OPINIÃO – Pobres são os que mais sofrem em Torres

Quem mora no interior e depende do transporte coletivo convive com os mesmos problemas dos bairros mais distantes do centro de Torres.

1 de junho de 2024

Quem mora no interior e depende do transporte coletivo convive com os mesmos problemas dos bairros mais distantes do centro de Torres. É o caso de Tamires Santos da Silva, 27 anos, que, assim como Rosane Maria, veem no sistema de transporte uma questão deixada de lado pelo governo municipal. “Eu moro no alto da João XXIII. Todos os dias para poder chegar no horário do trabalho tenho que acordar muito mais cedo para descer e chegar a tempo de pegar o ônibus, que não vem até aqui”, diz.

Se nas periferias não têm ônibus, o que dizer dos serviços de água e esgoto? “Aqui só temos água que vem da ponteira. Dependemos da eletricidade para abastecer a caixa d’água”, explica Marisa Nascimento, de 62 anos, moradora da comunidade da Pirataba.

Em Torres, mais de 30% das residências não possuem tratamento de esgoto. O novo marco legal do saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado por Bolsonaro, visa à privatização completa desses serviços, inserindo a lógica do lucro como principal fator para a oferta de água e esgoto. Na prática, acho que as tarifas ficarão mais caras e apenas as regiões mais rentáveis serão atendidas, ou seja, os bairros ricos e os centros das cidades.

Outro aspecto desse problema se revela quando da temporada de chuvas. Todos os anos, centenas de pessoas são atingidas e muitas ficam desabrigadas sempre que chove mais forte. “Ninguém vem aqui, ninguém se preocupa com a casa que quebrou, os móveis perdidos, ninguém se preocupa com as pessoas. Na hora que chover de novo, vamos ver. Me preocupo com as chuvas fortes do inverno”, desabafa Joyce, que teve vários pertences destruídos pela última enchente.

“Tragédia natural”, dizem governantes e a grande imprensa. Mas a verdade é que as chuvas só são uma ameaça à vida dos moradores das cidades devido à falta de planejamento urbano e investimento em obras e ações de prevenção. A isso se soma a falta de uma política urbana e habitacional que faz com que muitas pessoas morram por estarem em áreas de risco. A falta de áreas verdes e parques na maior parte das cidades, principalmente na periferia, também dificulta o escoamento da água.

Torres ainda tem comunidade onde famílias estão há anos sem posto de saúde, nunca tiveram água encanada nem ruas calçadas, saneamento básico, ônibus, saúde da família… Têm moradores que dizem existe caos no atendimento porque veem como precarizada a rede municipal de saúde. Em nível federal, o Governo Lula tem sido um verdadeiro desastre na gestão das enchentes no Rio Grande do Sul, não enviando recursos suficientes para atender a demanda dos atingidos. O Ministro nomeado para reconstrução do estado em minha opinião é tão incompetente quanto o chefe e cúmplices da falta de gestão para ter mais leitos, médicos e remédios para a população.

Lula também não ofereceu profissionais técnicos para planejar a reconstrução do estado e para dar suporte e apoio à população no interior do Rio Grande do Sul e nas periferias da capital. Com a enchente, os postos de saúde passaram a não atender a população pra além do ocorrido. Os postos foram destruídos e alagados, outros fechados por segurança, sem atender ninguém, mesmo em casos graves

“Todos os dias é uma humilhação o que a gente passa pra conseguir alimento, agasalhos, e atendimento de saúde. Tem vez que ficamos horas esperando pelas doações e por uma consulta e saímos sem remédio porque dizem simplesmente que tá faltando”, completa dona Joraci Martins, 75 anos, moradora de Lageado.

Até a busca por emprego fica mais difícil devido à ausência de políticas públicas nos bairros periféricos. Exemplo disso é a falta de Postos de Saúde, creches e escolas, que, muitas vezes, não permite que as mulheres consigam procurar trabalho. “Na escola municipal perto daqui eles não aceitam minhas filhas porque dizem que a gente não tem endereço. Não deixam as crianças se matricularem”, reclama Solange da Rosa, que mora em uma ocupação na região das Praias Sul. “Uma das consequências mais diretas de todo esse abandono é o aumento da violência urbana. Não temos segurança, a polícia raramente passa por aqui”, comenta Solange.

 




Veja Também





Links Patrocinados