Em operação a mais de 17 anos e com espaço para tratamento para mais de 30 pessoas ao mesmo tempo, a Comunidade Terapêutica Renovar – que trata dependentes químicos em Torres – corre risco de ter de encerrar suas atividades. É que a falta de recursos com a crise que assola o país acabou pegando, também, na questão da sustentabilidade financeira da entidade. Ligada à ONG Amor Exigente, a Renovar é sustentada por pagamentos mensais de alguns pacientes que possuem recursos, que por sua vez sustentam os outros pacientes que são internados na Comunidade sem o ônus do pagamento – ou com pagamentos irrisórios, que não cobrem sequer metade dos custos do tratamento individual. E esta relação nos últimos meses tem se afunilado, ou seja: tem mais gente entrando sem condições de pagar o tratamento do que pessoas que possuem familiares com recursos.
O assunto entrou mais uma vez em debate nos pronunciamentos da Câmara Municipal na sessão da última segunda-feira, dia 8/5. O vereador Tubarão (PMDB) lembrou que espera que os R$ 30 mil encaminhados por emendas de sua autoria na LDO de 2017 sejam utilizados para salvar a Renovar. Já o vereador Deomar Goulart, o Dê (PDT), também pediu providência e sugeriu que a prefeitura de Torres firmasse convênios com a Comunidade Renovar, a fim de viabilizar o dia-a-dia do espaço de tratamento de saúde mental.
Por que a Renovar não recebe internações compulsórias?
A FOLHA esteve visitando mais uma vez a comunidade na manhã de quinta-feira (11/5). Lá, o coordenador Fabrício (que também é ex- paciente da Renovar e trabalha voluntariamente no local) e Ediele – uma amiga da Comunidade, que ajuda atualmente a administração da Renovar a organizar as questões de sustentabilidade financeira e encaixar a entidade em convênios para viabilizar o funcionamento da mesma – conversaram com a redação do jornal para explicar o que acontece e mostrar a fragilidade financeira que atravessa a Comunidade Terapêutica. “Temos 16 pessoas de Torres, muitas delas que foram encaminhadas através de indicações do CAPS local ou até do Conselho Tutelar da cidade, mas não temos nenhuma colaboração da prefeitura”, afirma Fabrício Netto, atualmente o representante da Comunidade Terapêutica. “Estamos tentando fazer um convênio com a prefeitura, já conseguimos que houvesse uma emenda no orçamento que encaminhou R$ 30 mil para ser repassado para a Comunidade, mas até agora não obtivemos resposta”, desabafa o coordenador do bonito e resolutivo espaço de recuperação – localizado dentro de Torres, na Estrada do Mar, ao lado das instalações do Canil Municipal e no fundo da Casa de Passagem para crianças de Torres.
Já a amiga da casa, Ediele, quer que a Renovar seja incluída, por parte das autoridades locais, nas chamadas “Internações Compulsórias”. “São valores pagos pelo Estado (Prefeitura, Governo Estadual e Governo Federal) após o poder judiciário ordenar a internação de pessoas consideradas surtadas por dependência Química em questões familiares e outras”, afirmou Ediele. “Pelo que nos foi informado, são gastos de R$ 4 mil a R$ 7 mil mensais nestas internações, mas a Comunidade Renovar nunca recebeu nada aqui em Torres e parece que a cidade têm verbas gastas nisto… Por quê?” desabafou a administradora. “Queremos somente fazer um convênio com a prefeitura local para, pelo menos, contar com estas verbas de internação obrigatória, que são ordenadas pela justiça. Mas o que queremos, afinal, é conveniar com a prefeitura e trocar objetivos da sociedade local – que tem pessoas a serem tratadas – com nossos objetivos: de tratar”, disse Ediele para A FOLHA.
Campanha pode ser realizada para angariar fundos
A Renovar quer tentar viabilizar sua sobrevivência com apoio público, mesmo que até agora – após 17 anos – nunca tenha a Comunidade recebido nenhuma verba oficial. Já foram vários orçamentos que receberam emendas (como a do vereador Tubarão – que está pendente), mas que nunca chegaram à entidade. Além disso, ocorreram várias tentativas (frustradas) de aproximação entre a prefeitura local (em várias gestões) e a comunidade, conforme demostram os atuais administradores ao resgatar documentos e mostrar para A FOLHA.
“Se a prefeitura não apressar as soluções, a Renovar será obrigada a promover uma campanha para angariar recursos para a sua sobrevivência, principalmente para manter os tratamentos em andamento”, afirma Fabrício Netto. “Se não der isto, corremos o risco de encerrar as atividades, o que seria muito ruim para as famílias e para a comunidade de Torres”, lamentou.
Área da comunidade foi confiscada de traficante
A Comunidade Terapêutica Renovar funciona em uma área doada pela Polícia Federal – na Estrada do Mar – quando a mesma sequestrou um sítio adquirido com dinheiro do tráfico por um traficante condenado pela justiça. Lá funcionava um laboratório de produção de Cocaína. E atualmente o local só pode ser utilizado para este fim: o tratamento de dependentes Químicos, sob a tutela da ONG Amor Exigente – uma entidade sem fins lucrativos que é gestora da Comunidade Renovar. Trata-se de uma política pública nacional para ajudar o tratamento da Dependência Química.
O tratamento aqui na cidade é feito em um período de nove meses de internação. Lá na Renovar, os dependentes em tratamento trabalham para se livrar do vício químico e do vício psicológico através de técnicas de terapia ocupacional, espiritual e de entidades que trabalham com a drogadição, como Alcóolicos Anônimos (AA), por exemplo. Portanto, durante o período em que se tratam, os dependentes químicos aprendem ofícios como cozinhar, plantar, dentre outras atividades que podem ser utilizadas por eles para a reinserção social.