O último final de semana (dias 10 e 11 de março) foi de calor intenso em todo o Rio Grande do Sul, e consequentemente as praias lotaram. Em Torres, milhares de banhistas lotaram a orla, aproveitando o sol, o mar com temperatura agradável e águas (relativamente) tranquilas. Mas em comparação com os últimos dias do veraneio, havia uma diferença literalmente vital: a falta da presença dos guarda-vidas nas guaritas da beira de praia, no primeiro final de semana após o término da Operação Golfinho no estado. E as consequências foram fatais, com afogamentos e 5 mortes em águas gaúchas – 3 destas em Torres
Na Praia Paraíso – no limite dos municípios de Torres e Arroio do Sal – Fabrício Matos, de 45 anos, morreu afogado por volta das 11h da manhã de sábado (10). Segundo testemunhas, ele afogou-se ao tentar ajudar no resgate de um jovem que estava se afogando, Laisson Rian Borges de Oliveira, que teve sua vida salva. Porém, Fabrício, que chegou a ser resgatado por surfistas, não resistiu. O Corpo de Bombeiros de Torres e SAMU foram acionados, confirmando o óbito após tentativas de reanimação.
No mesmo sábado (10) mas um pouco mais tarde, por volta das 15h, o servidor da prefeitura de Nova Palma, Adler Marcelo Cargnelutti, de 43 anos, se afogou-se na região Prainha. Resgatado, houve difícil reanimação da vítima pela equipe do SAMU e Corpo de Bombeiros. Conduzido em estado grave para a UTI do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, ele não resistiu e morreu na madrugada de domingo.
O terceiro caso de óbito nas águas de Torres aconteceu no início da tarde deste domingo (11), nas proximidades do caminho da Santinha (Entre a Prainha e a Praia da Cal). De acordo com os Bombeiros, a vítima ainda não foi identificada porque ninguém procurou as autoridades para dar queixa do sumiço da pessoa, que estava sem os documentos.
Conforme relatado nesta segunda-feira (12) no Facebook por um morador torrense – e surfista – a situação do final de semana poderia ter sido mais trágica não fosse, mais uma vez, a proatividade de surfistas e bombeiros (trabalhando voluntariamente) que resgataram pessoas em apuros no mar da Praia da Guarita no domingo.
A Operação Verão encerrou no fim de semana passado com o positivo dado da redução recorde no número de salvamentos e afogamentos, comparando com os últimos 10 anos. Entretanto, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros sobre as últimas temporadas em Torres , nos últimos 3 anos, 6 pessoas vieram a óbito por afogamento, após o encerramento da Operação.
Contatado pelo jornal A FOLHA, o Tenente coronel Jéferson Ecco, comandante do Corpo de Bombeiros Militar no Litoral Norte, salientou a necessidade dos banhistas redobrarem a atenção ao entrar no mar em momentos que as praias estão desguarnecidas pelos guarda-vidas. “A pessoa deve sempre respeitar e adotar uma postura precavida ao entrar no mar, principalmente se não tem familiaridade (com o oceano). Quando o banhista cai em uma corrente de retorno,por exemplo, os riscos são enormes. Deve-se fazer valer o alerta ‘água no umbigo, sinal de perigo’ – e quando não há serviço de guarda-vidas na orla, vale mais ainda esta dica, estar preventivamente ligado para evitar acidentes.”
Buscando uma posição institucional do Corpo de Bombeiros do RS em relação aos afogamentos deste final de semana, o jornal A FOLHA tentou contatar o subcomandante-geral dos Bombeiros. Entretanto, nossas ligações não foram atendidas.
Tragédias anunciadas (e debatidas)
Infelizmente, a falta de segurança aos banhistas em Torres fora da alta temporada é uma realidade antiga e recorrente – responsável por ceifar várias vidas nos últimos anos. O assunto também vêm sendo pauta frequente no jornal A FOLHA. Registramos que entre 2013 e 2016, por exemplo, doze pessoas morreram afogadas apenas na Praia da Guarita, sendo quatro mortes na alta temporada (dezembro a março) e oito na baixa temporada (março a dezembro). Foi o que informava um relatório do Corpo de Bombeiros de Torres apresentado em reunião do Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMMAM) realizada em julho de 2016. Na época, um projeto de plano preventivo foi apresentado, com possíveis alternativas para o problema. Aumentar o período da Operação Golfinho, de 1 ° de dezembro até o feriado de Páscoa – com reforços em pontos estratégicos da orla em finais de semana e feriados – foi uma das propostas. Esta, entretanto, depende da ação/vontade do Governo do Estado, e acabou não se concretizando.
No ano passado, após um feriado de 15 de novembro com calor e praia movimentada, a falta de segurança para banhistas voltou a entrar na pauta do jornal A FOLHA. Na ocasião, várias pessoas que passavam sufoco no mar foram resgatadas na Praia da Guarita por surfistas – em época também desguarnecida por guarda-vidas. E o COMMAM, em reunião na época, reforçou a importância de – uma vez que já existe plano preventivo costurado – garantir que ele seja PLANEJADO COM ANTECEDÊNCIA e formalmente implementado, com a finalidade de prevenir futuros afogamentos (e mortes). Entre outras opção de segurança aos banhistas sugeridas para Torres nos últimos tempos, um modelo que já existe em outras cidades: os salva-vidas civis. Estes seriam treinados e coordenados pelo Corpo de Bombeiros, estando preparados (como os surfistas já citados) para resgatar pessoas em apuros no mar, em épocas desguarnecidas por guarda-vidas.
Tendo em conta a decisão institucional do Governo do RS de não prolongar o trabalho dos guarda-vidas nos finais de semana (fora da alta temporada), a imprudência de banhistas que não conseguem projetas os riscos do mar e as estatísticas contabilizadas nos últimos tempos, infelizmente podemos prever que mais mortes ocorrerão nas águas de Torres (e do litoral) nos próximos anos…. a não ser que algum plano preventivo – e efetivo – seja posto em prática.
