Em junho do ano passado (2023) consertei, na chácara do meu pai, um cordão de calçada que havia sido enterrado pelo asfaltamento da rua conhecida como Estrada dos Cunhas. Contratei um conhecido para fazer o serviço, e ele o fez. Em janeiro deste ano a Companhia de Saneamento foi consertar um vazamento nesta área e destruiu parte do trabalho que havia sido feito, quebrou o cordão e deixou um buraco mal tapado. Registrei um pedido de conserto no escritório daquela empresa e até hoje nada foi feito. Isso me lembrou de um fato que aconteceu comigo no ano de 1987 quando meu pai abriu uma filial da distribuidora de bebidas no Arroio do Sal.
A distribuidora foi montada em um grande galpão (reformado e pintado) que ocupava boa parte do terreno. Na parte da frente plantamos um grande gramado e bem no centro deste gramado, um cipreste. O gramado, sempre bem cuidado, por mim e pelo seu Pedro (zelador/guarda noturno que lá trabalhava), foi ficando viçoso e bem verdinho. Passado alguns meses, o gramado começou a amarelar e surgiram alguns buracos, e, de acordo com o seu Pedro, era “trabalho” dos Tuco-tucos. Na época eu não sabia o que era um Tuco-tuco e nem o que eles faziam ali. Em pouco tempo eles fizeram buracos em todo o gramado, não tinha o que fazer. O seu Pedro tentou as técnicas “ancestrais” por ele incorporadas para expulsar os Tuco-tucos daquele espaço. A menos nociva ao bichinho era a técnica da água. A técnica consistia em colocar água nos buracos para ver se eles desistiam de destruir o gramado, e fossem embora. Simples e ineficiente. Resumindo: Não teve técnica que desse jeito, eles não iam embora e só abriam mais buracos, deixando um rastro de destruição. Quando a grama já tinha sido totalmente devorada, eles simplesmente foram embora.
Para quem não conhece, o Tuco-tuco é um simpático roedor que vive em galerias subterrâneas superficiais que ele mesmo constrói. Seu nome veio do termo tupi “tuku tuku” que se refere ao som que o macho da espécie produz quando se sente ameaçado. Ele gosta de se alimentar de gramíneas, o que causa muitos buracos e imperfeições no solo (como na minha grama), não agradando quem gosta de uma grama bonita ou solos perfeitos. Parente da capivara e da paca, o Tuco-tuco mede cerca de 25 cm é adaptado para viver no subsolo, com cauda e orelhas reduzidas e maior desenvolvimento da musculatura e das unhas. Seus grandes e resistentes dentes, que ficam para fora da boca deixando-o parecido com a marmota do hemisfério norte, ajudam as patas no trabalho de escavação.
A Cia de Saneamento que atua aqui na cidade faz o seu trabalho por toda a região com alguma qualidade, sendo que a principal é a pureza da água. Depois que fizeram uma nova estação de tratamento do esgoto no município, este também melhorou bastante. Acontece que aqui na cidade existem bastantes problemas com os serviços prestados por essa empresa. Buracos são abertos em asfaltos novos ou antigos, ruas de paralelepípedos ou PAVs, todas ficam abertas por muito tempo. Calçadas também são removidas e, apesar de várias solicitações de conserto, são ignoradas. Ou seja, abastecimento de água e esgoto está bem, mas e o resto?
Lembrei-me dos Tuco-tucos que fizeram o seu “trabalho” na minha grama, construíram seus tuneis, se alimentaram e foram embora. Deixaram para eu tapar buracos que não fiz. E assim como lá no passado, hoje terei que, novamente, consertar um estrago que não fiz.
Saudade dos Tuco-tucos, pelo menos eles eram simpáticos.
Foto: https://faunanews.com.br/olha-o-bicho-tuco-tuco/
