Tempo de Advento

Sou persistente. Todos os anos, desde 2012, trago aos leitores desta coluna do A FOLHA Torres,  na expectativa de ressoar nas curvas do Mampituba, minha mensagem de Natal, através da lembrança do “Advento”. Sem ser religioso ou místico, acredito na BOA NOVA como mensagem de esperança na humanidade.

9 de dezembro de 2023

Sou persistente. Todos os anos, desde 2012, trago aos leitores desta coluna do A FOLHA Torres,  na expectativa de ressoar nas curvas do Mampituba, minha mensagem de Natal, através da lembrança do “Advento”. Sem ser religioso ou místico, acredito na BOA NOVA como mensagem de esperança na humanidade.

Os problemas internacionais que tenho aqui trazido, ao longo desta década, só pioraram com a crise da pandemia, com a Guerra na Ucrânia e com a tragédia no Oriente Médio, para não falarmos dos conflitos que sacodem a África Central. No Brasil, depois de um período tenso e grande polarização, consagrou-se a democracia como vencedora. Lá e aqui, porém, o futuro é incerto. A segurança periclita. Vivemos momentos difíceis em nossa História.  As expectativas de um mundo melhor cevadas nos pós II Guerra parecem soterradas na multiplicação sem par da miséria, resultado da extrema concentração da riqueza, na destruição do Planeta, na disseminação do vício e confrontos religiosos, étnicos e políticos e, por último, mas não menos importante, na depressão, essa psico-epidemia irrecorrível do século XXI.

Mas o “Advento”, como o período de quatro semanas, na tradição cristã, que antecede o Natal, se renova todos os anos reacendendo as almas.  O que há de vir: A esperança da Boa Nova que oferece o perdão como regra da civilidade entre os homens e o Pacto, seu imperativo social. O amor a todos os homens, sem distinções.  A grande ceia da noite de Natal não é, senão, uma metáfora para a celebração da concórdia entre todos nós. É a confirmação do laço afetivo que sela o ponto final de uma peregrinação que mobiliza passos ao longo de milhares de quilômetros em direção ao encontro natalino. -Para onde voltamos sempre? , indagava um famoso filósofo: – “Para casa”.  É em casa, no amplexo familiar, que renovamos as energias para enfrentar as adversidades que se anunciam na fatia dos tempos. Um ritual, mas que contribui para quebrar a corrida do cotidiano. Em casa a dor dói menos e a alegria se alegra ainda mais. A alma exulta.

O Advento contribui para reforçar a resistência no bom caminho da virtude mesmo sob o imperativo da condição trágica do Homem no mundo: O homem dividido e dilacerado como começo e o fim de tudo. Resistamos, pois, ao fim do próprio homem, sob a ameaça do holocausto nuclear ou ambiental e da intolerância Ainda há tempo, mas urge. É preciso coragem, determinação e bom senso.  Resistir, não só por orações e abraços,  mas por ações. Assim ensinou O Pe. Antônio Vieira,  no  seu sermão da terceira dominga do advento: “O homem é as suas ações”.  Ou como outro cura, Frei António de Montesinos, em Santo Domingo em 21 de Dezembro de 1511, proclamou no quarto domingo do Advento e que ficou na história como o primeiro pronunciamento em defesa dos Direitos Naturais e Humanos dos índios das Américas

‘Todos vós estais em pecado mortal. Nele viveis e nele morrereis, devido à crueldade e tiranias que usais com estas gentes inocentes. Dizei-me, com que direito e baseados em que justiça, mantendes em tão cruel e horrível servidão os índios? Com que autoridade fizestes estas detestáveis guerras a estes povos que estavam em suas terras mansas e pacíficas e tão numerosas e os consumistes com mortes e destruições inauditas? Como os tendes tão oprimidos e fatigados, sem dar-lhes de comer e curá-los em suas enfermidades? Os excessivos trabalhos que lhes impondes, os faz morrer, ou melhor dizendo, vós os matais para poder arrancar e adquirir ouro cada dia… Não são eles acaso homens? Não tem almas racionais? Vós não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos? Será que não entendeis isso? Não o podeis sentir?’

A todos nós, portanto, a lembrança dos Evangelhos como a verdadeira mensagem cristã e o apelo à paz como o caminho da salvação dos povos.




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