Semana passado o Brasil celebrou o Dia do Aviador e Dia da Força Aérea Brasileira, uma referência à data em que, no ano de 1906, Alberto Santos-Dumont realizou o primeiro voo do 14-Bis no Campo de Bagatelle, na França. Desta época ele deixou um belo registro de seu primeiro voo de balão.
Cumpre a Torres, capital do balonismo, rememorar a data e o Homem: Santos Dumont. Quem sabe a partir do balonismo ainda nos tornemos, um dia, a Capital Nacional dos Esportes Aéreos?
A seguir, transcritas algumas palavras do próprio Santos Dumont sobre seus primórdios nos ares
É INFALÍVEL A NATUREZA? (Por Santos Dumont* )
*no capítulo III – Minha primeira ascensão (pg. 82-90) , livro OS MEUS BALÕES
“Guardo uma recordação indelével das deliciosas sensações de minha primeira tentativa aérea. Cheguei cedo ao parque da aero estação de Vaugirard, a fim de não perder nenhum dos preparativos. O balão, de uma capacidade de setecentos e cinqüenta metros cúbicos, jazia estendido sobre a grama. A uma ordem do Sr. Lachambre, os operários começaram a enchê-lo de gás. E em pouco da massa informa começou a se transformar numa vasta esfera.
Às 11 horas os preparativos estavam terminados. Uma brisa fresca acariciava a barquina, que se balançava suavemente sob o balão. A um dos cantos dela, com um saco de lastro na mão, eu aguardava com impaciência o momento da partida. Do outro, o Sr. Machuron gritou:- Larguem tudo!
No mesmo instante, o vento deixou de soprar. Era como se o ar em volta de nós se tivesse imobilizado. É que havíamos partido, e a corrente de ar que atravessávamos nos comunicava sua própria velocidade. Eis o primeiro grande fato que se observa quando se sobre num balão esférico.
Esse movimento imperceptível de marcha possui um sabor infinitamente agradável. A ilusão é absoluta. Acreditar-se-ia, não que é o balão que se move, mas que é a terra que foge dele e se abaixa.
No fundo do abismo que se cavava sob nós, a mil e quinhentos metros, a terra, em lugar de parecer redonda como uma bola, apresentava a forma côncava de uma tigela, por efeito de uma fenômeno de refração que faz o círculo do horizonte elevar-se continuamente aos olhos do aeronauta.
Aldeias e bosques, prados e castelos desfilavam como quadros movediços, em cima dos quais os apitos das locomotivas desferiam notas agudas e longínquas. Com os latidos dos cães, eram os únicos sons que chegavam ao alto. A voz humana não vai a essas solidões sem limites. As pessoas apresentavam o aspecto de formigas caminhando sobre linhas brancas, as estradas; as filas de casas assemelhavam-se a brinquedos de crianças.
Meu olhar sentia ainda a fascinação do espetáculo quando uma nuvem passou diante do sol. A sombra assim produzida provocou um esfriamento do gás do balão, que, murchando, começou a descer, a princípio lentamente, depois com velocidade cada vez maior. Para reagir, deitamos lastro fora. E eis a segunda grande observação a que se é levado com os balões esféricos: alguns quilos de areia bastam para restituir ao indivíduo o domínio da altitude!
Readquirimos o equilíbrio acima de uma camada de nuvens. A neblina nos envolveu em uma obscuridade quase completa. Distinguíamos ainda a barquinha, nossos instrumentos, as partes mais próximas do cordame. Mas a rede que nos prendia ao balão não era mais visível senão até certa altura; e o balão, ele próprio, desaparecera.
Experimentamos assim, e por um instante, a singular sensação de estarmos suspensos no vácuo, sem nenhuma sustentação, como se houvéssemos perdido nosso último grama de gravidade e nos achássemos prisioneiros do nada opaco.
A dupla manobra colocou-nos em terra sem o menor abalo. Saltamos e assistimos ao balão murchar. Alongado no chão, ele esvaziava-se do restante do seu conteúdo em estremecimentos convulsivo, como um grande pássaro batendo as asas ao morrer.
Tiramos alguns instantâneos fotográfico da cena; depois, dobramos o balão e o arrumamos na barquinha, juntamente com a rede.
As seis e meia estávamos novamente em Paris. Havíamos efetuado um percurso de cem quilômetros e passado quase duas horas nos ares”.
DOCUMENTÁRIO SANTOS DUMONT (COMPLETO) pelo link do YouTube – https://www.youtube.com/watch?v=FF0lO6rrPrs