VOCAÇÃO TURÍSTICA E ELEIÇÕES

Coluna de Fausto Jr - Jornal A FOLHA - Torres - RS - Brasil

2 de setembro de 2020
Por Fausto Júnior

Teoricamente, parecem existir dois grupos de direcionamento no trabalho do turismo: Turismo Endógeno e Turismo Exógeno.  São dois polos, como direita e esquerda na política. Mas, como na política também, permitem que os posicionamentos sejam mais centralizados.

Turismo Endógeno é àquele que busca turista através de atributo locais já existente, também chamado de Turismo Cultural. Um exemplo deste tipo de conceito de lugar no Brasil é o da Bahia.  Geralmente, as pessoas passaram a ir para Salvador e outras cidades daquele estado por conta da cultura de festas de rua, do carnaval, e de costumes afrodescendentes. Falar em ir fazer Turismo na Bahia é naturalmente falar de Festas de Rua, de rodas de capoeira (afro descendente) de Acarajé, de Abará, e de cultos a santos Católicos e do Candomblé. Geralmente se vê pessoas chegando da Bahia em aeroportos com um birimbau na mão e com fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim no pulso. Não é?

É claro que o mar, os coqueiros, o clima e a estrutura gastronômica de Salvador da Bahia colaboram também. Mas o conceito e a vocação da cidade é a de buscar o Turismo para que participem da CULTURA endógena no local.

Um exemplo radical no outro polo, o de Turismo Exógeno (também chamado de Turismo Industrial) é o de Las Vegas, no EUA. Ninguém foi ou vai a Las Vegas para conhecer o tipo de escorpião do deserto de Nevada. O Turismo por lá é o de CASSINOS.  Foi PRODUZIDO na cidade de Las Vegas um ambiente de jogo. E as pessoas vão lá (assim como o trade de turismo valoriza lá) o consumo no jogo e no prazer que orbita à jogatina, como bebidas alcoólicas, apresentações de shows eróticos, e etc. Se a cidade fosse montada (Turismo industrial) no meio de um ambiente de criação de gado, as pessoas iriam para lá igual.  Uma cidade como Las Vegas pode ser montada em qualquer lugar: basta que tenha aeroportos para receber voos de cidades grandes. Isto é Turismo exógeno radical.

E o conceito que Torres e as cidades do Litoral Norte praticam para captar seus Turistas? Qual seriam? Deveríamos pelo menos ter um caminho, uma vocação mais conceitual.  Ou um Plano de governo que pelo menos cite isto. Ou não?

VOCAÇÃO TURÍSTICA E ELEIÇÕES II

A cidade de Torres e as cidades turísticas de todo o litoral do RS têm muito pouco (ou quase nada) da cultura do povo nativo. E não existe NENHUMA exploração do turismo cultural local. Não existe a valorização da cultura açoriana, nem indígena, nem alemão-italiana (obtida após a segunda colonização da região). Muito menos exploramos algum tipo de gastronomia utilizada por povos antigos em Torres.

A região do Litoral Norte do RS se desenvolveu no turismo vendendo a beira de praia para veranismo ou temporadas de tratamento de saúde que utilizava o mar como terapia. As belezas naturais de Torres podem, por exemplo, ser consideradas endógenas, mas não culturais. A Cultura de banhos de mar foi criada pelos veranistas no inicio do século passado.

E desde então, também não foi valorizado de forma ORGANIZADA em nenhumas de nossas cidades da região, sequer certo conceito arquitetônico que remeta ao veraneio e ao turismo de beira de praia rústico, por exemplo. Ao contrário, os planos Diretores locais sequer definiram que não poderia, por exemplo, construir edifícios na urbe das cidades litorâneas. Atualmente somente parte da Praia de Xangri-lá tem isto definido formalmente. A maioria dos locais (como Torres e Arroio do Sal) permite a construção de edifícios desde sempre. Portanto não houve a valorização de um conceito endógeno de consumo da sensação de estar num local rústico de beira de praia, o que poderia ter sido uma estratégia de turismo endógeno.

No outro lado, no outro polo, cidades como Capão da Canoa / Atlântida, por exemplo, possuem vários exemplos de turismo industrial radical. Lá têm restaurantes de redes nacionais ou estaduais, casas noturnas de rede, lojas de grifes de rede em um número importante, o que sugere a utilização do chamado turismo industrial (exógeno) para atender necessidade dos turistas (na maioria veranistas gaúchos).

