem do dinheiro e dos mercados financeiros, indicando que a linguagem dos mercados financeiros contemporâneos não descreve e muito menos “analisa objetivamente” um determinado estado de coisas, mas produz imediatamente significados “reais”.

Tudo isso para dizer que tudo em Economia é controverso. Não há essa de “dizem os economistas”, com cujo argumento muitos jornalistas procuram justificar com análises supostamente científicas os gordos salários que recebem em consequência das vultosas contribuições que seus veículos recebem do “mercado”. A propósito, conseguiram, de tanto bater na tecla identificar “mercado financeiro” com Mercado, como instrumento de regulação da economia como um todo. Assim, o feirante de sábado fica equiparado, ideologicamente, ao dono do Bradesco…Oressa!

Fico, pois, com minha visão atual da Economia Brasileira sob a égide do Lula III: Vai bem, obrigado. Cresceu 1,4% no segundo trimestre, graças ao aumento da massa salarial e dos investimentos privados, projetando um aumento neste ano de 3% no PIB, a estrutura de oferta de bens e serviços, mesmo em produtos de subsistência, tem respondido bem à demanda,  tem uma âncora cambial em reservas em torno de US$ 370 bilhões, o que lhe dá folga para administrar eventuais desequilíbrios, além de estar com um fluxo positivo de entrada de dólares, está na iminência de implantar uma Reforma Tributária que também trará benefícios a produtores e consumidores. Ah, mas e a dívida pública? Está realmente muito alta, em torno de R$ 8 trilhões, a um custo, dado os juros altos, de R$ 800 bilhões, metade dos quais abocanhado por um número de bilionários que não chega a 1 milhão de brasileiros – 0,5% da população. Que fazer? Crescer e ir diminuindo os juros. Há também o problema da pobreza: 120 milhões de brasileiros ganham até 1 salário mínimo. Que fazer? Crescer e ir dividindo o bolo de forma mais equitativa.

E tenho dito. Na minha dicção: Progressista.




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