Feira Ecológica de Torres celebra duas décadas em ano desafiador

Foram três feiras canceladas, muita produção perdida e provações logísticas devido a estradas precárias e pontes danificadas. Por isso mesmo, o aniversário de 20 anos da Feira Ecológica Lagoa do Violão, comemorado sábado (9 de dezembro), celebrou também a resistência das famílias agricultoras e a parceria de clientes e pessoas amigas ao longo de 2023.

Comemoração dos 20 anos foi no dia 9 de dezembro
13 de dezembro de 2023

Foram três feiras canceladas, muita produção perdida e provações logísticas devido a estradas precárias e pontes danificadas. Por isso mesmo, o aniversário de 20 anos da Feira Ecológica Lagoa do Violão, comemorado sábado (9 de dezembro), celebrou também a resistência das famílias agricultoras e a parceria de clientes e pessoas amigas ao longo de 2023.

“Esse ano foi muito complicado. Acho que de todo o tempo que a gente trabalha na feira foi o mais difícil”, avaliou Nara Martins da Rosa, da comunidade Vila João 23, Torres. Conforme a agricultora, o clima está bem diferente de quando ela e o marido, Jairo Bauer da Rosa, começaram na agricultura ecológica, 30 anos atrás. “Quando é inverno, dá verão, dá sol muito forte, então a gente não conseguiu produzir quase nada de inverno”.

Essa inversão nas estações e a intensidade das chuvas, reduziram a variedade de produtos da banca de José Carlos Webber, o Zecão, de Dom Pedro de Alcântara. “Assim que comecei na feira, minha banca era grande e tinha de tudo. Parece que naquela época era muito fácil de produzir. De dois ou três anos pra cá tudo complicou,  praticamente inverno não dá mais, chuva quando vem, vem muito intensa, muito grossa, danifica muito o que é de planta miúda. Hortaliça não tem como produzir fora de uma estufa”.

Para Elias Strege Evaldt, da comunidade de Pixirica, Morrinhos do Sul, o ano também foi complicado para produção de hortaliças. “Pelo fato do El Niño e muita chuva. Tivemos chuva de granizo e dificultou bastante a produção”, recordou. Foi o agricultor, que, sob a ameaça de mais um ciclone, no dia 8 de julho, abasteceu a cooperativa Ecotorres, trafegando por caminhos alternativos e precários.

 

Fidelidade

Graças à Elias, pessoas como Neida Schardosim Magnus, que moram em Torres e consomem alimentos ecológicos das comunidades do interior, conseguiram produtos naquele sábado de julho afetado por um dos ciclones deste inverno.  “Olha, tem coisas que realmente eu não compro em outro lugar (que não seja ecológico). Eu deixo de comer. Porque eu sei que não são saudáveis”. Neida cita o tomate e repolho cultivados de forma convencional entre os que deixa de comer se não encontra ecológico.  “Tem vários produtos que eu deixo de comer, porque eu sei que fazem mais mal do que bem”.

Daison Pereira, consumidor assíduo desde a fundação, admite que até compra produtos em outros lugares, alguns destes, orgânicos, “mas a qualidade da nossa feirinha é imbatível, a textura e sabor dos produtos são muito superiores”. Além dos produtos, o corretor de imóveis vê na feira um ponto de encontro de amigos. “Feirantes e não feirantes em breves papos, com muita descontração”.

 

Soluções

Apesar de ter observado somente mudanças positivas ao longo deste 20 anos, como novos feirantes, divulgação de saberes tradicionais, eventos comunitários, entre outros, Kareen Martinatto viu com muita preocupação os efeitos do clima sobre a produção dos feirantes neste ano.

“Além dos prejuízos econômicos que afetam a renda das famílias produtoras, a perda de produção afeta o abastecimento da mesa do consumidor, alguns produtos sumiram das bancas, outros só em pouquíssima quantidade. A consumidora pensa que as famílias agricultoras deveriam ter acesso a créditos subsidiados pelos  governos para se adequarem aos extremos climáticos principalmente com estufas.

Já a família do agricultor Elias está tentando se adaptar. “Estamos cultivando essas variedades para não ficar em déficit com a feira. Daí sempre tem umas que resistem mais. A gente está se adequando, tá se adaptando com essas variedades. Nós temos bastante variedade de hortaliças, raízes e frutas e aí a gente está trabalhando nisso”. Além das variedades rústicas, Elias aposta no cultivo consorciado. “Planta rúcula e cenoura, rabanete, beterraba, assim juntos no mesmo canteiro e tal. Como o rabanete e a rúcula são de ciclos curtos, de repente elas conseguem escapar desses períodos de intempéries da natureza”.

Incentivadas pelo Centro Ecológico e Onda Verde, cinco famílias iniciaram a Feira Ecológica Lagoa do Violão, em 13 de dezembro de 2003

Publicado em: Meio Ambiente






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