Um pouco de História

Estamos, todos nós, tão alarmados com a agitação provocada por uma sucessão de violências à lei, tanto da parte da sociedade como do Estado, expressas e recorrente e sucessivos fatos trazidos à público, que estamos ficando cegos à História que subjaz.

Pintura 'Operários', de Tarcila do Amaral
23 de maio de 2017

Meu amigo Marco Aurélio Nogueira, Cientista Político, de Sáo Paulo, lembra, hoje, no seu face, o grande e instigante Joaquim Nabuco,  estadista do II Império, autor de várias obras, dentre as quais “Minhas Formação”, da qual ele pinça na pagina 133, esta pérola:

 “Há duas espécies de movimento em política: um, de que fazemos parte supondo estar parados, como o movimento da Terra que não sentimos; outro, o movimento que parte de nós mesmos. Na política são poucos os que têm consciência do primeiro, no entanto, esse é, talvez, o único que não é uma pura agitação”.

A lembrança vem ao caso neste turbilhão de ódios, ressentimentos e polarizações que ocupam a vida pública do país. Fica dando a impressão que estamos numa imensa roda gigante descontrolada que expele a cada volta um de seus incautos – ou não! – passageiros. O resultado é uma sensação de caos, que os sociólogos chamam de anomia. Anomia, em sua origem grega, significa sem-nomos, isto é, sem regras, uma situação social em que a Lei perde sua eficácia e se tem a impressão que vamos voltar à barbárie. Lei, afinal de contas, é Lei. É o princípio que mantém a cidadania e o Estado, que são as duas faces da sociedade, a desarmada e a armada, de pé. De pé, sob tensão e permeada de violência, pois o homem, como princípio e fim de tudo, é movido por gene egoísta que o lança no mundo como homo pugnas, antes que sapiens. Não obstante,  como ensina um respeitável estudioso do Direito, Lênio Streck:

“Ilegalidade é ilegalidade. Não tem cor, sexo, sabor, ideologia. Se aceitarmos que o Direito seja substituído por juízos morais ou políticos, não mais teremos Direito”

Estamos, todos nós,  tão alarmados com a agitação provocada por uma sucessão de  violências à lei, tanto da parte da sociedade como do Estado, expressas e recorrente e sucessivos fatos trazidos à público, que estamos ficando cegos à História que subjaz. O resultado é um pessimismo generalizado quanto à Política e o que é pior, quanto ao Brasil, que leva uns ao ceticismo, outros à tentativa de sair do país, outros à lamúria, até à mais violência.

Nestas horas é bom lembrar do eixo principal que nos moveu no século XX, fazendo do Brasil um caso excepcional de transformação de um fazendão do café numa das maiores e mais sofisticadas economias do mundo, simultânea ao crescimento notável de uma população de pouco mais de 10 milhões de habitantes em 200 milhões, tudo isso dentro de uma moldura institucional sólida edulcorada por uma vibrante singularidade cultural. Quero dizer: O Brasil deu certo, malgrado tudo. Sob trancos e barrancos fez história e estrangeiros ficam pasmos diante das nossas realizações. Verdade que, desde a década de 80 estamos procurando novos caminhos, que completem a empresa econômica bem sucedida. Estamos, talvez, no  vértice desta transição que exige uma grande aliança nacional sobre os caminhos a seguir. Até agora, tateamos ao sabor dos fatos. Talvez tenha chegado a hora e voltar atrás e ver não o que deu errado, mas como e onde acertamos. Talvez aí esteja a verdadeira luz no fundo do túnel. E aí não há como deixar de lembrar dois nomes: Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães.




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