Escravidão nas vinícolas: ‘Se reclamasse, era espancado’, diz vítima
Dois grandes títulos imortalizam o papel das colheitas de vinho e outros produtos agrícolas no mundo: “Vinhas da Ira”, de John Steimbeck e “Vindima Trágica”, um filme de 1967. Agora a tragédia chegou à nossa vizinhança. O caso do trabalho análogo ao trabalho escravo em importantes e tradicionais vinícolas do Estado – Aurora, Salton e Garibaldi – , em Bento Gonçalves, seguido de esdrúxula nota da Associação a que pertencem estas empresas e do discurso de preconceituoso discurso contra os baianos de um vereador de Caxias repercutiu nacional e internacionalmente. Coincidindo com a presença do Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em reunião em Genebra, este foi instado pela imprensa a se pronunciar criticamente sobre o assunto. Ruim para a imagem do Brasil que tenta retornar na atual gestão Lula III aos foros internacionais. Até a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se manifestou, embora indiretamente, sobre o caso, recomendando que vinhos utilizados nas missas não sejam oriundos de vinícolas mancomunadas com trabalho escravo…
A questão não é nova e não se restringe ao campo.
O Trabalho escravo persiste no Brasil após 20 anos de plano de erradicação: ‘Naturalizamos o trabalhador em condições desumanas’ . Mais de 48 mil pessoas foram resgatadas do trabalho análogo à escravidão desde 2003. Em 2022: mais de 2,5 mil pessoas foram resgatadas no Brasil. Conheça, a propósito, a Lei brasileira: o que é trabalho análogo à escravidão : O que é trabalho análogo à escravidão, segundo a lei brasileira | Trabalho e Carreira | G1 (globo.com):
O artigo 149 do Código Penal Brasileiro – “É caracterizado pela submissão de alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou seu preposto.”
Relatórios dão conta de que esta situação continua se repetindo em vários lugares do país, como, por exemplo, junto à confecções em São Paulo, estado mais rico do país. Por trás do glamour do estilismo e da moda repousam, aliás, no mundo inteiro, reinam condições de trabalho desumanas. Daí, aliás, o surgimento do FASHION WEECK, movimento de designers de moda e até modelos, com sede em Londres e hoje espalhado em vários países, de denúncia desta situação.
Aqui no Brasil o recente caso das vinícolas continua repercutindo. O dito vereador, inominável, foi expulso do Partido a que pertencia, o PATRIOTAS. Agora está sendo questionado pela própria CAMARA DE VEREADORES de Caxias do Sul e talvez responda por xenofobia na Justiça. O Governador do Estado, Eduardo Leite, também se manifestou condenando o ato, desculpando-se junto à opinião pública e convidando governador e autoridades da Bahia para visitarem o Estado. Tergiversou, entretanto, ao comentar a corresponsabilidade das vinícolas com o crime. Mas a pronta e ampla resposta da sociedade brasileira, em especial do RS, se não apaga o odioso fato, atenua em parte a imagem negativa que ele criou sobre a mentalidade do gaúcho. A cada dia, porém, vem à tona o caso dos baianos . Ontem o Comandante da Polícia Rodoviária Federal deu longa entrevista à GLOBONEWS relatando como veio a saber da situação dos mesmos através de informação dada da Bahia vindo a recolhê-los em estado precário em Caxias, de onde os transferiu ao abrigo da Polícia Federal e Ministério Público, honrando, aliás a imagem daquela corporação manchada pelo comportamento de seu antigo Diretor.
Enfim, como dizia PAULO FREIRE: Não basta ler A UVA mas saber como ela é feita, para que serve, como são feitos o suco de uva e o vinho.