Já comentei aqui na coluna sobre os castelos no Vale do Loire, mas há castelos espalhados por toda a França. Tive a oportunidade de conhecer um em especial, datado do século XIII, onde me hospedei com minha família: o Castelo de Damigny.
Para chegar até lá, contamos com a ajuda do GPS. Não que fosse difícil localizar o castelo, mas por não conhecermos bem a região. Após inserir o endereço no navegador, o maior desafio foi manter a concentração no caminho, pois a estrada estava repleta de paisagens tão encantadoras que era quase impossível não desviar o olhar. As rodovias secundárias, muito procuradas pelos turistas que desejam conhecer o país mais a fundo, cruzam vilarejos e cidades, revelando os melhores cenários da França a cada quilômetro percorrido. Assim foi o trajeto até o Château de Damigny!
Ao chegar, nos deparamos com uma cena curiosa: um pequeno robô cortador de grama, semelhante àqueles aspiradores de pó robóticos, estava aparando o gramado de forma autônoma. Esse fiel ajudante pertencia a Vincent, nosso anfitrião, que também estava ocupado cuidando do belo jardim da propriedade. Era um interessante contraste, à primeira vista, entre o moderno e o antigo, mas que coexistiam em perfeita harmonia. Em pouco tempo, estávamos conversando com o simpático anfitrião, o mesmo que minutos antes estava entre as flores do jardim.
Subimos pela escada de madeira antiga — mais velha que o próprio Brasil — localizada no centro do castelo, até chegarmos à suíte mais bonita e completa do hotel. O castelo-hotel realmente conseguiu unir o antigo ao moderno: Smart TV, Wi-Fi e aquecimento central lado a lado com portas francesas com fechaduras e chaves de ferro, além de cortinas pesadas emoldurando as grandes janelas.
O café da manhã foi um capítulo à parte. Uma grande mesa central acomodava oito pessoas, acompanhada por outras duas mesas, cada uma para quatro pessoas. O destaque deste café foi a abundância de crepes preparados pelo anfitrião, sim, ele mesmo! Essa também era uma de suas funções. Ele ainda preparou uma omelete diferenciada. Para encerrar, marcamos a cidade de Torres no grande mapa de hóspedes do Castelo de Damigny, ao lado de poucos brasileiros e muitas pessoas de várias partes do mundo.
A história do Château de Damigny
A história do Château de Damigny é densa e particularmente conhecida até hoje. Há quase dois mil anos, um certo Dominius, galo-romano, estabeleceu ali o seu domínio, abaixo da estrada que ligava Bayeux (Augustodurum) a Vieux e Lisieux. A propriedade era então apenas uma ilhota emergindo de um pequeno lago. Em 1150, a história do castelo se torna mais clara, quando Guillaume de Glos vendeu a propriedade a Robert, cujo neto se casou com Gauthier du Plessis, o primeiro de uma linhagem de senhores de Damigny.
Durante o século XIII, o castelo desempenhou um papel estratégico na defesa da região de Caen, sendo referido como “Château d’Amigny”. Situado em uma ilha cercada por um vasto lençol de água, o castelo contava com uma torre de defesa que controlava o acesso por uma ponte levadiça. A água que circundava o castelo era alimentada por uma fonte natural, que ainda hoje abastece o tanque na entrada da propriedade. Em 1372, o castelo foi reforçado com novas fortificações. Por volta de 1380, a propriedade passou para Lucas de Longaulnay, a família Longaulnay governou o castelo por mais de dois séculos, tornando-se influente e aliada à coroa francesa. Hervé III de Longaulnay serviu a três reis, e acredita-se que ele tenha construído a torre defensiva que ainda permanece no castelo.
Durante a Revolução Francesa, a propriedade foi confiscada e dividida em parcelas, e o castelo entrou em decadência. No século XIX, a família Carpentier restaurou o castelo, transformando-o no edifício que existe atualmente. A propriedade foi vendida diversas vezes ao longo do século XX, sendo utilizada para diferentes fins, até ser comprada, em 2009, por Vincent Capon e Corinne Matton, que iniciaram um processo de renovação, convertendo-o em uma hospedaria. Hoje, o Castelo de Damigny preserva séculos de história, oferecendo aos visitantes um mergulho em seu rico passado.