Enquanto o mundo prende a respiração diante da possibilidade de uma guerra retardatária entre Rússia e Ocidente, por causa da Ucrânia, 30 anos depois do fim da Guerra Fria, o Brasil vive suas vicissitudes de verão com muitas águas provocando enchentes e deslizamentos no Sudeste. Bom para os reservatórios, que já dispensaram o funcionamento das termoelétricas. Já nós, no Sul, aproveitamos o verão quente e seco. E no meio disso tudo, Brasília, nestes primeiros dias de fevereiro exulta em Política, que é, aliás, sua razão de ser. Dizia-se, à época de sua construção que a cidade seria um marco para a interiorização do Brasil, tão ansiada por estadistas, militares e historiadores desde o século XIX. Não foi, apesar de que ali está, no coração do território, com suas luzes iluminando o Sertão. Mas são só luzes. A ocupação mesmo do centro oeste, com cujo cenário ambiental e sócio-econômico a Capital pouco se parece, ocorreu em consequência da expansão da fronteira agrícola: O controvertido agrobusiness, que já devora parte da Amazônia. O Brasil, enfim, é grande – abençoado por Deus e bonito por natureza-. E, sobretudo diversificado e contraditório. Poético: Poucos têm muito e muitos têm muito pouco…Mas Brasília, felizmente não mais o Rio de Janeiro, vela pelo nosso destino. Lá, nestes dias, só se falou em eleições.
No dia primeiro, ouvimos os discursos solenes da abertura dos trabalhos judiciários, com direito a escutar as advertências do Presidente do Supremo e do Presidente do Superior Tribunal Eleitoral. Ambos insistiram na defesa das instituições democráticas, sendo que o Ministro Barroso, foi mais longe e denunciou o Presidente da República, ausente do ato, por ter vazado informações confidenciais sobre nosso sistema de votação eletrônica, fato, aliás, que resultou em processo na Polícia Federal que o comprovou sem , contudo, indiciar Jair Bolsonaro.
A Justiça Eleitoral é uma jabuticaba tupiniquim, criada, como quase todas as nossas instituições importantes, por Getúlio Vargas. Ela cuida do processo de qualificação eleitoral, registro dos Partidos e eleições. Tem sido elogiada no mundo inteiro. Agora ela está estimulando a formação de Federações de Partidos Políticos, cujo prazo final é março próximo, como um instrumento capaz de aproximar tendências afins por um período de tempo, favorecendo sua eventuais fusões. Com isso diminuiria o número de Partidos no país, um dos fatores apontados para a crise do modelo de coalização presidencial. Lula está empenhado em costurar uma federação com PT, PV, PC do B e PV. Ontem os presidentes do PMDB e PSDB reuniram-se com o mesmo objetivo. Moro, do Podemos, continua isolado num partido pequeno e não consegue ampliar alianças, em grande parte, por certo, por sua rejeição pelos políticos que se consideram perseguidos pela “sua” Javajato. Ciro, igualmente, também está padecendo deste mesmo problema, sem conseguir avançar na formação de alianças e, eventualmente, construção de uma Federação de Partidos em seu apoio. Bolsonaro, de sua parte, com a filiação ao PL não só dispõe de um Partido com grande bancada e, portanto, com tempo de TV e recursos do Fundo Eleitoral, mas, ainda assim, busca ampliar aliança com PP, PSD , PTB e Republicanos, estes dois, “de mal” com o Presidente. Querem mais… Doravante, iniciam-se as consultas internas a cada um dos partidos envolvidos de forma a concertar um código de procedimento comum e acertar as opções eleitorais no plano federal e Estados. A exigência, diferente das antigas coligações, é que a Federação perdurará como um Partido único por quatro anos, em todos as instâncias da federação. Está difícil.
Mas a semana política não se esgotou aí. No dia seguinte foi a vez da abertura dos trabalhos legislativos no Congresso Nacional. Mais cerimônias, mais discursos, mais cafezinhos, mais elucubrações sobre o significado das palavras proferidas. O Presidente do Congresso Nacional é o Presidente do Senado, numa assincronia curiosa pois tem, na verdade, tão menos poder e visibilidade do que o Presidente da Câmara dos Deputados que é este que ocupa a Presidência da República em caso de vacância dos titulares. Pra piorar, o estilo do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mineiro, é devagar quase parando, enquanto o do Presidente da Câmara, Arthur Lira é cognominado “Rey Arthur, El atropelLador”, dono do “Centrão”, a mais poderosa corrente política do país, senhor do vigoroso Orçamento da União. Ambos, em tom mais conciliador do que os Juízes, defenderam a democracia, algo que deveria ser mais ou menos óbvio numa República Constitucional. Mas também brilhou nesta cerimônia parlamentar o próprio Presidente Bolsonaro que foi pessoalmente entregar a Mensagem Presidencial para 2022. Esta peça é importantíssima e já revestiu-se de identificação do caráter dos próprios governos. Lamentavelmente, vem perdendo vigor e se transformando numa mera formalidade. Quebrando o tom monótono do texto escrito, que sempre promete paz e prosperidade aos brasileiros, Bolsonaro não resistiu a improvisou alguns acutilantes desafios à Lula. Ele não desce nunca do palanque… Uns aplaudem. Outros vaiam. Muitos silenciam. Vamos ver que dirão as urnas em outubro.