Nos próximos dias, o Geoparque Cânions do Sul passará por um processo decisivo para o desenvolvimento da região. Os municípios receberão a visita de dois profissionais responsáveis por verificar se o território cumpre os requisitos para fazer parte da Rede Mundial de Geoparques da Unesco (Global Geoparks Network). A missão acontece de 12 a 16 de novembro.
Os avaliadores são geólogos com reconhecida experiência na gestão de geoparques, um português e um mexicano. Neste período, eles percorrerão os municípios coletando evidências sobre o trabalho realizado principalmente com foco na conservação do patrimônio geológico e cultural, na educação e no turismo sustentável. A programação inclui visita a geossítios, exposições culturais e mostra de produtos locais, além de reuniões com prefeitos, comitê científico e equipe técnica. Pesquisadores especialistas em diferentes áreas, como Geografia, Geologia, Arqueologia, Paleontologia e Biologia, estarão acompanhando a comitiva para apresentar os principais aspectos do território.
O reconhecimento como Geoparque Mundial da Unesco representa novas oportunidades de divulgação, incentivo à pesquisa científica e novas descobertas, valorização do turismo sustentável e consequente melhoria das condições de vida das comunidades, entre outros benefícios. O relatório produzido pelos avaliadores é fundamental para que o Conselho de Geoparques da UNESCO possa concluir sobre o título. O resultado sobre a chancela será anunciado no próximo ano.
“A expectativa é bastante positiva. Estamos preparados e confiantes. É o momento de consolidar o trabalho que foi realizado até agora, avaliar o que pode ser melhorado e concentrar esforços para seguirmos executando ações consistentes em prol da região. Esta missão é um marco em nossa história. Ela brinda a dedicação de todos que fazem parte da trajetória em busca do reconhecimento como Geoparque Mundial”, declara Carlos Souza, prefeito de Torres e presidente do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul.
Sobre o Geoparque
O Geoparque Cânions do Sul é formado por sete municípios, com área total de 2.830 km2 e cerca de 74 mil habitantes. Fazem parte, os municípios de Cambará do Sul, Mampituba e Torres, no Rio Grande do Sul; e Praia Grande, Jacinto Machado, Morro Grande e Timbé do Sul, em Santa Catarina.
Hoje, existem 169 Geoparques no mundo em 44 países. No Brasil, apenas um oficialmente reconhecido: o Geoparque Araripe, no Ceará. A expectativa é de que o território dos Cânions do Sul seja o segundo geoparque brasileiro.
A riqueza do patrimônio geológico, da biodiversidade e da cultura motivou a busca pelo título. A região apresenta a maior concentração de cânions do Brasil, com grandes escarpas que atingem até 1157 metros de altura e extensão total de aproximadamente 250 km.
Conforme explica o geólogo do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) Michel Godoy, a evolução geológica dos Cânions do Sul começou com a fragmentação do supercontinente Gondwana que, após sua separação, originou três continentes, a América do Sul, a África e a Antártida. “Há cerca de 130 milhões de anos, as movimentações das placas tectônicas causaram a separação dessa grande massa continental e despertaram um dos maiores eventos geológicos de todos os tempos, o vulcanismo Serra Geral. A grande região recoberta por esse vulcanismo ficou conhecida como Província Basáltica Continental Paraná-Etendeka que possui registros contínuos de rochas vulcânicas preservadas no Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai na América do Sul e Namíbia na África”, destaca o geólogo.
Este importante capítulo da história da Terra está registrado nos diferentes geossítios do Geoparque, alguns deles de relevância geológica internacional, com grande potencial para promoção do geoturismo e de estudos científicos.
HISTÓRICO
A concepção de um projeto de Geoparque entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul começou a ser idealizada em 2007, por iniciativa do prefeito de Praia Grande (SC), na época, Sr. João José de Matos. A proposta envolvia seis municípios da região, sendo três de Santa Catarina e três do Rio Grande do Sul.
Já em 2009, o projeto Geoparque passou a ser liderado pela parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), de Araranguá (SC) e Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC). Nessa época, o território do Projeto foi ampliado para 19 municípios.
Entre 2010 e 2011, aconteceram os primeiros estudos para iniciar o inventário dos geossítios pelo Serviço Geológico do Brasil (SBG-CPRM), através da Superintendência de Porto Alegre (RS).
Em 2014, com o amadurecimento do projeto, a área do Geoparque foi reduzida para os atuais sete municípios, como forma de direcionar os esforços para uma área núcleo.
Em abril de 2017, o processo avançou para a criação oficial do Consórcio Público Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, órgão responsável pela gestão do projeto, formado pelos sete municípios que compõem o território.
E, em 2019, o Consórcio enviou à Unesco o dossiê oficializando o processo de candidatura