Enchentes no RS provocam imigrações transitórias para Torres

Por motivações diferentes, cidade se transformou em refúgio para afetados pelo fenômeno climático extremo no Rio Grande do Sul

Igreja Jesus House na Castelo Branco, em Torres recebeu pessoas desabrigadas da Ilha da Pintada, na Capital
11 de maio de 2024

As enchentes do Rio Grande do Sul não atingiram de forma mais violenta as cidades do Litoral Norte. Mas as consequências devastadoras para alguns moradores do estado perante o evento vêm causando imigrações de gaúchos para Torres, em pleno início da baixa temporada na cidade.  Alguns são casos de pessoas que têm residência no litoral (além da casa principal em cidades gaúchas). Assim como são pessoas que, ao contrário, não possuem atualmente, nem suas casas principais: perderam tudo na enchente, em vários municípios.

Acolhidos em albergues e abrigos

Também em Torres, estão sendo criado locais para abrigar famílias de desabrigados. Um destes locais foi providenciado pela Igreja Jesus House, em sua própria sede na Avenida Castelo Branco (Bairro Centenário).  No local, administrado pela pastora Patrícia, estão albergadas na quinta (09) 37 pessoas, na sua maioria oriundas da Ilha da Pintada, em Porto Alegre. Elas perderam praticamente tudo na enchente, mas felizmente foram acolhidas por um dos integrantes da igreja, que foi até a Ilha da Pintada para encontrar um parente e acabou trazendo todas as outras pessoas. No albergue da igreja estão também abrigadas muitas crianças. No lugar todos recebem alimentação, roupas, remédios e atendimento psicológico.

Uma história de tragédia e superações

 

“Minha casa foi completamente destruída”, afirma Paulo, serralheiro e motorista de Aplicativos. “Em setembro e em novembro já tinha tido minha casa inundada, mas desta vez não sobrou nada”. Paulo saiu de seu lar na ilha no último dia 02/05, e foi para a casa de sua sogra que mora no Cristal, também na Capital. No dia seguinte entrou em contato com o filho que estava ilhado e voltou para a ilha para resgatá-lo, desta feita com um barco emprestado. E acabou ficando dois dias lá, ajudando no resgate de outras pessoas. Foi aí que conseguiu ver somente uma das pontas do telhado de sua casa, já quase completamente submersa pelas águas do Guaíba.  Posteriormente, ainda, a casa de sua sogra que então abrigava sua família – já desalojada pela enchente – também foi alagada. Como se não bastasse, Paulo começou a sentir dores no corpo e nas pernas assim como febre alta. Ele procurou assistência médica e foi diagnosticado com leptospirose. A família foi para um abrigo, em Porto Alegre e foi deste abrigo que ele acabou vindo para Torres através de membros da Igreja Jesus House, em Torres.

“Não volto mais para a Ilha da Pintada, desabafou Paulo. “Vou começar uma nova vida em Santa Catarina, provavelmente na Praia dos Ingleses, em Florianópolis”, disse.   Para ele a ilha onde morou a perdeu sua casa ficará desabitada depois deste evento.

 

Pousada que se transformou em albergue

 Sítio Reino Encantado em Torres também acolheu famílias

 

Outro local que está recebendo desabrigados que perderam suas casas é o Sítio Reino Encantado, localizado na Estrada dos Cunhas, na entrada da Praia Itapeva. São cerca de 30 pessoas, a grande maioria oriundas do município de Canoas, moradoras do bairro Rio Branco.  O comum entre estas pessoas é que eles estão com as suas casas submersas. Muitos perderam seus carros,  eletrodomésticos, dentre outros bens que não puderam ser retirados antes da enchente pegar suas ruas. São adultos, crianças e alguns animais de estimação, que acabaram no sítio torrense por conta da proprietária, Dona Teresinha, abrigar alguns parentes assolados – que por sua vez acabaram trazendo amigos, amigos destes parentes, que foram todos acolhidos no espaço da pousada – que se transformou em albergue temporário

 

Veranistas e visitantes que aqui estão ficando

 

Psicóloga Lúcia ouvia helicópteros na capital

 

Um outro perfil de pessoas que migraram provisoriamente para Torres por, conta da enchente, se trata de famílias que possuem imóveis de veraneio na cidade, ou de casos de gente que optou para vir para o litoral e se hospedar em pousadas, hotéis ou apartamentos alugados, buscando permanecer na cidade por algum tempo. O aumento do movimento é notado também no mercado, nas padarias e no comércio em geral e nas ruas de Torres. Hotéis e pousadas notaram sensível aumento de reservas nos últimos dias.  Nos supermercados é comum haver filas nos caixas, mas os mesmos continuam bem abastecidos.

“A cidade de Porto Alegre está silenciosa, grande parte do comércio está fechado, existe uma tristeza no ar”, afirma a psicóloga Lúcia Carvalho, 63 anos. A veranista portalegrense veio para o seu apartamento em Torres, fugindo dos efeitos da enchente na Capital. “Fiquei em racionamento de água por 6 dias. Sou moradora do bairro Auxiliadora e convivi, além da falta d’água e de luz, com o tráfego de helicópteros ininterruptos passando pelos céus do meu bairro, dia e noite”.  Pretendo ficar aqui até o final do mês”,  desabafa.  No mesmo edifício de Lucia, em Torres, ela encontrou vizinhos proprietários de apartamentos também chegando no local nesta quinta-feira (08), pelo mesmo motivo.

“Sou moradora da rua Demétrio Ribeiro, no centro Histórico de Porto Alegre, afirma Cláudia Manieri, de 59 anos, também veranista de Torres. “Foi na sexta-feira, dia 3 de maio, à noite, que Cláudia ficou sem energia elétrica em seu apartamento na Capital. Ela ficou sabendo também da possibilidade da falta de água. Foi então que, ao olhar pela janela, percebeu, ainda, que a água do Rio Guaíba já entrara na Rua Washigton Luiz, quando concluiu que a enchente estava chegando próxima de seu edifício. Ela decidiu, então, ir para a casa de seu namorado, também no centro, quando lá também ficaram sem luz e sem água. A estas alturas notaram que toda a região estava alagada.   E domingo, com o avanço sistêmico da enchente, resolveram vir para Torres, onde tem apartamento. “A Avenida Castelo Branco, a saída de POA pela Freeway já estava alagada, foi quando tivemos de tomar a estrada de Viamão rumo ao litoral, para nos deslocarmos para cá”, disse Cláudia. “Viemos eu, meu namorado e minha sogra, que tem 87 anos”, completou.  Na segunda Feira o prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo sugeriu publicamente que pessoas que tivessem casas ou condições para se deslocar para o Litoral, assim o fizesse para não enfrentar as tendencias de faltas de serviços e o aumento das vias afetadas na Capital.   Frase de Cláudia resume o sentimento de todos que procuraram Torres para se abrigarem de alguma forma, seja casa própria, em albergues, hotéis ou casas de alugueis. “Aqui em Torres estamos seguros e felizes”, sentencia a veranista portalegrense.

 

 

 Cláudia e Alexandre fugiram aos poucos das enchentes e acharam paz em Torres

 

 

 

 

 

 

 


Publicado em: Meio Ambiente






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