Animais de rua: quem são seus donos e quem é responsável por eles?

19 de novembro de 2009

 

 

Animais são soltos irresponsavelmente como mercadorias em desuso e causam problemas    de mazelas extremas de ambos os lados de pensamento na cidade  

 

                  Desde que o ser humano resolveu domesticar animais, principalmente cães e gatos, o conví­vio coletivo com estes seres tem gerado discussíµes polêmicas de tempo em tempo. Os animais domésticos não têm culpa, até porque não são racionais e estão fora de um habitat que lhe proporcione capacidade de sobrevivência autí´noma. Mas os seres humanos também têm razão em reclamar dos excessos que a domesticação de cães e gatos acaba exercendo sobre a civilidade do conví­vio entre famí­lias em ambientes urbanos cada vez menores: as cidades.

   

Em Torres o exemplo mostra claramente as duas extremas partes do processo. Ambas elas causadas por desleixos e falta de capacidade de um conví­vio mais solidário e menos egoí­sta dos seres humanos, que são racionais, mas muitas vezes se mostram quase que irracionais em suas atitudes.  Cães e gatos andam soltos pelas ruas, fruto da irresponsabilidade de seus atuais ou antigos donos em evitar isto. Uns deixando cães domésticos soltos da rua durante o dia, fazendo que sua capacidade irracional determina, portanto, não geradora de atitudes muito civilizadas.   Outros, os que são os principais causadores desta mazela social, largam a qualquer sorte animais que, conforme seus valores egoí­stas, não servem mais para conviverem em suas casas, passando para a sociedade urbana a responsabilidade de encaminhar o futuro daqueles seres domesticados sem domicí­lio.Na semana passada vários eventos coincidentes também estamparam a necessidade de ser cada vez mais importante para qualquer municí­pio com mais de 20 mil habitantes uma efetiva, sistêmica e autosustentável polí­tica pública para trabalhar todas as mazelas causadas pela irresponsabilidade dos ex-donos de cães proporcionam para a convivência em paz entre humanos nas ruas e bairros das cidades.

 

   

Muitos animais em uma mesma casa geram polemica e caso vai í  justiça

 

   

Uma casa que em um primeiro momento estampa uma atitude solidária de um casal de moradores gerou um sério conflito entre seus donos e moradores da vizinhança. í‰ que o casal que recolhe animais maltratados na rua e acolhe em sua residência os mesmos acabou gerando uma criação de mais de 30 cães em um mesmo terreno onde a casa existe, localizada entre vários edifí­cios e um hotel que abriga centenas de pessoas nos arredores da mesma. O caso foi parar na justiça e o dono da casa foi condenado pelo seu feito e até já pagou pena prestando serviços ao próprio canil municipal, que funciona para abrigar cães em estado crí­tico da cidade.  Mas mesmo após ser condenado, o casal manteve os animais em sua residência. E a insistência fez com que mais uma vez o grupo de vizinhos se reunisse e acionassem a justiça. Eles não querem o mal dos acolhedores de cães: eles querem a saí­da dos cães da casa, pois existem provas e testemunhas suficientes para dar conta que o barulho dos latidos e o cheiro das fezes e urinas dos animais são extremamente insalubres para os vizinhos. Em muitos casos crianças não dormem í  noite, em outros, pessoas não visitam os moradores pelo medo e pelo cheiro do local, e existem até veranistas que estão vendendo suas casas pela insistente insalubridade do local para morar.

 

 

   Animais soltos na rua e em casas de protetores são sinais de

irresponsabilidades cidadãs dos donos e ex-donos

 

   

 

 

 

De ví­tima í  réu: casal quer ajudar mas é coerentemente    processado    por vizinhos pelo barulho e mau cheiro que  mais de  30 cães ( foto) espalham pela vizinhança

 

 

 

 

 

 

 

 

