PLANO DIRETOR DE TORRES PODE SER PAUTA DAS ELEIÇÕES?

Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

22 de agosto de 2023
Por Fausto Júnior

 

O início do debate do Plano Diretor entre os sete partidos políticos que compõem as bancadas na Câmara de Vereadores de Torres poderia se tornar uma fonte segura para que partidos, coligações e grupos ideológicos colocassem em debates diferenças de visão de cidade que são, afinal, as diferenças que definem para onde vai a política pública.

Particularmente, acho que este “uso” de um tema institucional – que define a melhor forma que a cidade acha de conduzir seu crescimento urbano e social, o Plano Diretor Urbano – pode ser uma espécie de “palco” das verdades internas de partidos e políticos que estão no poder, ou, o que é melhor, pelo menos ajudar que estas verdades sejam parte das políticas internas das agremiações, as deixando mais coerentes e mais criveis em defesas de ideias de esquerda, de direita ou de centro. E temos ai alguns meses antes do começo do pleito de 2024 para que sejam debatidos assuntos de fundo do Plano Diretor, o que para mim é didático – para o eleitor entender se aquilo que eles “acham” que é o perfil de seus eventuais candidatos seja checado com suas “escolhas” nos debates do Plano Diretor, sejam elas vencedores através de emendas, sejam elas perdedoras nos votos, mas defendidas por vereadores, partidos e coligações que começam a se formar para a eleição do ano que vem.

TURISMO CULTURAL OU TURISMO INDUSTRIAL?

Por exemplo. Somos uma cidade que sobrevive do turismo. Cresceu e se desenvolveu a custa do veranismo, o que é uma espécie de turismo. Atualmente temos aumentos de frequência anual de turismo de hotelaria, mas somente de pessoas que frequentam a cidade para se refrescar e passar o verão perto do mar, além de usufruírem de nossas diferenciais naturais, como as três torres com falésias e furnas à beira mar, nosso rio Mampituba, nossas lagoas e etc. Não vem para cá nem por conta de costumes locais que se destacam, como a gastronomia (acarajé e vatapá na Bahia, por exemplo), comportamento do povo (carnaval e festas no Rio de Janeiro) – o turismo cultural; nem costumamos ter aumento de pessoas em Torres por conta de equipamentos construídos para o lazer, como parques temáticos (surfe, Beto Carreiro, piscinas com equipamentos radicais, por exemplo), observatórios construídos como os nos precipícios e eventos temáticos (como o Natal Luz em Gramado) – o Turismo Industrial.

TURISMO CULTURAL OU TURISMO INDUSTRIAL? II

Poder-se-ia ter um debate do Plano Diretor no sentido de a municipalidade fomentar que pessoas da cidade desenvolvessem alguns costumes de comportamento – de culinária, de artesanato, dentre outros, para que estes fossem o diferencial no turismo cultural (Casquinha de Siri e peixes em geral; roscas de polvilho e adjacentes, música local). Alguns partidos mais apoiadores de atividades humanas como forma de vida e de atração turística e que não gostam de alto volume de atividades industriais/ de construção como forma de atração turística defenderiam esta linha de atuação. E o Plano Diretor norteia isto, com diminuição de construções verticais, por exemplo.

Por outro lado, partidos mais de direita e desenvolvimentista poderiam sugerir ao contrário, aumento de altura de prédios, criação de áreas para parques temáticos, ocupação de espaços naturais com atividades estruturadas de lazer como parques temáticos e etc.

Este debate na Câmara deveria mostrar os lados bons e os lados ruins das duas atividades, assim como os impactos econômicos e sociais que ambos os modelos (Turismo Cultural e Turismo Industrial) trazem. Todos aprenderiam e depois, por voto, emendas seriam colocadas ou parágrafos seriam suprimidos do Plano Diretor, como pode acontecer em outros projetos de Lei.

A IDENTIDADE partidária e individual dos políticos apareceria. E àqueles que querem fazer um pouco de cada lado para agradar gregos e troianos deveria ou se enquadrar de um lado ou explicar qual é realmente seu lado, se não o de somente apoiar coisas que o ajudam pessoalmente…, o que não é politica pública e sim política pro seu bolso.  Olho no lance.

TURISMO DE ALTO PODER AQUISITIVO

Há pessoas que acreditam que a forma de qualificar e aumentar a entrada de recursos financeiros em Torres é através do Turismo de ‘ricos e Super-Ricos’. Este segmento é interessante porque, além de atrair as próprias pessoas (ricas e Super-Ricas), busca outros turistas: os que querem conhecer de perto a vida destes “abonados” ou estrelas das finanças. Ou seja: uma boa busca de mercado, mercado que sustenta os torrenses nos 12 meses, com renda ou com emprego.

Aceitar que se construa um prédio de 20 andares com recuos agressivos arborização e entrega de estrutura do entono na zona oito, por exemplo. Seriam 20 apartamentos que devam custar mais de R$ 10 milhões cada, que trariam para cá pessoas que gostam de gastar seu dinheiro em coisas boas e diferenciadas, que além de os apartamentos poderiam abrir espaço para o estabelecimento de uma nova tendência de consumo para a cidade, através de lojas de grife, restaurantes temáticos, casas noturnas encantadoras e etc.

Certamente no debate teriam opositores, os mais naturalistas, os mais socialistas e igualitários, que não gostam de ostentação (nem dos outros), os ambientalistas que acham que sapos vão morrer pela sombra do edifício alto e etc. E o debate seria importante, didático e definitivo. Faria muita gente entender dois lados de várias situações, e a seguir decidir se votam e apoiam a construção especial ou se rejeitam a possibilidade. Isto é democracia.

PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO? 

Tem muita gente que gosta de valorizar a cidade onde mora através da preservação do patrimônio arquitetônico. E esta escolha de parte de um Turismo Cultural pode (e deve) constar no Plano Diretor de forma o mais didática possível. Em minha opinião, sem sequestrar direitos de propriedade de proprietários de imóveis, e sim de incentivar a preservação, ou por incentivos fiscais para o privado, ou através de aquisição por parte do setor público de imóveis para o intento.

Sitiar uma área e oferecer aos donos que sejam isentos de impostos e que recebam uma verba anual para a manutenção de supostos edifícios que estejam dentro de um projeto de preservação arquitetônica qualquer como a histórica, a turística e etc., pode estar em um Plano Diretor. Pelo menos a diferença de índices de forma agressiva deva ter nele, para que isto se torne uma realidade.

Tem gente que acha que turistas possam vir para Torres para conhecer um prédio antigo, ou conhecer uma área especial da cidade que possui um conceito arquitetônico especial. Assim como tem gente que acha isto uma bobagem. E na política as pessoas devem se posicionar em que lado estão, mesmo que percam alguns votos em nome de ganhar outros. E o debate do Plano Diretor Urbano dá esta oportunidade para a sociedade torrense.   Ninguém tem razão absoluta, assim como ninguém está sem razão de forma absoluta. Isto é respeito à diversidade.

 

 

 




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