Política em ebulição domina a conjuntura nacional. Lula na berlinda. Começa dia 24, com o julgamento do ex Presidente no TRF-4, em Porto Alegre, campeão nas pesquisas eleitorais, o processo sucessório no Brasil. Será Lula condenado? Será preso? Será mesmo candidato? Ninguém sabe. Há muita movimentação de seus correligionários em seu apoio, inclusive ameaçadoras advertências da Presidente do PDT, Senadora Gleise Hoffman, muita controvérsia entre especialistas, inclusive Carta de mais de 100 juristas denunciando o processo por falta de provas, muita especulação sobre o que acontecerá neste dia e depois, tudo indicando que as eleições deste ano não conduzirão o país à almejada paz interna. Os ânimos estão por demais exaltados. Porto Alegre vai ferver e o Prefeito Marchezan teme o pior, encarecendo, em vão, presença das Forças Armadas nas ruas. Ridículo. Nem cabe a Prefeitos esse tipo de requisição. Mas ajuda a criar maior tensão. Carmen Lucia, Presidente do Supremo veio à Porto Alegre discutir a questão com os desembargadores da Justiça Federal que julgarão Lula. Para quê? Ninguém responde. Tudo contribui para elevar a temperatura política e fomentar exageros. O PT, afinal, joga tudo nesta partida: Seu líder, seu futuro, até seu passado. Neste processo tem demonstrado grande capacidade de mobilização e voz. Seu maior trunfo foi consagrar – até internacionalmente – a narrativa do “golpe”. Temer, com isso, perdeu não só credibilidade, mas também legitimidade. Lidera, moribundo, um governicho que se arrasta como procissão sem bênção nem brilho, reabrindo o caminho para o retorno da esquerda.. A escalada, então, aumenta, alimentando fake news, infâmias e não poucas acusações dos lulistas ao Judiciário brasileiro, que não é nem santo, nem digno de admiração popular, à vista das regalias que se reserva. Não faltou, aí, este desabafo de um indignado: “Um alemão vai decidir o futuro do Brasil”, numa referência à origem teuta do relator do processo de Lula. O próprio Lula denuncia o Presidente do TRF-4 , Thompson Flores, como bisneto do Coronel que matou Antônio Conselheiro. E se fosse…? Oressa!
Diante disso, a pergunta inevitável é esta: Estaria o Brasil diante de uma ruptura institucional, com risco de um golpe militar à direita ou abertura de uma situação revolucionária capaz de produzir o assalto ao poder pela esquerda?
Dificilmente. Nada disso ocorrerá. É, até, mais fácil – e até histórico – o golpe do que uma revolução social. Mas no lo creo…
O Brasil, apesar de todas as mazelas de sua formação social, extremamente excludente, é um país muito sólido institucionalmente, com uma invejável armadura de sustentação do Estado, economia globalizada e uma vigorosa classe média de 50 milhões de pessoas. . Devemos isso ao Império, aliás escravocrata, do qual derivou uma sociedade de corte autoritário. Daí a difícil democracia que teve, a propósito, na Constituição de 1988, um considerável avanço. Independente do resultado do dia 24, tudo continuará com está: Tenso, porém estável. Além disso, as duas forças, antagônicas, que poderiam produzir, ou um golpe militar, ou uma revolução, não estão envolvidas numa retórica que justifique ações deste tipo. O Exército, apesar dos deslizes de algum general indignado, tem se mantido em suas funções constitucionais. E o PT, como partido hegemônico de sustentação de Lula, apesar, também, das bravatas de alguns dirigentes ou apoiadores, tampouco tem qualquer vocação insurrecional. Pelo contrário, o PT é um clássico partido social-democrata, abençoado pela Igreja de Roma, de mediações, com vistas à reforma do sistema político e econômico. Lula, também, está muito longe de um Lênin, um Mao Tse Tung ou um Fidel. Talvez muito longe até do Velho Brizola. Lula é um gênio negociador, que avança e recua ao sabor das circunstâncias. Talvez se encontre, neste momento, num ponto crítico de sua História, mas não será louco em endossar aventuras sem perspectivas democráticas. De resto, ao mesmo tempo em que o coração da esquerda brasileira palpita em Porto Alegre, tentando reverter uma conjuntura de visível descenso, a vida segue, indiferente, seu curso, no resto do país. O 24, enfim, talvez não seja tão importante quanto parece. Eppur si muove, diria Galileu…