O jornal A FOLHA conversou sobre diversos assuntos relacionados a Ilha dos Lobos com Aline Kellermann, chefe da unidade do ICMBio em Torres. Proteção dos pinípedes que habitam a ilha (foto) é um dos objetivos do Plano de Manejo (FOTO: Acervo ICMBio)
Por Guile Rocha
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Já foram dados os primeiros passos para a elaboração do Plano de Manejo do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Ilha dos Lobos. Foi o que anunciou Aline Kellermann, chefe da unidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em Torres. A analista ambiental recebeu o jornal A FOLHA no dia 04 de abril, falando sobre o atual momento da unidade do ICMBio em Torres.
Aline integra, desde 2009, o corpo técnico do ICMBio, instituto responsável pela proteção ambiental de 327 unidades de conservação federais – incluindo a Ilha dos Lobos, aqui em Torres. Aline é formada em Veterinária pela UFRGS e atualmente está conciliando o Mestrado Profissional em Ambiente e Sustentabilidade da UERGS na área de Manejo e conservação da Biodiversidade com suas atividades profissionais Pela instituição, ela trabalhou quatro anos como chefe de uma Reserva Biológica na Amazí´nia e por dois anos na Floresta Nacional de São Francisco de Paula até que, em novembro de 2015, chegou em Torres para gerir a unidade local da Ilha dos Lobos. E uma de suas missíµes por aqui é garantir a elaboração do Plano de Manejo da Revis Ilha dos Lobos. "O plano de manejo vai servir para normatizar os possíveis usos indiretos da ilha que sejam compatíveis com a proteção da sua biodiversidade. Além disso, possibilitará que mais pesquisas sejam feitas no perímetro da ilha, fornecendo dados científicos e concretos sobre a realidade daquele ambiente (inclusive abaixo da superfície)".
Em novembro de 2015, o Ministério Público (MP) ajuizou ação civil pública obrigando a Ilha dos Lobos a ter um plano de manejo e conselho gestor. Foi indicado pelo promotor responsável a falta de propósito de uma unidade de conservação sem estes instrumentos de proteção ambiental. Tendo em conta esta exigência do MP, Aline vêm conduzindo os processos que fortalecerão a Revis Ilha dos Lobos – que além de ser a única ilha marítima do estado gaúcho, é refúgio para lobos e leíµes marinhos.
Formação do conselho consultivo
E o primeiro passo, segundo a gestora da unidade do ICMBio de Torres, foi a formação de um conselho consultivo, cujo processo de formação começou já em janeiro de 2016. "Inicialmente, fizemos reuniíµes de sensibilização com pessoas representando diversas instituiçíµes, buscando definir quem ocuparia as vagas do conselho consultivo. Em novembro de 2016, saiu portaria de criação (do Conselho), e a primeira reunião ordinária foi em março de 2017, e neste encontro já foi feito um plano de ação do conselho", ressalta Aline.
No total, foram definidas 22 vagas para atuação junto ao conselho, com a presença de instituiçíµes titulares e suplentes de vários setores: ligadas ao governo (Parque Estadual de Itapeva, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Torres e Passso de Torres, Corpo de Bombeiros, Patram, Marinha do Brasil, Coordenação Regional de Educação e Secr. Municipal de Educação de Passo de Torres), Turismo (Secretaria Municipal de Turismo, Sindicato dos Hotéis do Litoral Norte e Associação dos Surfistas de Torres), Pesca (Colí´nia de Pescadores Z-7 e Z-18), Recursos Hídricos (Corsan, Irga Coopersulca, AIRIM), agricultura (Secretaria Municipal de Desenv Rural e Pesca de Torres) universidades (UFRGS, UERGS, Unisinos, FURG, Ulbra) e ONGs ambientalistas (Onda Verde, Pró-Squalus, GEMARS, Curicaca e NEMA)
Algumas questíµes pertinentes ao Plano de Manejo da Ilha dos Lobos já vem sendo debatidas, junto ao Conselho Consultivo: há propostas de realizar açíµes de educação ambiental nas escolas envolvendo a ilha, a mediação de possíveis conflito relacionados í pesca na área protegida, ampliação das pesquisas e seminários relacionados ao refúgio; melhor divulgação da Unidade de forma turístico-ambiental – por meio de placas de sinalização e informativa; fomento ao turismo ecológico no local.
