Quando se fala em 7 x 1, no Brasil, imediatamente nos vem à cabeça, a lavada da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2014. Uma vergonha internacional… Daí virou expressão popular para evidenciar situações de confronto de forças desproporcionais, com resultados, evidentemente desastrosos para a parte mais fraca.
Ontem, o 7 x 1 veio à baila, no depoimento à CPI do COVID do trôpego e despreparado Fábio Weingarten, o mais alto funcionário do Governo Federal para assuntos de Comunicação Social durante o auge da pior crise sanitária do país (!), já expelido do Planalto. Indagado, deu ele explicações sobre sua entrevista recente à VEJA, quando mencionou a “incompetência” do Ministério da Saúde diante da oferta da PFIZER em 02 de setembro do ano passado, que afirmou ter testemunhado e até apresentando comprovante, dizendo: – “De um lado uma grande empresa com cinco grandes escritórios de advocacia e de outro uma equipe mínima e inexperiente (do Ministério da Saude); era 7 a 1”. Segundo ele, a “burocracia” não respondeu à PFIZER e, por isso, o Brasil ficou sem vacinas…Tentou, com isso, tergiversar sobre a condenação que fizera ao ex Ministro Pazuelo na dita entrevista. Ato contínuo foi desmentido pela divulgação de sua voz gravada pela VEJA. Quase saiu preso… O tempo fechou e só não foi adiante porque houve uma súbita aparição do Senador Flavio Bolsonaro, atacando o Relator da CPI: -“ Como pode um vagabundo como o Senador Renan prender um homem de bem (Weingarten)”? Recebeu em troca a pronta resposta de Renan, que devolveu o vagabundo e o chamou de ladrão dos salários de seus funcionários, referindo-se ao famoso processo da “rachadinha” a que Flavio Bolsonaro responde. Aí o tempo fechou mais ainda e só graças à temperança do Presidente da Comissão, Sen. Aziz, o qual encerrou temporariamente os trabalhos em busca de uma solução consensual, ao final traduzida no encaminhamento das mentiras de Weringarten á CPI ao Ministério Público do DF para averiguações e eventual ajuizamento, os ânimos serenaram.
Muito haverá, ainda a se falar desta CPI, que parece já ter influenciado a opinião pública sobre as eleições de 2022. Na Pesquisa DATAFOLHA divulgada no mesmo dia, ao final da tarde tensa, os resultados foram adversos à Bolsonaro. Só 24% dos consultados aprovou seu Governo, colocando-o em distante inferioridade frente ao Ex Presidente Lula, que teria 41% no primeiro turno, 18 pontos á sua frente e 55% no segundo turno.
Como aqui fala mais o cronista do que o político, deixo para tratar sobre a CPI quando ela estiver “melhor ferida. Por ora, volto no tempo e na geografia e procuro outro acontecimento que tenha provocado resultados desastrosos a partir do 7 x 1. E lá vou eu para a mitologia grega, que tanto admiro. Lá há uma bela passagem sobre um famoso sábio, o Velho Tirésias.
Tendo havido uma disputa no Olimpo sobre qual dos gêneros teria mais prazer nas relações sexuais e acossado por sua esposa Hera, em razão de suas sucessivas traições, o todo poderoso Zeus convoca Tiresias para esclarecer o assunto. Naquela época, não dava pra dar uma de General Pazuelo, nem havia Habeas Corpus preventivo e logo o Velho compareceu diante do nobre casal e não se fez de rogado: “As mulheres têm sete vezes mais prazer do que um só homem”. Não era a resposta esperada pela veneranda esposa que num gesto rápido jogou poderoso ácido sobre os olhos de Tirésias, cegando-o. Assim era, naquele então. Os deuses eram como os homens. Cometiam pecados, odiavam, imprecavam e não hesitavam em despejar sua ira quando contrafeitos. Zeus, entretanto, com pena do homem, agora cego, concedeu-lhe uma espécie de bênção olímpica: Ele seria dotado do poder de adivinhação e viveria cinco gerações. Com isso, foi Tiresias despachado e passou pela vida de muitos outros personagens da mitologia, inclusive o famoso Édipo.
Estivesse ele entre nós, perguntar-lhe-ia: Como vai acabar essa CPI do COVID? E não resistiria à curiosidade: – E Lula voltará à Presidência…? Quanto ao Weingarten, enfim, nada indagaria. Sei que não vai dar em nada. Mas para completar o soneto ouso sugerir que, como no Poema de Drummond (aquele que “João amava Tereza que amava… e que no fim se casa com o J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”) – talvez o Presidente venha a ser, mesmo, quem nem está, ainda, nessas Pesquisas.