Colocar em Torres ou em Arroio do Sal (ou fomentar para) uma loja de hambúrguer internacional, uma loja de roupas internacional, um hotel ou resort de renome mundial e etc., se trata de uma estratégia de equipamento exógeno, uma forma de turismo industrial, consequentemente que não tem nada a ver com a cultura da cidade e de seus moradores. Punta Del Este, no Uruguai é um exemplo clássico de Turismo de beira de praia formatado de forma exógena: para atender necessidades de turistas que consomem produtos que existem de forma igual em todo o mundo ou em um determinado território.

VOCAÇÃO TURÍSTICA E ELEIÇÕES III

Não há quase nenhuma forma de a cidade de Torres (nem de Arroio do Sal) tentar implementar uma espécie de Turismo Cultural, portanto. A menos que se conceitue o veranismo – seja lá onde se mora, desde que seja próximo ao mar – como Cultura de Torres e da região. Mas é o mesmo que dizer que ter cassino e trabalhar com a noite já é cultural em Las Vegas nos EUA, o que é errado, embora seja um fato.

Voltando para o conceito local: Não temos a valorização da pesca como forma de atrair turistas. Não temos a valorização da arquitetura da colonização local do início dos tempos em Torres como forma de atrair turistas. Não temos uma gastronomia com pratos locais definidos (exceto a casquinha de siri).

Já tivemos os Sonhos e os Puxa-Puxas como gastronomia local, mas desapareceram, pelo menos conceitualmente.  Sequer temos uma área onde não se podem construir edificações que não sejam casas unifamiliares, por exemplo. Nosso Plano Diretor não especifica isto em lugar nenhum. Muito menos temos incentivo fiscal para construções com certa arquitetura (como tem a cidade de Gramado para prédios com estilo alemão). Portanto, não podemos dizer que temos algo de Turismo Cultural ou endógeno em Torres, ou temos?

 

VOCAÇÃO TURÍSTICA E ELEIÇÕES IV

Mas podemos (Torres – Arroio do Sal) iniciar uma espécie de estratégia de Turismo Endógenos, se houver uma decisão ORGANIZADA. Temos atualmente a maioria dos restaurantes e hotéis localizados nas cidades para atender os turistas e veranistas, formados de pessoas que MORAM por aqui. São poucos os equipamentos gastronômicos importados em Torres e em Arroio do Sal.

Poderíamos, também, criar pratos típicos das cidades que fossem disponibilizados por vários restaurantes, por exemplo, (como já é a Casquinha de Sirí). Poderíamos fomentar para a expansão da indústria local de sorvetes artesanais (como já existe o Gela Goela) e “manquetear” isto como vocação turística local, como Gramado faz com o Chocolate Caseiro de Gramado. Talvez fomentar para que doces ou pratos servidos em restaurantes locais utilizem a banana como matéria prima, ou o abacaxi – ambos os produtos altamente produzidos na região. E depois ligar este tipo de doce ou prato á cultura das cidades do nosso Litoral.

Assim como poderíamos, ao contrário, buscar equipamentos padrão valorizados por muitos turistas como diferencial local para que estes (turistas) visitem as cidades nos veraneios. Poderíamos então ter uma estratégia de turismo exógeno (onde a cidade se adapta ao costume de um determinado público-alvo).  E aí a prefeitura ou a sociedade local tentaria buscar equipamentos nacional ou mundialmente conhecidos como forma de equipar a cidade para os turistas. Buscar uma loja da Mac Donald, por exemplo; um hotel Hilton; uma casa noturna que possui pontos em vários locais; lojas da Lacoste e outras grifes internacionais e etc. Tem muita cidade no mundo que optou por este caminho, uma busca de Turismo de praia com turismo de consumo internacional.

Podemos, também, optar por ter as duas estratégias, desde que a cidade tenha pelo menos uma tendência a ser mais valorizadora dos atributos locais (no nosso caso a natureza) ou mais valorizadora dos equipamentos artificiais (parques, lojas restaurantes e etc.).

As eleições estão aí. E os candidatos a prefeitos deveriam ter pelo menos uma noção do caminho que a sua estratégia de governo terá, caso forem eleitos ou reeleitos, em Torres e em Arroio do Sal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 




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