Para se falar alguma coisa sobre duas pessoas completamente fora de série, terá que ser da mesma forma com que eles se destacaram, ou seja, contando uma história, mas reconhecendo antecipadamente que jamais será como se eles estivessem interpretando.
Assim sendo, essa semana contava para um amigo, que Bento Barcelos (in memoriam) havia me “visitado. Essa situação aconteceu exatamente, por eu vir a conhecer mais uma narrativa sobre os “Rodrigues”. O Bento ficaria absolutamente surpreso quando conhecesse essa nova versão. Nessa “visita” não me deixou mensagens, mas a simples presença dele foi como se tentasse me dizer alguma coisa importante. Nessa mesma ocasião associei mais uma pessoa neste contexto, que foi o Seu ‘Pedro China’ do Morro dos Macacos, que disputava com ele, qual a melhor história contada sobre os Rodrigues, os quais tinham trânsito nas duas margens do rio Mampituba.
Não consegui entender a mensagem do Bento, mas hoje (11/11) quando soube da passagem do Seu Pedro Manoel da Rosa, as evidências ficaram mais claras. Sei que queria me dizer, que se preparava para receber com grandes honrarias o seu parceiro “contador de histórias”. Não sei os leitores conhecem, mas em 2015 consegui identificar essas pessoas notáveis, com as quais tive o privilégio de passar a conviver, aprendendo muito com eles, sendo que ambos viraram meus Amigos. Marquei esse nosso encontro com uma bela foto, os dois junto nas ruínas da casa de Manoel Militão, um de nossos muitos antepassados em comum, que foi publicada em um de meus livros sobre a Região das Torres.
Esse local hoje é conhecido como o Morro dos Macacos, uma invenção do Seu Pedro, que se tornou conhecido em SC, no RS, no Brasil e no Exterior, pela qualidade dos produtos que passou a oferecer para os visitantes, a saber, a natureza exuberante única nas margens da lagoa do Sombrio, fonte de águas naturais preservadas, mais 60 espécies de animais morando no morro, entre elas as famílias macacos da espécie “pregos”, que ele mantinha ao redor de suas casas suplementando a alimentação nativa, as quais viraram personagens fundamentais, que ajudavam o Seu Pedro a atrair visitantes, os quais acabavam conhecendo a personagem principal que era ele mesmo, o “Pedro China”, que encantava a todos falando do cotidiano de seus antepassados, que ajudaram a fazer a história acontecer na mesma localidade onde morava com a sua família.
Fico imaginando essa recepção dos contadores de histórias preparada pelo Bento, ele como aquele reconhecido de maior destaque da margem sul e o que chega da margem norte do rio Mampituba. Sei também que audiência não faltará, para prestigiar essas figuras humanas notáveis, que foram além das escolaridades convencionais, se colocando com sabedoria inata para ocupar os seus devidos lugares, pelo reconhecimento comunitário unânime.
O Bento ao certo ficou contente. Nós, ao contrário, tristes sentindo muito a falta de Seu Pedro, mas aprendendo – mais uma vez – que apenas passaram, pois continuam a viver entre nós pelas lembranças deixadas, e ainda mais, pelas muitas narrativas que nos legaram, que foram frutos de uma memória que continuará viva, através de seus descendentes e amigos, que continuarão a repeti-las para serem entregues às futuras gerações.
Muito obrigado Seu Pedro, por tudo que aquilo que, com sabedoria, nos ofereceu enquanto pode.