Por outro lado, casas de várias pessoas que trabalham voluntariamente pela proteção e defesa dos direitos adquiridos por lei dos animais de rua acabaram também nos últimos tempos se tornando depósitos de animais oriundos não se sabe de onde, somente que oriundos de seres humanos irresponsáveis que largam cachorros e gatos, adultos ou nenês, sem se preocupar com o trabalho dos voluntários, muito menos com a saúde e o futuro dos animais, que certamente são fruto de um cio não esperado que poderia ser evitado, ou de uma compra ou aceitação de um cachorro ou gato sem pensar, o que gerou mal estar naquela casa, que opta, então, irresponsavelmente, em largar o animal a qualquer sorte na madrugada na rua, ou amarrados nas casas das boas almas, assim como bebes de cães e gatos são deixados em caixas nas casas dos voluntários da causa da proteção dos animais.

 

Outra mazela são cães soltos na rua irresponsavelmente pelos donos, que os acolhe í  noite na hora de brincar com a famí­lia, mas que deixam os animais pelas ruas durante o dia. Algumas cadelas no cio acabam gerando geração e geraçíµes de novos animais, em princí­pio sem dono. Outros cachorros mais temperamentais acabam assustando transeuntes e turistas e o resultado disto tudo são animais e animais soltos pelas ruas de Torres, muitos deles com donos parciais. í‰ normal ver uma cadela no cio com um bando de cachorros brigando entre si atrás, gerando medo a alguns e nojo á outros, que não são acostumados a conviver com animais, pois sãos seres mais urbanos. Mas o problema é complexo, os cães e gatos não têm culpa e a sociedade deve ter paciência e tentar se incluir nas possibilidades de solução.

 

   

Matar animais domésticos é crime no RS

 

   

No iní­cio do ano, outra grande arauta torrense da causa do respeito aos direitos dos animais e sua notória fragilidade de enfrentar os problemas que um cão ou gato domestico sofrem ao estarem soltos sem donos na rua acabou denunciando uma loja que vendia veneno para matar cães e gatos, após esta mesma loja ter vendido o produto para matar animais de sua estima. O veneno denunciado gera duplo crime: o primeiro o de não poder ser comercializado no Brasil por sua alta periculosidade, inclusive para humanos; e o segundo crime o de matar animais domésticos, atualmente proibido por lei no Estado do RS, somente sendo permitido o sacrifí­cio dos casos que obtém assinatura de um veterinário, que entende e atesta que o animal está sofrendo e seu caso é irreversí­vel. O caso da loja que vendia o chamado chumbinho foi publicado no Jornal do Almoço na RBS e acabou denegrindo a imagem da cidade, pois o veneno é combustí­vel para matanças de animais em série, infelizmente ainda prática comum em algumas sociedades incultas.

 

 

   

Canil está lotado e abriga somente casos extremos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este bonito exemplar de Fila está apto a ser

adotado no   canil entre muitos outros  

 animais fortes e saudáveis

 

 

 

 

 

 

 

   

No canil municipal, localizado na Estrada do Mar, um casal de almas santas atende há mais de 15 anos os mais de 200 cães que em média estão lá abrigados após serem atropelados, maltratados, ou serem encontrados doentes na rua. A Associação Torrense de Proteção dos Animais ATPA é presidida por Maria da Graça Nogueira, justamente a mulher do casal que vai diariamente ao canil cuidar da saúde e da organização dos cães que lá moram. Graça, junto seu marido Manoel, todos os dias cumprem uma rotina no abrigo dos animais de rua. Tratam com remédios os doentes, cuidam da evolução dos lesionados, separam brigas entre grupos que se atacam internamente e, junto com dois ajudantes cedidos pela prefeitura de Torres, cuidam da limpeza do local e alimentam 220 bocas caninas diárias. Arroz é misturado com ração e feito em panelíµes para ser servidos aos animais.     No local também existe uma espécie de berçário que abriga crias deixadas na rua ou na porta de casas de torrenses, ou na casa do próprio casal, o que causa desconforto, pois eles não possuem mais tempo de incluir novas adoçíµes que devem ser encaminhadas. O canil está acima de sua capacidade, mas mesmo assim o casal Graça e Manoel não são apoiadores da ampliação do local, pois acham que isto fará com que logo logo novamente o canil esteja cheio, fruto de descartes egoí­stas de pessoas, famí­lias e até algumas cidades, que na calada da noite deixam animais em outros municí­pios, por possuí­rem estrutura para acolher cães e gatos sem donos. Graça e Manoel confiam na auto-sustentabilidade do processo, qual seja, a esterilização de fêmeas e a educação local para que a população ajude a própria cidade, denunciando donos que deixam animais na rua sem estarem esterilizados e educando para que as pessoas encaminhem todas as possibilidades de uma nova adoção dos animais abandonados antes de partir para a solução pública.

