O Dia Internacional das Mulheres é celebrado, anualmente, no dia 8 de março. Destacando esta importante data, faço aqui minha homenagem às mulheres no seu dia, na sua semana, no seu tempo, enfim, chegado. Para tanto, trago um texto da poeta e cronista portuguesa Ângela Caboz
PEDAÇOS DE MIM
Por Ângela Caboz
O medo tentou raptar-me.
Levou-me por caminhos incertos. Mostrou-me os espinhos e escondeu
as rosas. Quis-me fazer acreditar que a Primavera não iria voltar e que eu
estava definitivamente condenada a sofrer.
O medo convidou-me para conhecer o lado oposto da vida. Roubou-me
o sol e disse-me que na escuridão tudo era mais perfeito.
Atordoada segui-lhe os passos sem compreender que não estava a
caminhar. Com ele só poderia retroceder ao que não queria voltar a viver. Ele
queria impor as suas regras e mudar quem eu sempre fui por vontade própria.
Apagou-me o sorriso dos lábios. Riscou a palavra felicidade do meu
dicionário.
Aceitei ser refém dessa sombra para que ninguém visse o tormento que
me perseguia. Não queria que vissem a cor da minha mágoa, nem sentissem o
cheiro do meu sofrimento.
Fiz essa viagem ao fundo do abismo. Quis acreditar que o mundo era
um inferno em chamas e que sofrer era a forma certa para viver. Quis
perder-me no meio da escuridão para não ver o que está à minha volta.
Só que a meio do caminho senti o cheiro do amor. Vislumbrei as pétalas
de uma rosa por entre os raios do sol que não obedeceu às ordens do medo e
continuava ali a iluminar os meus dias naquela floresta negra onde andava
perdida.
Chamei pelo amor, indiferente ao olhar ameaçador do medo que me
queria calar a todo o custo. Chamei por mim e pedi de volta todos os meus
sonhos sem querer saber se o medo iria ou não aceitar esta minha decisão. A
vida era minha e ele era apenas um intruso que estava a virar do avesso a
minha realidade.
O medo quis raptar-me, mas o amor ensinou-lhe que num coração com
sentimentos quem manda é ele. Expulsou o medo da minha vida e comecei a
viver de braço dado com a alegria que o amor me mostrava, desenhando linhas
por onde deveria caminhar se quisesse continuar a sorrir.
O medo retirou-se contrariado, mas ninguém lhe deu grande
importância. O foco era viver e sentir a vida a cada momento e essa é uma
dança que o medo não sabe dançar