OPINIÃO – Plano diretor e o sistema de turismo em Torres

O Plano Diretor é (ou deveria ser) uma “rota”, um caminho, uma direção, para o crescimento e desenvolvimento de uma cidade de forma controlada nos seus diversos aspectos. E como é para uma cidade, todos os envolvidos devem participar na sua elaboração.

27 de março de 2023

O Plano Diretor é (ou deveria ser) uma “rota”, um caminho, uma direção, para o crescimento e desenvolvimento de uma cidade de forma controlada nos seus diversos aspectos. E como é para uma cidade, todos os envolvidos devem participar na sua elaboração.

Acontece que há muitos interesses envolvidos na criação deste caminho, entre eles, entes com grande poder financeiro. Ao longo dos anos, aqui em Torres, esses entes se “contentavam” com outras áreas da cidade, mas sempre de olho no “filé mignon”, a zona 8. Estes entes foram se organizando, muito bem por sinal, ao longo desse tempo de espera para a liberação de construções mais altas na zona 8, porém não esperavam por uma reação, também organizada, do outro lado, ou seja, dos que não queriam a liberação da altura de prédios na zona 8.

Agora eles culpam uma ONG por não deixar a cidade crescer ou se desenvolver. Não, não é culpa da ONG, a culpa é de quem propõe um crescimento com base em ganancias corporativas que simplificam um prejuízo econômico, turístico, ambiental e social, a metros ou centímetros de altura.

Não existe só esta ONG querendo a proibição do aumento da altura dos prédios na zona 8, muitas outras organizações e pessoas estão engajadas nesta empreitada e vão, cada uma a seu tempo, exercer essa forma de cidadania barrando este tipo de ação nociva à cidade.

A minha defesa à cidade é considerando parte da minha formação, Turismo e Administração, e desta forma eu presto minha solidariedade e contribuo para tentar mudar a visão daqueles iludidos pelo “canto da sereia” do crescimento e desenvolvimento sem sustentabilidade.

Qualquer cidade eminentemente turística sempre conviveu com o binômio Progresso e Preservação. Ou seja, se quer um crescimento, desenvolvimento mas com o cuidado de preservar o ambiente, o patrimônio cultural, a paisagem, a sociedade e a própria economia local. E é nesse ponto que há divergências graves nas forças que governam a cidade.

De tempos em tempos há mudanças nestas forças, ora com uma tendência maior para a preservação, ora para o progresso a qualquer custo. Falando do aspecto do turismo, que é a principal vocação da cidade (embora muitos desavisados achem que não é mais), é óbvio que a cidade precisa manter seus principais aspectos, atrativos e produtos turísticos intactos e em pleno funcionamento com o intuito de manter a atração de turistas, veranistas e visitantes.

Para a Organização Mundial do Turismo – OMT (2004), o desenvolvimento sustentável do turismo é um processo contínuo que requer monitoramento constante dos impactos que a atividade pode causar, de modo que, com ações de manejo, seja possível minimizar os impactos negativos e maximizar os benefícios potenciais, introduzindo medidas preventivas ou de correção de rumos.

Esse monitoramento deve ser feito por todos os integrantes deste sistema e não apenas pelos governantes. Não monitoradas, todas as ações danosas ao ambiente (ecológico/natural, cultural, social) refletirão negativamente sobre a economia local. Pode não aparecer a curto prazo, mas a médio e longo prazo certamente serão sentidas, e esses danos poderão ser irreversíveis.

Não é apenas a construção de prédios mais altos na Zona 8, a extrapolação das alturas nas outras zonas e até nas praias do Sul, são também prejudiciais ao turismo local. Alteração da paisagem, sombra na principal praia, uso de vidros espelhados nas construções, aumento do volume de esgoto, aumento do uso de água e luz, tudo isso influenciará negativamente no turismo na cidade.

Pode parecer exagero, mas se não houver este controle, vai faltar água, luz, haverá excesso de esgoto (que poderá parar no rio, na lagoa e no mar), a cidade ficará mais quente. Tudo isso irá refletir negativamente na vida dos moradores locais e será estendido para os visitantes (turistas e veranistas). Na sequência dos fatos, eles, os turistas/visitantes, poderão deixar de vir, poderão escolher outros destinos, deixarão de usar os equipamentos turísticos da cidade (hotéis, restaurantes, lojas e serviços). Os veranistas poderão escolher outros lugares para veranear e os possíveis compradores de imóveis, irão procurar melhores destinos para investir seu dinheiro, tornando-se veranistas em outros lugares.

E o ciclo se fecha, o sistema se realimenta. E neste caso, todos perdem.

 

Fonte: Beni, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo.

 

 




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