PONTE PÊNSIL: UMA QUESTÃO DE ESCALA CORRETA

Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

Ponte ficou quase na vertical após rompimento de cabos (Imagem feitas do Passo de Torres na segunda, 20)
28 de fevereiro de 2023
Por Fausto Júnior

O acidente causado pelo excesso de peso na ponte pênsil em Torres nos ensina. Apesar de uma triste fatalidade, um jovem que por dias foi considerado desaparecido, até esta quinta (23) quando seu corpo foi encontrado –  Não houve tantas vítimas quanto poderia haver . Mas o tema nos sinaliza para reflexões.

Minha opinião é a de que a ponte para pedestres já deveria ser um equipamento de Turismo NACIONAL.

Ela deveria ser um lugar onde a preservação da cultura de décadas, envolvendo a relação entre dois lugares de turismo, localizados em dois estados diferentes. E, portanto, deveria ser um equipamento preservado em seu conceito (ponte pênsil), mas com sistema constritivo estrutural preparado para lugares onde multidões se encontram – como acontece em destinos turísticos, principalmente de beira de praia.

Se assim fosse feito, principalmente depois da inauguração da ponte para veículos em 2007, teríamos um equipamento forte, preparado, mais bem explorado visualmente, que serviria para o que serve hoje: O turismo.

 

PONTE PÊNSIL: UMA QUESTÃO DE ESCALA CORRETA – Histórias do Passado

 

Lá nos anos 1970, a ponte servia SOMENTE para dar passagem para pescadores do pequeno distrito do Passo de Torres (que à época pertencia a São João do Sul) irem à Torres – geralmente para vender peixes e siris nas casas dos veranistas, siris pescados no Rio Mampituba.  Poucos torrenses veranistas e turistas (como eu à época) usavam a ponte para ir ao Passo, saborear o ambiente rústico do outro lado do rio, muito diferente do ambiente torrense, onde já havia até prédios grandes (como o da SAPT) e outros edifícios construídos na área de veranismo, da Praia Grande e Prainha, como o São Domingos, o Três Torres, o Brisamar, o Copacabana e o Miramar (onde moro atualmente).  Lá no Passo tinha um barzinho (no lugar onde hoje é o prédio da Prefeitura), que vendia vários tipos de cachaça produzidos por lá. Além da tradicional cachaça de canela (a Marisqueira), tinham outras como a de butiá e a de Guapo (esta última a original do barzinho local). Os jovens (como eu) iam lá pela Ponte Pênsil, que balançava MUITO MAIS que a atual, porque era pênsil, mas também se movimentava lateralmente como um balanço. E brincávamos que na volta do consumo de pinga com guaco, não se conseguia atravessar a ponte, tendo que em alguns casos de pegar carona na balsa – a alternativa para veículos atravessarem o rio.

Ou seja, a ponte era um equipamento de transporte básico: servia tão somente para que pescadores pudessem atravessar para Torres e vender seus peixes e carne de siri para veranistas. Não era um equipamento de turismo e de folclore como hoje.  Neste caso servia somente para poucos jovens que, como eu, na década de 1970, tinham o costume de ir ao passo beber guaco, ficar meio tonto e se desafiar ao voltar pela ponte que balançava, sem cair no rio… E isto ficou caracterizado…

 

PONTE PÊNSIL: UMA QUESTÃO DE ESCALA CORRETA – “BALANÇA MAIS NÃO CAI”

 

Nos anos 1980, o movimento aumentou e a cidade do Passo de Torres, ao se tornar emancipada politicamente, trabalhou mais para atrair turistas para lá. O aumento de movimento fez com que veranistas torrenses fossem ao Passo de balsa, para experimentar restaurantes rústicos que abriram lá, muitos para servir aos turistas torrenses peixes frescos.

Turistas do Hotel Sesc atual (antigamente Hotel Continental) e outros veranistas  também se proliferavam em Torres e eram atraídos para atravessar a ponte pênsil, conhecida como local que balançava e gerava medo. E a cidade do Passo de Torres foi crescendo.

Em 1984 foi colocada outra ponte pênsil, mais estável, embora mantivesse seu conceito de “balançar e gerar medo nas pessoas”. Na inauguração, foi tanto político dos dois lados que quiserem “sair na foto” da boa nova para as comunidades que os elegeram (ou elegeriam) que a ponte rompeu. Dezenas de pessoas caíram, incluindo o padre torrense que fazia a cerimônia de benção (que não tinha nada a ver com a política).

A cidade do Passo há alguns anos colocou um bonito monumento ao pescador, outro com o nome da cidade em letras grandes, justamente ao lado da ponte pênsil. Esta, portanto, se tornou uma espécie de símbolo do conceito de turismo do Passo de Torres: local que surgiu pela pesca e cresceu no turismo por se apresentar de forma rústica e simples como sempre foi o ambiente da comunidade de pescadores.

Mas hoje já existem hotéis, edifícios, condomínios horizontais, dentre outros equipamentos urbanos modernos que tendem a deixar o Passo uma cópia de Torres no futuro. A menos que as autoridades legislativas e executivas locais resolvam instituir barreiras para que o conceito de “cidade rústica” se mantenha. Mesmo assim, a ponte pênsil é e sempre será um símbolo. Nem que seja algo de preservação histórica, ela deve receber carinho e investimentos para que se mantenha a ponte que balança, dá um certo medo e que, justamente por isso atrai turismo, mas que NÃO CAI. E para Torres serve o mesmo: dar espaço para que turistas locais possam conhecer uma cidade que se apresenta quase como um bairro do município e que cresceu, justamente, por conta da colocação de pontes, primeiro a pênsil, depois a de tráfego de veículos (de concreto).

Uma viagem à Brasília dos dois prefeitos (de Torres e do Passo de Torres), junto com representantes do turismo estadual dos dois estados (RS e SC) para propor um projeto no Ministério do Turismo, seria um gol fácil de ser feito. Temos a faca e o queijo na mão…

 

ACIDENTE

 

Resumindo, penso que o que aconteceu para que a ponte virasse foi um acidente. Muita gente junta, não respeitaram o aviso de limite de pedestres na travessia (20 pessoas) e, além disto, tiveram os que pulavam em cima, justamente para mostrar o medo que dá esta sensação – característica da ponte pênsil que, em minha opinião, deve ser preservada apesar do fatídico ocorrido. Penso que tivemos apenas uma fatalidade (situação que deve ser muito lamentada), justamente porque o rio chega a dar pé ali (antigamente não dava – local foi assoreado naturalmente).

Mas reforçar a ponte e dar alguma sinalização mais incisiva deve ser a medida inicial a ser tomada. Tomara que ainda sob o conceito de preservação do conceito de ponte, que quase cai (mais não cai de novo).

 

 

 

 

 

 




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