O Governo Federal abriu no último dia 10 uma campanha publicitária sob o argumento “Um só povo”, na qual ressalta a necessidade de nos reunirmos neste Natal sob o espírito da reconciliação. Dita campanha vem atrasada. O Governo deveria tê-la impulsionado de imediato, logo após sua posse, sobretudo depois dos atos de 8 de janeiro. O país vinha vivendo desde o ano de 2016, quando aprovou o impeachment de Dilma Roussef, um clima de forte polarização ideológica, fermentada pela Operação Lava Jato, que culminou no período 2019-2022 com a gestão Bolsonaro. Este, mais do que representar a ascensão de um grupo conservador, à direita do espectro político, propôs, literalmente, um retorno a valores do regime militar, numa clara inclinação ao extremismo. Não por acaso, muitos de seus defensores afluíram aos quartéis clamando por Intervenção Militar, expondo, inclusive, faixas com esta consigna nas fatídicas manifestações de janeiro. Vencedor nas urnas, com o apoio de todo establishment, alarmado com a radicalização, numa evidência da rejeição nacional a qualquer quebra da institucionalidade, Lula deveria ter dado início à campanha de apaziguamento nacional. Mais do que campanha publicitária, porém, esta atitude deveria ter se convertido num amplo Movimento Nacional pela Pacificação, de forma a evitar a continuidade da polarização, sem Anistia mas, também, sem ressentimentos. A normalização da luta democrática pelo Poder, enfim, na qual as forças em disputa se reconhecem reciprocamente como adversárias é um imperativo da Nação, não deste ou aquele grupo ou Partido. Todo aquele agente político que se reserve o direito de ser inimigo do outro deve ser repelido. E se passar do pensamento à ação, punido. É a Lei. Imperativa, mas ainda não assimilado como tal pela extrema direita, que persiste no negativismo. Pesquisas de Opinião vindas a público nesta semana evidenciam a vigorosa resistência e antagonismo, tanto de defensores de Lula, como de Bolsonaro. A vitória de Milei na Argentina, com seu estilo igualmente extremado, como eventual retorno de Donald Trump à Casa Branca nos Estados Unidos, poderá, aliás, revigorar, em vez de abrandar, no Brasil, a polarização, dificultando ainda mais a recriação de espaços intermediários no qual se articulem melhor as opções vencedoras, seja de esquerda, seja da direita, sem retorno ao autoritarismo. Sempre se disse, a propósito, que o Brasil foi pródigo na conciliação para o encaminhamento de mudanças históricas. Fizemos uma Independência mais ou menos negociada com a Metrópole, proclamamos a República sem a decapitação de nenhum monarca, saímos das ditaduras Vargas em 1945 com o “Manifesto dos Mineiros” e do regime autocrático militar de 64/85 pela astúcia de Tancredo Neves, ainda que com o sacrifício de muitos que conheceram os suplícios dos Anos de Chumbo. Por que não poderíamos, agora, ultrapassar os impasses políticos que nos dividem com o espírito de reconciliação? A não ser assim, o que nos espera no futuro? Uma guerra civil? A que custo?
É importante que se reconheça que qualquer cidadão brasileiro tem o direito de não gostar da democracia, da esquerda, de Lula, da crescente presença na vida nacional de mulheres, negros, índios, ou LGBT mas isso não lhes dá o direito de agir contra as instituições. Se v. é daqueles que não acredita nas urnas eletrônicas, continue lutando para que haja maiores garantias, como a inclusão da cédula, mas não pode, simplesmente, negar o que aconteceu e que se expressa pela realidade emergente como verdadeiramente institucional. Outro dia, participei de um encontro no qual um dos presentes clamou pela morte de petistas como solução para o Brasil Ora, isso é realmente uma barbaridade. Como é uma barbaridade a forma reativa com que Israel entrou em Gaza. Perdeu credibilidade internacional e vai germinar dezenas de grupos fanáticos contra Israel. Como uma sociedade moderna e complexa, estamos, enfim, no Brasil, condenados à convivência. Ou nos reencontramos como um só povo, no rumo, inclusive da construção de uma só Nação, o que exigirá cada vez mais maior coesão interna frente aos desafios de uma globalização destruidora de identidades soberanas, ou vamos nos refugiar em tribos rivais, cada qual em busca de um apoio externo às suas expectativas de afirmação. No século XX, bem ou mal, realizamos o intento de construir uma economia industrial nos trópicos, à qual se sobrepôs a potência agropastoril, ainda que ao preço da marginalização de metade da população. Agora temos que nos unir para fazer com que todos, sem distinção, se integrem à cidadania e ao mercado. Um confronto interno produzira milhões de mortos e exilados sem a garantia de que consigamos transferir aos nossos netos o Brasil que recebemos dos nossos avós. A cobiça internacional está de olho nas nossas riquezas e aposta e promove nossa divisão. Só um povo unido, enfim, voltado ao fortalecimento da Nação como alma de um Estado Soberano, conseguirá superar o impasse que vivemos. Unamo-nos! Negros, brancos, mestiços e índios. Católicos, evangélicos, espíritas, cultos afro e qualquer outra denominação. Liberais, conservadores e progressistas. Todos, todas e todes pelo Brasil!