DIÁRIO DE MOCHILA – Finalizando um ciclo de aventuras e aprendizados (último texto)

Buenas! Hoje, em minha 55ª edição, após muito compartilhar sobre minhas viagens e experiências mochilando (e vivendo) pelo Brasil, finalizo meu ciclo como colunista do Jornal A FOLHA Torres (pelo menos por agora...)

FOTO - Pipe em praia deserta no litoral sul paraibano
2 de setembro de 2023

Já faz algumas semanas que não escrevo por aqui e existem alguns motivos para isso. O principal é por eu estar, há cerca de uns 2 meses, sem nicotina em meu corpo. Sim, parei de fumar. E isso mexeu muito com minha mente. Para piorar, voltei a estrada, após ficar 4 meses no sul com minha família. Ou seja, muitas mudanças. E meu foco passou a ser meu bem-estar mental, principalmente por essa desintoxicação química. Estou a algumas semanas no litoral norte de São Paulo, onde me considero mais em um programa de reabilitação do que efetivamente viajando. Mas estou melhorando cada vez mais. O pior, certamente já passou. E foram diversas as conclusões que cheguei nesse período, buscando entender como poderia melhorar. Uma delas foi que vou tentar escrever um livro sobre os 3 anos de minha jornada. Digo tentar porque não sei até que ponto vai fazer sentido para mim na prática. Se me fizer bem, vai acontecer. Se não, não. E para eu iniciar esse novo momento, onde pretendo conhecer mais alguns lugares do Brasil e escrever essa autobiografia, preciso finalizar esse ciclo como colunista desse jornal. Pode ser algo temporário, apenas. Mas no momento, sinto necessidade de estar com minha mente criativa livre para o livro. E por isso, decidi que essa será minha última edição por aqui. Eu ainda teria bons assuntos e histórias para abordar, mas prefiro fazer agora, um breve resumo desse desfecho da grande epopeia que foi a minha vida nos últimos quase 4 anos.

 

Respostas

Nas últimas edições, eu falava de como a experiência de Jericoacoara havia me presenteado com uma explosão de felicidade e que, ao que tudo indicava, permanecia em mim mesmo após meu retorno ao sul. Foi um desfecho com chave de ouro e que me fez sentir ter nascido de novo (literalmente, acreditem). Minha consciência era a mesma, mas a forma como passei a ver o mundo não. Tudo estava mais calmo e colorido. Era como se eu tivesse mudado de canal em minha mente. E foi quando recebi um nível gigantesco de informações sobre mim mesmo, minha essência e passado. E quando eu também passei a me sentir livre de verdade pela primeira vez em minha vida. Não só aquela liberdade que eu imaginava ter, geográfica e financeira. Mas a liberdade da alma. Uma sensação de autossuficiência difícil de explicar. Ainda tento entender o que gerou isso em mim e não sei se um dia terei todas as respostas. O que posso dizer é que, nos acréscimos, tudo que me moveu a largar minha muito bem-sucedida vida no sul veio a tona. Meu maior objetivo, desde o início, era de me conhecer melhor e entender quem era o Felipe e o que ele faria por esse mundão pelo resto de sua vida, de uma forma verdadeira e feliz. A viagem, desde o início, foi apenas um meio para isso. E a verdade é que, até antes de minha ida a Jeri, eu não tinha essas respostas. Já havia decidido parar justamente por estar cansado de andar e andar por aí sem entender exatamente o porquê disso. Eram várias confusas angústias dentro de mim que eu já não aguentava mais. Mas eis que veio Jeri e mudou tudo isso. Uma felicidade incontrolável que me fez entrar em minha mente para entender o que exatamente aconteceu. E as respostas vieram como nunca haviam vindo antes. Afinal, o que exatamente aconteceu em Jericoacoara? Vou tentar explicar um pouco disso agora e, junto a isso, quem sou eu (pelo menos minha atual visão).

FOTO – Pipe, voluntários e amigos, no Hostel em Jericoacoara

 

Um pouco do Felipe

Nos 3 meses em que fiquei em Jeri, eu estava absolutamente alinhado a minha essência. Ou seja, fazendo exatamente aquilo que nasci para fazer. Usando todas as aptidões que a Mãe Natureza, Deus, meus pais, seja o que for, me deram no momento de minha concepção no planeta Terra. E não apenas fazendo isso, mas também sendo quem eu realmente sou. Isso, um presente dos 3 anos de minha jornada, onde acredito ter me tornado uma pessoa num nível de espontaneidade muito alto. A vida pelas ruas do Brasil me ensinou a ser quem eu realmente sou. Isso foi necessário para minha sobrevivência. E toda essa minha essência ficou cada vez mais evidente ao longo do tempo, conforme eu ia desconstruindo mais e mais aspectos externos da sociedade e meus mesmos. Mas sem dúvidas, o mais surpreendente foram as respostas que recebi sobre quem sou eu. Basicamente, tudo que fez eu me mover em Jericoacoara estava dentro de mim. E muitas coisas estavam escancaradas e eu não conseguia ver (ou não queria). Consegui criar inclusive uma lista com itens de minha essência. Alguns deles são:

Facilidade e felicidade na interação com pessoas; amar proporcionar coisas boas para elas; ser meio “palhaço”; ter espírito de liderança natural; altíssimo nível de perfeccionismo; altíssimo nível de intensidade emocional (em todos os sentidos); altíssima necessidade de estar me desafiando a todo o momento; coragem fora do comum (apesar de ser extremamente medroso); altíssimo nível de competitividade; alto poder intuitivo; fortíssima conexão com a natureza

