Constantes queimadas na região de Torres geram reclamações, dano ambiental e problemas respiratórios

Um dos caso mais forte, o da Vila São João, teria sido causado por acidente. Estiagem maior e queima irregular de lixo seriam algumas das razões dos incêndios, que se espalham pelos campos dando trabalho para o Corpo de Bombeiros

FOTO: Bombeiros no combate ao fogo na Vila São João: combate as queimadas tem sido constante
22 de abril de 2020

Na última sexta-feira, dia 17 de abril, já surgiam reclamações de vários moradores da Vila São João acerca da fumaça que se espalhava pelo bairro torrense e redondezas. O fogo continuou e as reclamações se mantiveram durante todo o final de semana. No sábado (18), o Corpo de Bombeiros nos enviou fotos de ação contra fogo na Praia Real – onde outro incêndio foi controlado, mas vitimou também animais silvestres como tartarugas (os profissionais esforçaram-se para salvar algumas, ainda vivas em meio aos restos queimados da vegetação).

Na segunda-feira (20) postagens em rede sociais sobre os incêndios tornaram-se ainda mais frequentes, e os moradores começaram a informar que a fumaça estaria inclusive exigindo que as residências fossem fechadas para evitar o sufocamento.  Várias reclamações aos Bombeiros já verbalizavam problemas respiratórios em pessoas causados pela fumaça quase que intermitente durante a noite.

O que é certo é que, além do prejuízo ambiental, aquele ato inconsequente do incêndio atrapalha (e muito) a vida da comunidade no geral – onde quer que aconteça.

 

Incêndio que vai e volta

 

Já na sexta-feira (17) entramos em contato com o Corpo de Bombeiros, que confirmou que o incêndio existia e que teria surgido na noite de quinta feira (15) nas proximidades da Vila São João. Os bombeiros também informaram que o caminhão estaria se locomovendo para lá, para agir mais uma vez apagando o fogo. E o trabalho dos profissionais contra o fogo na localidade seguiu,novamente, nos dias sequentes.

Na mesma sexta- feira, o jornal A FOLHA ligou prontamente para o prefeito de Torres Carlos Souza, sugerindo que fiscais da municipalidade verificassem se o fogo era de cunho proposital, para que então fosse feita uma notificação e uma comunicação oficial para o dono da área. O prefeito Carlos Souza respondeu a indagação da reportagem dizendo que recebeu a informação somente da titularidade de vizinhos da área que estava pegando fogo. E os servidores da Prefeitura informaram também que se tratava de incêndio por causa acidental, talvez até por um cigarro acesso jogado ou por uma fagulha de uma fogueira caseira.  Eles também repetiram a versão dos bombeiros, ou seja: que o fogo teria sido apagado na noite anterior, que havia voltado e teria sido necessária mais uma ação dos profissionais.  Falaram de “terra turfa” como uma das causas da volta do fogo (combustão lenta e degradante de uma densa e compacta camada no subsolo, muito rica em matéria orgânica).

FOTO: Bombeiro tenta salvar tartarugas após incêndio na Praia Real

 

Fogo pode ser causado por queima de lixo que deve ser denunciada

 

Na segunda-feira (20) o comandante do Corpo de Bombeiros de Torres, Edmir dos Santos Cardoso, concedeu uma entrevista na rádio Maristela. Na ocasião, a autoridade em combate á eventos com fogo na região informou sobre os constantes incêndios que:

1 –os eventos são recorrentes nesta época do ano e que neste ano a estiagem maior estaria dando chance para que os incêndios em campos tenham maior ocorrência e importância.

2 –pela constatação e por sua experiência, os incêndios nos campos (que não são só um), como os da Vila São João não estariam tendo indícios de serem propositais, ou seja: seriam acidentes causados por uma queima de lixo de terceiros que pode fazer com que fagulhas ao vento causem o fogo. O comandante lembrou que estas fogueiras para lixo também são proibidas e deveriam ser denunciadas por vizinhos (para a polícia ou para a prefeitura) para que o flagrante do criminoso possa ser feito.

 

Prefeito se manifesta no Facebook e pede desculpas.

 

Na terça-feira o prefeito de Torres Carlos Souza, consternado com o aumento de reclamações da população que causa problemas respiratórios – como causam as fumaças das queimadas justamente em tempos de pandemia – acabou se manifestando em sua conta no Facebook.  Ele postou o seguinte texto:

SOBRE AS QUEIMADAS. Estive nos locais para avaliar a situação em vários pontos. Vila São João, nas praias do sul, Recivida, entre outros. Lamentável o que encontrei. Irresponsáveis que por negligência ou crime ambiental colocam a vida das pessoas em risco, além de causar diversos problemas de saúde. Registro o trabalho dos bombeiros e das equipes da secretaria de obras, que lutam para conter, diminuir e acabar como o fogo e a fumaça. Estamos tentando… Lamentável… Peço desculpas às pessoas atingidas. Estamos tentando”.

A FOLHA conversou com pessoas que moram próximo ao maior foco de incêndio em campos, o da Vila São João. Uns até conhecidos dos donos das terras. Informações obtidas por mais de uma fonte dão conta que o fogo neste caso não foi proposital. E uma prova disto é o fato de galpões que existiam nas terras incendiadas foram queimados pelo fogo, causando fortes prejuízos aos proprietários.

Mais de uma fonte também indicou que o fogo surge de novo por conta de a terra estar tão seca, e que mesmo após o fogo ser apagado pelo corpo de bombeiros, as raízes da grama voltam a combustão mesmo embaixo da terra, o que causa a volta do fogo à superfície, uma situação de certa forma sinistra.  Mas esta situação não é nova: acontece em locais secos como estão os campos do sul do Brasil com a seca dos últimos meses. E a fumaça vai voando, se espalhando e incomodando a comunidade

 

Investigação de possíveis crimes ambientais

 

O número elevado dos focos de incêndio nos últimos dias está sendo investigados pelas autoridades locais para confirmar os casos que são causados de forma proposital (por queima de lixo ou outras ações criminosas) ou de formas acidental (causa provável do incêndio da Vila São João).

O fogo concentrado e descontrolado causa problemas de saúde a todas as pessoas, principalmente àquelas que possuem debilidades crônicas do sistema respiratório, como asma, renite, enfisema, dentre outros, justamente os atualmente conceituados como parte dos “grupos de risco” de morte por Convid-19 na pandemia do Coronavírus. Além de mal á saúde humana e animal, os incêndios também causam mazelas em lavouras, residências e reservas ambientais.

A queimada sem licença de órgão ambiental é tida pela lei brasileira como Incêndio Criminoso. É punida pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), com penas que variam de um a quatro anos de reclusão para os condenados.


Publicado em: Geral






Veja Também





Links Patrocinados