A formulação do Plano de Manejo é uma ação que, naturalmente, demanda tempo, pesquisas, debates e deliberaçíµes. Assim, ainda que haja a participação do conselho consultivo, é essencial a participação de um grupo técnico que irá definir sua elaboração. E para o plano de manejo da Ilha dos Lobos sair, estão participando profissionais da Coordenação do ICMBio na área, do CEPSul (Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade na região sul-sudeste) além da analista ambiental Aline Kellermann. " A unidade torrense do ICMBio já programou para maio uma oficina, de uma semana, um intensivo que ajudará a definir as etapas do plano de manejo que utilizará uma nova metodologia adaptada do Fundation, utilizada nos parques nacionais dos EUA", ressaltou Aline.
Conforme explica a chefe da unidade local do ICMBio, o Refúgio também é uma das 11 unidades de conservação federais do Brasil que integra o Projeto íreas Marinhas e Costeiras Protegidas (GEF-Mar) com destinação de recursos do Banco Mundial, que irá custear o Plano de Manejo e apoiar na implementação da unidade. O projeto será executado até final de 2019 e visa promover a conservação da biodiversidade marinha e costeira.
Pesca e surf proibidos na Ilha
Aline Kellermann (foto) em trabalho de fiscalização nos arredores da Ilha
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Aproveitando a oportunidade – e variando um pouco o tópico – conversamos com Aline Kellermann sobre outros assuntos pertinentes a Revis Ilha dos Lobos. A chefe da Unidade lembra que a pesca é proibida no perímetro do refúgio, mas comemora o fato de que a atividade irregular vem diminuindo consideravelmente nos últimos anos. "Há um GPS que manda informaçíµes caso uma unidade pesqueira esteja adentrando o perímetro da Ilha dos Lobos (que é uma vasta área bem maior que a ilha em si, num total de 142 hectares). Só isso já coíbe bastante, mas necessitamos fazer ainda açíµes de fiscalização" ressalta Aline, indicando que a unidade do ICMBio em Torres tem contato constante com os pescadores. "Já há inclusive um projeto aprovado para fortalecimento da pesca artesanal em Torres, que devemos começar neste ano (2017). Trabalhamos também pela integração e fortalecimento dos pescadores, uma categoria que historicamente necessita organização. Não queremos excluir a pesca, mas permitir que ela ocorra de forma sustentável no entorno das unidades".
Além dos Lobos e Leíµes Marinhos, há outra famosa (e inconstante) moradora do local: a onda. Trata-se de uma das maiores e mais poderosas ondas do país, referência para surfistas tanto aqui no Brasil quanto internacionalmente. Entretanto, a chefe do ICMBio em Torres alerta que, no presente momento, é proibida a prática do surf na Ilha dos Lobos – proibição que deve durar ao menos até o final do processo de elaboração do plano de manejo."Trabalhamos com o princípio da precaução, por enquanto não podemos autorizar (o surf) pois não tem um regramento sobre isso. Então, desde que estudos apontem que o surf não cause impacto, que pode ser realizado sustentavelmente, ele poderia sim ocorrer na Ilha dos Lobos. Inclusive, a AST (Associação dos Surfistas de Torres) está no conselho pra ajudar nessa discussão", explica Aline.
Sobre a presença de lobos e leíµes marinhos
São os pinípedes (leíµes e lobos marinhos) os responsáveis pelo nome da Ilha dos Lobos. Mas estes marcantes mamíferos aquáticos não vivem por lá durante o ano todo, sendo que nos meses quentes eles migram mais para o sul, em refúgios no Uruguai e Argentina. Aline avisa que agora, com as águas já menos quentes no começo de abril, eles estão começando a voltar das colí´nias reprodutivas para a Ilha dos Lobos. No inverno o número de ‘habitantes’ da ilha gira em torno de 70 e 80 lobos e leíµes marinhos (numero que vêm se mantendo constante nos últimos anos. "Agora ainda são poucos, uns 5 indivíduos já voltaram para cá . Durante o verão, houve apenas um leão marinho que ficou assentado até janeiro, mas depois deu uma sumida", informa a gestora local do ICMBio.
Aline indica que um de seus objetivos é realizar a marcação destes pinípedes, para monitorar individualmente sua migração e seus hábitos." Já há uma rede de marcação integrada entre centros de pesquisa na América Latina, tanto na costa do Atlântico como do Pacífico. Quando tivermos uma marcação dos indivíduos daqui, poderemos cruzar informaçíµes que são bem importantes para monitoramento dos pinípedes", finaliza a chefe do ICMBio em Torres.