“UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS”; não com homens em armas!

Em meio a suposta  Feira do Livro em Torres, pois não é propriamente Feira,   anunciado o IV FAROL LITERÁRIO DE TORRES e I FESTA LITERÁRIA DO VALE DO MAMPITUBA, de 13 a 15 de novembro próximo, ocorre-me trazer à tona  textos de dois bons escritores da cidade: Solange Carlos Borges e Jorge Saes.

22 de outubro de 2022

Em meio a suposta  Feira do Livro em Torres, pois não é propriamente Feira,   anunciado o IV FAROL LITERÁRIO DE TORRES e I FESTA LITERÁRIA DO VALE DO MAMPITUBA, de 13 a 15 de novembro próximo, ocorre-me trazer à tona  textos de dois bons escritores da cidade: Solange Carlos Borges e Jorge Saes. Diz a letra de uma velha canção de Noel Rosa, na qual afirma o valor ético e estético do morro que, “em Mangueira, quando morre um Poeta, todos choram”. Poeta não é aquele que faz versos, mas aquele que vive como Poeta e ainda faz versos, escreve crônicas, romances e letras de música, debruça-se sobre a Arte e  para ela vive, encantando e  inquietando coevos e pósteros.   Torres deveria conhecer mais seus comoventes “malditos”.  (No último dia 20, alás, foi nosso dia: O DIA NACIONAL  DO POETA). Ei-los:

 

Solange Carlos Borges :MOMENTOS

Um marasmo toma conta de meu corpo e dos meus sentimentos. Meu cérebro não consegue lutar e vencer o que esses tempos estranhos fazem com o Planeta, com pandemias e guerras. Pandemias e guerras sempre existiram. Sou parte desse Universo e tudo o que acontece atinge a todos. Muito mais ainda aos de extrema sensibilidade. Meu caso, embora não pareça. Minha aparência não mostra o que tenho por dentro. Uma palavra, um gesto, um descuido, um humano deitado na calçada, mães com crianças no colo pedindo esmola, são motivos para o desconforto e a descrença que tudo pode mudar nesse mundo onde o poder e a fortuna são prioridades.

Nessa manhã de estranha primavera, uma chuva fina cai e, daqui da janela, vejo a cortina feita de gotinhas finas molhar as árvores que ainda vivem na minha quadra. Eram mais, restam poucas. Uma delas está com os dias contados. Assim como eu e outros velhos que ainda restam e habitam aqui na minha quadra. Amém.

 

Jorge Saes : SINESTESIA.

Num pequeno gesto, num gosto, cheiro, odor, perfume, uma flor: a transposição.

Um música, uma dança, um olhar, tudo pode nos reconduzir para algum lugar, para um momento, um passado, mas muito presente no aqui e no agora.

Alphonsus de Guimaraens, disse assim:

“Nasce a manhã, a luz tem cheiro… Ei-la que assoma

Pelo ar sutil… Tem cheiro a luz, a manhã nasce…

Oh sonora audição colorida do aroma!”

Tudo é muito sinestésico.

O sinestésico pode ouvir o gosto de um amanhecer e estar lá, presente, sentado na areia da praia encontrando-se, ainda, sob lençóis.

Transporta-se, sem hiatos, entre dois mundos:

O mundo real e o mundo ideal, o que elege para viver “lúdicos” momentos, acreditando estar lá, muito vivo e presente.

Quais desconhecidas sinapses em nossos neurônios fazem cooptar esta descarga de memórias e recordações com extrema fidelidade de cores, aromas, sons, ambiência e sentimentos?

No livro “Em Busca do Tempo Perdido”, Marcel Proust, utiliza imagens idênticas quando seu herói, na degustação de um simples bolinho mergulhado em uma xícara de chá, faz renascer a cidade dos seus sonhos, ou então, em seu outro dizer:

“para abrir os olhos e fixar o caleidoscópio da escuridão e saborear, graça a um lampejo momentâneo de consciência, o sono em que estavam mergulhados os móveis, o quarto…”

Uma amiga, esposa e um grande amigo, ao ouvir a música Hojas Secas, e ver o vídeo onde dançarinos faziam evoluções, que postei no Facebook, telefona-me para agradecer e relatar ter conseguido transportar-se à Cidade de Jaguarão-RS., no Teatro Esperança, em tenra idade, quando lá se apresentava compondo um corpo de balé, ao som desta melodia, enquanto folhas secas de árvores eram derramadas sobre os dançarinos envolvidos pelo som que violinos faziam chorar em harmônicas notas musicais.

Viu, ouviu, sentiu, reviveu.

Seus pés, em posição, executaram demi-plié, arabesque, passé e rodopiou, sem tempo nem espaço, no compasso de um coração e de uma saudade.

Sinestesia: “relação que se verifica espontaneamente (e que varia de acordo com os indivíduos) entre sensações de caráter diverso mas intimamente ligadas na aparência (p.ex., determinado ruído ou som pode evocar uma imagem particular, um cheiro pode evocar uma certa cor etc.)”

 

 




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