Como diria Pierre Nora, “tudo o que é chamado de clarão de memória é a finalização de seu desaparecimento no fogo da história. A necessidade de memória é uma necessidade de história”. Num período de necessidades de todo tipo, do discurso ambientalista às questões humanitárias até a escassez de ética nas esferas cotidianas e da política institucionalizada é que se discutem temas contra hegemônicos com intuito de minimizar a voracidade do neoliberalismo num contexto global. Diante de um cenário de massificação dos costumes e dilaceração das tradições na constante oposição entre o moderno e o antigo, surge a necessidade de uma profunda reflexão sobre a história, o tempo passado e o tempo presente, a identidade e a memória. Atualmente, há uma preocupação com a cultura popular por parte de ativistas culturais, pesquisadores e legisladores.
A expressão “Patrimônio Cultural” nunca foi tão veiculada pelos meios de comunicação com uma acepção tão ampla de seu significado. Uma necessidade de reconhecimento cultural para um período de crises? A escritora Ellen Woods afirma que “o mundo esta sendo crescentemente povoado não por alegres robôs, mas por seres humanos cada vez mais indignados.” A indignação crescente das populações historicamente marginalizadas surge num contexto de (re) afirmações de identidades, reconhecimento e valorização das memórias coletivas e da consagração de patrimônios excluídos. Os laços identitários e a memória histórica são eixos fundamentais para as lutas dos movimentos sociais na atualidade. As heranças do passado que “sobrevivem” e são acionadas no presente pelos atores sociais em busca de referências históricas para saciar suas aspirações de vida são dispositivos condicionantes do Patrimônio Cultural.
O Patrimônio Cultural é compreendido como o conjunto de bens culturais materiais, imateriais e o meio ambiente natural que tenha relevância social e afetiva para uma coletividade. Os bens culturais são elementos relativos à natureza, às técnicas dos saberes e fazeres considerados os elementos intangíveis (imateriais) e, por fim os artefatos, edificações, sítios arqueológicos e históricos que configuram os elementos tangíveis (materiais) do Patrimônio Cultural. O conceito de Patrimônio sofreu profundas transformações de acordo com os contextos históricos e não deve ser concebido de maneira reducionista ou simplista, levando em consideração o caráter ideológico, político e econômico. A formação dos Estados Nacionais, os regimes totalitários e as repúblicas democráticas sempre tiveram um apelo ao Patrimônio Histórico- Cultural como forma de criar uma identidade nacional com objetivo de unificação e legitimação de poder.