Esses são apenas uns dos pontos que foram revelados a mim. Pontos que julgo estarem encrustados em meu ser. Não que foram construídos ao longo de minha vida, mas sim, que estão comigo desde que existo e assim permanecerão. E foi exatamente por ter sido tão feliz em Jericoacoara que pude chegar nessas conclusões. Justamente porque exatamente esses pontos que foram executados por lá. Ou seja, em Jericoacoara eu fui tão feliz justamente por ter estado tão ligado ao que eu nasci para fazer, à minha essência. E como já disse antes, para melhorar, sendo absolutamente espontâneo em meus comportamentos, modos de vestir e falar. E isso é a mais pura felicidade. Quando estamos fazendo o que realmente queremos fazer e sendo quem realmente somos. E por isso também que minha experiência em Jeri me mostrou que estamos aqui nesse planeta para sermos felizes. O resto é resto. Temos que buscar nossa felicidade. E essa felicidade sempre esteve e sempre estará dentro de nós. Temos que entender quem somos e buscar sermos quem devemos ser. E respeitando os ciclos, que sempre existirão. Por mais que eu tenha meu perfil que se encaixou perfeitamente no contexto de Jeri, esse foi um ciclo. E como todos ciclos, ele tem início, meio e fim. Uma hora o deslumbre passa e devemos ir em busca do novo. Isso, claro, para conseguirmos manter a chama da paixão pela vida acessa com mais força possível.

 

A verdadeira liberdade

Por fim, tive uma maior descoberta ainda. Que quanto mais estamos alinhados a essa essência e espontaneidade que temos em nossa natureza, mais autossuficientes ficamos. Menos estamos dependentes de tudo que vem do externo. Coisas, dinheiro, drogas, distrações, relacionamento, sexo, comidas etc. Isso, porque já estamos genuinamente felizes. O que mais precisamos? Muito pouco. O contexto vira uma consequência e a consequência vira um contexto. Tudo está interligado e passa a fluir com total naturalidade. Para mim, que já havia desconstruído boa parte do que pode ser desconstruído, ao longo de minha jornada, a parte que mais me mudou, após essa experiência no Ceará, foi de uma hora pra outra fazer desaparecer uma forte carência afetiva que me acompanhava desde meus 17 anos. Mesmo ao longo de minha viagem, eu sempre tinha uma grande necessidade de estar buscando alguma mulher para estar ao meu lado, e isso me incomodava. Queria me ver livre disso. Me sentir efetivamente solteiro. E consegui (pelo menos eu acho). Entendi que, quanto mais estamos alinhados a nossa essência, mais estamos no momento presente e com uma autoconfiança (felicidade) que vem de dentro. Nossas confusões internas e pensamentos olhando para o passado ou futuro somem (ou diminuem muito). Consequentemente, não precisamos mais buscar essa conexão com alguém, que sempre nos gera um conforto emocional e autoconfiança. Essa conexão não deixa de ser algo absolutamente natural e uma das coisas mais lindas dessa vida. Mas depender a todo momento de estar bem, precisando ter alguém do lado, isso não julgo ser saudável. Prova disso foi que fiquei 8 meses sem me relacionar sexualmente com ninguém, desde minha chegada em Jeri. E não foi premeditado. Eu simplesmente não precisava, não queria. A felicidade que saia de mim era tão poderosa e verdadeira que eu não preferia que ninguém interferisse em minha energia. É como estar apaixonado por si mesmo. E isso aconteceu justamente por eu estar fazendo o que realmente queria estar fazendo, independente de outras pessoas.

FOTO – Pipe na Serra da Capivara

 

 Até mais

E essa foi a grande descoberta sobre a vida que consegui desvendar em Jeri e que compartilho aqui com vocês. Estamos aqui para sermos felizes. Se essa felicidade estiver ligada a passar o dia sem fazer nada, ou trabalhando enlouquecidamente, ou viajando pelo mundo, ou totalmente estáticos, não interessa. Ser feliz é estar fazendo qualquer coisa que nos faça um sentido real e que esteja alinhado a nossa essência. Estando bem resolvidos em relação ao nosso passado, vaidades, imposições da sociedade e qualquer outra coisa que possa tirar nossa verdadeira liberdade interna. Esse contexto sempre vai nos gerar uma grande leveza e estado de presença e consequente autoconfiança sobre quem somos. O discurso é meio piegas, mas a felicidade está e sempre esteve dentro de nós e nas coisas mais simples. Nas conexões que criamos com nosso próprio ser, natureza, universo e outras pessoas. Num contemplar de um nascer do sol, do voo de um beija flor, de uma conversa recheada de boas risadas, de um abraço verdadeiro, de uma troca de olhares e toques. De amar a todos e tudo e ser amado o mais reciprocamente possível.

E espero do fundo de meu coração, para todos que me acompanharam de uma forma ou de outra nessa mais de um ano que escrevo nessa coluna, que de alguma forma, por mais que muito pequena, eu possa ter tocado vocês e feito repensar em algum aspecto de sua vida, pois esse foi meu intuito desde o início. Se não nos falarmos mais, uma bela vida a todos!


Publicado em: Geral






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