Nosso adeus a Carlos Heitor, ‘Rei da Noite Porto-alegrense’ e lançador de modas libertárias

Ex-colunista do nosso jornal A FOLHA Torres, Carlos Heitor Azevedo faleceu aos 92 anos no último dia 14 de julho - deixando um legado importante por seu ativismo político e, principalmente, como um dos pioneiros das casas noturnas em Porto Alegre (e também em Torres, onde viveu os últimos 30 anos))

Imagem de arquivo do colunista Gasparotto: Carlos Heitor recebendo uma das homenagens na Capital gaúcha
25 de julho de 2025

Faleceu no dia 14 de julho, após ficar internado no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres,  um ilustre cidadão do RS, de Porto Alegre e de Torres. Trata-se de  Carlos Heitor Azevedo, aqui (em Torres) conhecido como “professor”. Ele sofreu uma queda no banheiro e tinha passado por mais uma cirurgia óssea quando não resistiu nos seus 92 anos de idade.

Oriundo de família destacada na comunidade política e jornalística do Rio Grande do Sul estabelecida na capital, deixa um filho adotivo morando na Praia Itapeva, onde residiu nas últimas décadas. Mas deixa saudades e legados para que se mate essa saudade para muita gente da capital gaúcha e de Torres, onde atuou principalmente como colunista na editoria de política, quando escreveu para nosso Jornal A FOLHA Torres durante muitos anos  entre 2006 e 2012.

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Um lançador de modas libertárias

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Carlos Heitor sempre foi um inconformado com muitas coisas. Após servir na ONU através do Batalhão Suez, perambulando pelos países da África e Europa, resolveu transformar a noite de Porto Alegre. Na cena da noite na capital gaúcha de então – que era reduto da vassalagem sexual dos homens, onde durante muito tempo só prostitutas frequentavam as poucas Boates que havia – era comum os pais “ de família” construírem “boates” em casa para suas filhas adolescentes.

Tudo isso mudou nos anos 60 da década passada, quando Carlos Heitor inaugurou o “Crazy Rabbit” cuja importância nos hábitos sociais de Porto Alegre ainda não foi avaliada como merece! A cidade deu um salto de anos-luz nos seus costumes, haja vista, que mulheres desquitadas de boa família não tinham lugares saudáveis onde pudessem frequentar, sem serem classificadas como ‘putas’ – avanço social que foi propiciado pela Crazy Rabbit.

Com um pequeno grupo resoluto, indo de casa em casa, para ensaiar o ‘Haly-Gully’, o ‘Cha-Cha-Cha’, e outras bossas, o início foi duro. Carlos Heitor sofreu muitas injustiças como emancipador que era, na medida em que, o ambiente político também não era dos mais favoráveis ( muito conservador). E  não se pode esquecer que logo em seguida veio a Ditadura Militar, tempos difíceis para quem os conheceu de perto! Militante brizolista, Carlos Heitor, inclusive, foi detido pelo sistema em Porto Alegre, preso no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) como muitos artistas.

Estabelecimento criado por Carlos Heitor Azevedo na Rua Garibaldi mudou rumos da boemia porto-alegrense nos anos 1960 /ACERVO CLAUDINHO PEREIRA/REPRODUÇÃO/JC

 

Depois do estrondoso sucesso quando inaugurou o “Crazy Rabbit”, teve ainda outras casas noturnas de estaturas relevantes em POA, como por exemplo, “A Baiuca”, “Vila Velha”, “Milho Verde”, “Gilda Single Club”,

E também outras menores, mas não menos importante. Nos anos 70, Carlos Heitor fundou uma casa noturna também aqui em Torres, onde decorou com jornais, revestindo todas as paredes, sempre revolucionando na arquitetura e decoração! Teve uma outra dirigida aos argentinos, na época em que vinham em ‘levas de hordas humanas’, curtir em terras torrenses  o verão.

Depois, ainda inconformado e apaixonado pela política, como pedetista histórico ajudou a eleger o primeiro governador negro da história do Rio Grande do Sul, Alceu Colares, do qual foi assessor ligado ao gabinete da primeira-dama, época que muito colaborou com Torre. Infelizmente, não conseguiu eleger seu candidato preferido a presidência da república, Leonel de Moura Brizola, adversário do seu ilustre pai, Pedro Camargo de Azevedo, que era deputado estadual por partido de oposição.

 

Filho de criação cuidou dele nos últimos anos, com afinco

 

Enfim são muitas histórias que protagonizou que não cabem num só artigo. Precisaríamos de um livro! Plantou arvores e teve um filho de criação, que muito amou e foi amado, Carlos Roberto Contiero – que formou-se em Direito que o acompanhou e atendeu integralmente durante a parte mais dura da sua vida, na velhice recheada de comorbidades, em reconhecimento e gratidão pelo que recebeu. Coincidentemente com sua vida de lutas, partiu no dia 14 de julho (dia da Queda da Bastihla, que marca a Revolução Francesa).

Também ajudou outras pessoas que hoje estão bem-casadas e formaram famílias lindas e maravilhosas, graças ao apoio que lhes proporcionou em momento difíceis da vida.

“Em suma, foi um ser humano fora da curva! Foi um Rei da Noite e um príncipe de dia! Um filho exemplar nos cuidados com seus pais! Descansou em paz cumprindo a sua missão de forma digna e nobre! Volte logo, meu querido e amado. São pessoas como tu que fazem diferença nessa vida dura e selvagem, onde as escalas de valores são bem diferentes daquelas que tu defendias aguerridamente! Nosso muito obrigado por ter existido e nos transformar em seres humanos melhores!”, concluí o filho de criação, Carlos Roberto Contiero.

 

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Publicado em: Social






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