TUDO COMO DANTES

O ano todo de 2020 tem sido um desastre: Crise tríplice da Política, da Economia e Sanitária. Maio foi o mês mais tenso desta travessia.

14 de agosto de 2020

A luta do homem, em qualquer tempo e geografia, é o enfrentamento com o meio, com os outros homens e consigo próprio. A Odisseia infindável do eterno retorno: a gestação, a sobrevivência, a reprodução, a morte. Do pó ao pó. Sina dos que vivem. E que refletem, no fundo as três dimensões que nos definem e situam no cosmos:  O espaço, o tempo e a consciência.

A tarefa do ficcionista é a de entender e escrever sobre isso. Não só situar o vivente neste processo, como colocá-lo em situações extremas: O muro, o grito do abismo, o fim. Aí o drama, às vezes a tragédia, sempre calcada na verossimilhança com o real. Um exemplo: Os grandes números não emocionam. São estatísticas.  Isso aprendemos num dos mais importantes clássicos da filmografia americana dos anos 1950 – “A Montanha dos Sete Abutres”: a tragédia tem que ter nome e endereço para chegar ao coração das pessoas.  Philip Roth, renomado romancista americano, recentemente falecido, insistia no mesmo tom, mostrando os desafios das diversas gerações na época do Macartismo, da Guerra do Vietname e da Era Clinton.  Mas isso é secundário. Importa destacar o momento brasileiro, que é decisivo.  Mais de cem mil mortos pelo COVID 19, muitos sobreviventes da infecção, ainda incertos quanto às suas reais de saúde, os outros, imensa maioria da população, na dúvida: Estou ou não estou? Tempos de desafios extremos. Para os mais vulneráveis, idosos sobretudo, nem se trata do corredor da morte, sempre com prazos a cumprir com infindáveis recursos. Com o coronavírus tudo é muito rápido. Duas semanas e acabou-se. Ó tempos! E, escapando, enfrentar a dura realidade do desemprego e da crise

O ano todo de 2020 tem sido um desastre: Crise tríplice da Política, da Economia e Sanitária que acentua as 77 pragas que assolam o Brasil. Maio foi o mês mais tenso desta travessia. O Presidente, movido por suas idiossincrasias e ambições, segundo a Revista Piauí, chegou a tentar um golpe de mão no Poder. Sentiu a pressão do Judiciário, do Congresso e da Sociedade Civil e mudou de estilo, para o que muito contribuíram as Pesquisas demonstrando uma sólida base de apoio, alimentada – na base – pelo Auxílio Emergencial. Caiu na real. Reaproximou-se do Supremo Tribunal Federal, evitando novos petardos a seus membros, atacados pelo “Chegou,Porra”!, acertou-se com um grupo parlamentar tradicional no Congresso- Centrão – e começou a flertar com a reeleição. Mudou ou assumiu-se…? Neste ímpeto começou a alimentar, na própria esfera governamental, uma velha divisão, de profundas raízes na História do Brasil desde 1930, reeditada em pleno regime militar em 1966, entre “pragmáticos” e “doutrinários”. Os primeiros, optam por uma visão heterodoxa, marcada por inclinação às reformas do capitalismo brasileiro com vistas à aceleração, via investimentos públicos, do desenvolvimento e promoção da cidadania; os segundos, às reformas, tipo Privatizações e Reformas da Previdência, Administrativa e do Pacto Federativos, para a adequação deste mesmo capitalismo às exigências da globalização, hoje dominada por interesses financeiros. Na prática, tensionou o equilíbrio interno do Governo, levando à fragilização de Paulo Guedes, avatar do liberalismo, diante da proclamação do “Plano Brasil” pelo Ministro General Luiz E. Ramos, apoiado pelos Ministros Rogerio Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Tarcísio G. de Freitas, da Infraestrutura. Os “fura-tetos”. O clímax veio à tona no dia 11 (agosto) levando Guedes ao desabafo de que iria abrir fogo com estes, à luz, inclusive do desmantelamento de sua equipe com a saída de vários de seus Secretários, indispostos com o andar da carruagem. Chegou-se a anunciar a saída de Guedes com supostas consequências quanto ao apoio do “Mercado” ao Projeto Bolsonaro 2022. Não faltou o coro reverberado pela BIG MÍDIA de que estávamos de volta ao populismo. O Presidente assustou-se, reuniu o Ministério e fez nova profissão de fé ao liberalismo com irrestrito respeito ao Teto de Gastos da Emenda 95. Sempre com entrelinhas, pois Bolsonaro é bom político: Quer o Renda Brasil. Enquanto isso, o Judiciário, já livre do espectro de Sergio Moro, começa um processo de revisão da Lava Jato que poderá desembocar na anulação de muitos de seus processos, inclusive o que daria a Lula a possibilidade de voltar à cena eleitoral em confronto com Bolsonaro. Por paradoxal que isso possa parecer, porque nos conduz a uma situação de “extremos” tudo indica que Bolsonaro não a teme e que muitos de seus interlocutores até admitem que possa ser, enfim, o caminho de uma pacificação da crise política aberta em 2016. Será? Eis o filme: “Nasce uma estrela”…

A nação desdenha dos cem mil mortos, indiferente “às estatísticas”.

Aqui, então, a vida imita a arte e o cronista despede-se. Perplexo mas conformado: Pra que escrever “contos” se o só contar já é uma ficção…




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