Relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o “desejo” de controlar o parceiro, de “tê-lo para si” pela possessividade. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal estar.
É difícil definir quando um relacionamento é abusivo, porém, os principais indicativos de uma pessoa abusiva são: ciúme e possessividade exagerados; controle sob as decisões e ações do parceiro; querer isolar o parceiro até mesmo do convívio com amigos e familiares; ser violento verbalmente e/ou fisicamente; e pressionar ou obrigar o parceiro a ter relações sexuais.
Esse tipo de situação pode ocorrer em relacionamentos tanto heterossexuais como ocorre também entre parceiros do mesmo sexo. Em relação à idade, estudos recentes demonstraram que adolescentes brasileiros afirmaram ter sofrido algum tipo de abuso no namoro, o que inclui um novo público nessa perspectiva.
Muitas pessoas acreditam que quem está em um relacionamento, “está porque quer”. Entretanto, muitas vítimas não conseguem sair dessa situação. Por que isso acontece?
Sabe-se que no Brasil mulheres jovens são as maiores vítimas de relacionamentos abusivos.
Percebe-se que as pessoas que procuram ajuda psicológica são do público feminino, relatando um extremo cansaço e desgaste na relação, porém, ainda questionam se esse abuso teria sido por culpa delas ou se o parceiro de fato é assim. Questionam também seus papéis sociais, e a visão dos outros: “o que vão achar” e “se acharão que o erro foi delas”. Acreditam inicialmente na mudança desse parceiro.
As vítimas principalmente da violência física e abuso sexual, quando relatam a possibilidade de denunciar o parceiro, sentem medo diante de um processo que ainda é juridicamente longo. Portanto, a dificuldade em sair de um relacionamento abusivo pode passar por questões econômicas, emocionais e afetivas, legais e burocráticas.
Como uma pessoa pode perceber que está em um relacionamento abusivo? Como ela pode proceder? Como amigos e familiares podem ajudar essa pessoa?
Essa pessoa deve se atentar aos sinais e excessos em relação ao controle: possessividade, ciúmes, violência, agressividade, e questionar se tais atitudes têm causado desconforto ou mal estar.
É interessante que em um dos casos, uma pessoa atendida chegou à conclusão de que praticava abusos contra o parceiro. Nesse caso, a pessoa que cometia abusos sentia um grande incômodo diante das suas atitudes e veio pedir ajuda. Um relacionamento abusivo também pode ser percebido do ponto de vista de quem comete os abusos. Não necessariamente de quem sofre ou ambos podem estar cometendo abusos um contra o outro e inicialmente sequer se dão conta.
Ao perceber que está sofrendo um abuso ou que está sendo abusivo é fundamental que esse sujeito busque apoio especializado (psicológico e em determinados casos jurídico).
O apoio familiar, dos amigos e conhecidos também é essencial, pois em um momento no qual esse sujeito vem, principalmente, de uma relação desgastada, rompida, é importante criar/fortalecer laços sociais, que o façam sentir seguro, ouvido e acolhido.
As principais dificuldades que a pessoa enfrenta para sair da relação abusiva costumam ser:
Emocionais e afetivas: insegurança e incerteza diante do que virá, medo de ficar desamparado (a), medo de reações provenientes do parceiro, crença de que o parceiro poderá mudar as atitudes e “ser uma boa pessoa”, medo de ficar sozinho (a), crença de que não conseguirá se restabelecer e seguir em frente.
Questões legais e jurídicas: desgaste relacionado ao tempo e à burocracia, falta de conhecimento por parte das vítimas sobre o que ocorre entre a denúncia e a sentença.
Sociais: a relação abusiva pode ter isolado a vítima e a mesma pode estar distante dos seus familiares e amigos.
Econômicas: principalmente quando a vítima depende do parceiro.
Embora as dificuldades estejam presentes é essencial que a pessoa busque ajuda psicológica / especializada e conte com o apoio, seja de amigos, familiares, colegas ou grupos específicos.
Em geral, tanto pessoas abusadoras quanto vítimas do abuso, tiveram um histórico de abuso infantil, que pode variar desde o abuso sutil psicológico até físico e afetivo na infância, bem como sofreram carência afetiva, ou privação afetiva, onde sentiram-se desconsideradas, desrespeitadas pelos seus pais violentos, em suas necessidade emocionais.
Faz se necessário buscar ajuda profissional para tratar questões de baixa auto estima, vulnerabilidade emocional, insegurança, e desenvolver a autonomia emocional. Pois a tendência é a pessoa que está prejudicada afetivamente escolher relações doentias.