A força da oposição venceu a eleição em Torres. Minha analise é a de que não foi o candidato Matheus Junges (UB) que tirou votos do candidato Nasser Samhan (PP). Foi a oposição ao estabelecido há oito anos que formou um rio caudaloso, que não havia quem se opusesse a ele – nem com uma campanha bem organizada pelo Nasser, com recursos de marketing bem acima dos concorrentes.
A própria campanha da situação (PP), através de Nasser e Tubarão, iniciou sua aproximação à sociedade afirmando que reconhecia, sim, que o trabalho que estava faltando na cidade era o de atender mais os bairros. Foi está a direção mostrada pelo candidato do PP no início da campanha, talvez para tentar abafar o argumento da oposição (que definia a necessidade de maior cuidado aos bairros como destaque já antes da campanha), o que não ocorreu. Ao contrário, penso que o resultado para a campanha do PP mostrou que foi uma espécie de tiro no pé “normalizar” a falta de atendimento dos bairros como um assunto que seria pauta de todas as campanhas, inclusive a deles. O que acabou ocorrendo foi o reforço do ‘rio da oposição’, já fluindo há tempos me Torres.
Penso que o PP, portanto, exagerou na dose da propaganda no chamado “composto mercadológico” Produto/Preço/Promoção e Pontos de Venda). E colocando tantas fichas na embalagem do produto (Promoção/propaganda) retirou recursos financeiros e de conteúdo ideológico do “Produto” na campanha: deixou de valorizar os feitos de Carlos Souza nos oito anos, deixou de citar o quanto a atual gestão do PP transformou a infraestrutura turística com as obras nos pontos da orla, do mar e do rio; deixou de repetir que estes avanços ajudaram ou podem ter sido vitais para o aumento do movimento no turismo do município, inverno e verão, dentre outros, que em minha visão deveriam compor o “produto” da campanha de Marketing eleitoral.
Também em minha humilde avaliação, sobre a vitória de Delci, esta foi oriunda do excelente planejamento realizado pelo ex-prefeito João Alberto junto ao candidato do MDB, desde março deste ano. A definição da imagem a ser passada pela campanha, imagem de atuar com simplicidade, próximo ao povo mais simples, nos bairros, anunciando os lugares que precisavam de um trabalho especial também. A campanha buscou ser simples como (a maioria) do povo, nos itens básicos da comunidade como Ruas (vias), Saúde, Educação, Transporte Público e etc.. Tudo isso contribuiu inclusive para a escolha de Delci como o representante legítimo desta demanda, porque ele era, é e sempre será assim. Este foi o Produto do composto da campanha do Delci.
O plano tático de não bater (muito) na concorrência de forma pessoal, de não abandonar suas promessas simples, mesmo em nome de desafios complexos elencados pela concorrência (dos dois lados) também foi fundamental. Portanto, a campanha de Delci foi a mais vitoriosa. Teve uma candidatura com a cara de um candidato e manteve o discurso de inicio ao fim.
O jovem Matheus Junges (UB) foi mais “guerrilheiro”. Ele pegou a mesma corrente do rio, que pedia oposição ao estabelecido, e apresentou propostas mais progressistas como forma de mostrar seus planos. Se mostrou muito bem no debate e conseguiu muita coisa, principalmente conseguiu reforçar a ideia de mudança, que acabou ajudando na vitória do MDB. Penso que Matheus poderia inclusive ser levado a se coligar com o governo futuro, porque as propostas apresentadas podem ser base de mudanças necessárias para a cidade… além de ter ajudado o povo a valorizar a tendencia de troca de comando apresentada no resultado do pleito com quase 65% da soma dos dois opositores.
Resumindo. Parece que a vitória do MDB, mesmo com a campanha muito mais simples, foi conquistada porque o plano foi bem feito e bem executado. E talvez porque o eleitor torrense quisesse mudança (após 8 anos de Carlos Souza a frente da Prefeitura)
Mas outra hipótese que pode ser levada em conta neste diagnóstico do resultado de Torres poderia também ser oriunda de um erro de leitura do PP, ao não se apegar no ótimo legado deixado pelo prefeito Carlos Souza, preferindo falar sobre o que ia fazer – sinalizando que concordava com a tendência do ‘rio da oposição’, deixando-o mais caudaloso e quase imbatível pela força da corrente.
CURTAS
Na minha opinião, a eleição em Torres foi de alto nível. Os candidatos se mostraram que são bons líderes políticos, o perfil correto de chefes e dirigentes. Agora o importante é a contratação de técnicos, que são especialistas em implementar de forma científica e organizada as decisões políticas.
Em Arroio do Sal o ex-prefeito Rocha caiu de paraquedas no meio da tendência de um novo embate entre o ex-prefeito (agora prefeito eleito) Luciano Pinto e Diego Quadros, e acabou deixando em terceiro lugar o representante da continuidade do bom governo Bolão pelo MDB. Talvez, se a campanha de continuidade (MDB) valorizasse mais o que foi feito ao invés de assumir defeitos, o embate poderia ser mais parelho. Também em Arroio do Sal, a vontade de mudança ganhou, e mudança mantendo um candidato que substitui o estabelecido fica difícil.
“Uma derrota eleitoral, mas uma vitória política”, diz Matheus Junges. Para o terceiro candidato no pleito de Torres, a sua campanha, ao ter mais votos que as chapas de Tubarão e de Alessandro em 2020, sugere que o mote de sua estratégia foi vitorioso. Concordo. Ouvi muita gente que disse trocar, trocar principalmente o voto do Nasser para o Matheus, mas também ouvi de trocas de votos do Delci para o mesmo Matheus.
A campanha em Torres se comportou como na maioria. A escolha do PDT em se coligar geralmente é a escolha vencedora, uma espécie de fiel da balança em Torres. Em 2020 o PDT teve um candidato: o Tubarão. Por isso não estava junto com a chapa vitoriosa. Mas nas campanhas onde a oposição tirou a situação, (2004,2012 e agora 2024) o PDT sempre estava presente. Não sei se por este se aproximar do que mostra mais chance (é esperto) ou se, ao contrário, ao se aproximar, acaba dando mais chances ao vitorioso. Vai saber… filosofia de Buteco.
O PT de Torres mostra que é um movimento de militância bem funcional. É o partido que mais sistematicamente tem partidários em ação, defendendo com unhas e dentes o seu candidato. Dificilmente se vê dissidências, traições internas no PT. A característica do partido cada vez mais sugere que ele se comporta como um sindicato, que defende a bandeira da importância do setor público na vida das pessoas… embora eu, particularmente, ache que progredir é diminuir a dependência do setor público da vida cidadã, em todas as esferas, municipal, estadual e federal. Mas há de se parabenizar o PT. Democracia é isto.
O ex-prefeito João Alberto me afirmou que vai trabalhar até o último dia do ano de 2024 junto ao Delci para montar o time e a tática de governo que deverão ser o norte da administração em Torres. Mas que de forma alguma irá trabalhar na prefeitura. Talvez haja, isto sim, a combinação para João ser o próximo candidato da coligação, em 2028…. mas aí é pura especulação
Ventilo aqui, pessoalmente, que o vice-prefeito eleito André Pozzi poderá ser o secretário de Turismo na administração Delci Dimer. Se não for secretário, deverá ser pelo menos um mentor da área, incluindo a Cultura dentro desta secretaria. Ele sempre teve participações nesta ideologia quando de outras aproximações políticas na cidade. E acho um bom nome. Olho no lance.
O ex-secretário de Turismo na gestão João Alberto, Roniel Lumertz, mudou o patamar de profissionalização no Turismo em Torres e pode também voltar a ser o secretário do governo Delci. Mais uma sugestão da coluna.
Imagino que o PT deverá ter uma cadeira na área de Cultura de Torres, com uma Secretaria ou com uma diretoria (gerência na época do João Alberto) dentro da Secretaria de Turismo.
Penso que a secretaria da Educação deverá também ser ocupada por um brizolista (PDT). O professor Belimar, em minha opinião, será bem contado dentro da agremiação. Até porque o PDT não conseguiu legenda nem para um vereador, embora tenha tido dois nomes bem votados (Belimar e Jacó Miguel)
A ex-secretária municipal de Saúde, Karla Matos, mora em Brasília, mas caso resolva voltar pode também ocupar novamente a secretaria em Torres. Fez um bom trabalho à época, inclusive revertendo a implantação de duas UPAS do programa de Governo de Nílvia (são muito caras – presente de grego), sem gerar muita falação pela mudança, o que mostrou proficuidade por parte da torrense pedetista. Mas teria que sair de Brasília!