 

 

 

 

 

     Graça e Manoel no canil:  exemplo de

 doação a uma causa com muitos   culpados

mas poucos que se responsabilizam por    ajudar no

problema, que é coletivo

 

 

 

 

 

 

 

O casal junto com outros voluntários e voluntárias da ATPA praticam também uma polí­tica sistêmica de encaminhamento de adoçíµes de animais adultos e bebês. A ATPA promove feiras públicas feitas ao ar livre fomentando que pessoas adotem animais que estão no canil, muitos deles fortes e bonitos e que servem para qualquer lar como guarda ou diversão para as famí­lias,   e de   campanhas para angariar fundos para a causa, utilizados para alimentação,   esterilização e   compra de medicamentos para os cães e gatos abandonados ou doentes.

 

 Polí­tica pública já dá resultados, mas são menores que os anseios demonstrados pela sociedade

 

   

A secretaria do meio ambiente de Torres é uma das responsáveis por gerenciar as polí­ticas públicas da cidade para conter e caminhar para a erradicalização da mazela dos cães e gatos soltos na rua. O atual secretário da pasta Aristeu Moreira já teve no comando da secretaria duas vezes desde 2004 e consequentemente, enfrenta o problema de frente. Moreira assume que a resolutividade do processo da polí­tica atual ainda não é muitas vezes o que a sociedade pretende, com certa razão, conforme diz. Mas lembra que existe, sim, uma polí­tica pública em funcionamento e com resultados positivos obtidos anualmente. A prefeitura possui um convênio com a ATPA onde repassa recursos mensais para que a mesma viabilize a alimentação dos animais e algumas esterilizaçíµes, parte do projeto atual de erradicalização de cães e gatos de rua. A mesma prefeitura sede dois funcionários para trabalharem no Canil municipal, além de pagar a luz e a água do estabelecimento. Ainda até o final do ano ou no iní­cio de 2010, a municipalidade tratará de cercar a macro área do canil para evitar que cães que fujam de seus locais cercados e ataquem animais de propriedades dos arredores, ou que voltem para as ruas.

 

Aristeu lembra o que a mesma afirmação dada pela presidente da ATPA Maria da Graça deve fazer parte da contextualização da gestão pública do problema. Ou seja, a de que a cidade deve ter cuidado para não se transformar em depósito de animais de outras cidades, nem se transformar em um paraiso de desleixos de donos de cães e gatos, que se sentem no direito de descarar os animais com se fossem utensí­lios domésticos em desuso ou ultrapassados.

 

Atualmente estamos avançando na polí­tica pública tratando de animais abandonados, afirma Moreira. Com as esterilizaçíµes das fêmeas, feitas pela bondade e presteza da ATPA como parte do convênio com a prefeitura, já diminuiu bastante a população de animais soltos na rua na cidade, ressalva. Devemos ter paciência e a comunidade deve ajudar mais a própria cidade denunciando casos de animais perdidos, de cios, dentre outros, continua Aristeu Moreira. Atualmente a equipe do Meio Ambiente tem estrutura para capturar uma cadela em pleno cio que está prestes a iniciar uma procriação não planejada na rua: basta acionar a secretaria pelo telefone 3664 1411 e pedir a secretaria do meio ambiente para ajudar na localização do caso, encerra Aristeu.

 

 

   

Veterinários atendem a causa,  mas não recebem contrapartida

 

   

 

 

 

 

 

Louzada: veterinários ajudam  embora

não  sejam reconhecidos  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O veterinário que está em Torres já há mais de 20 anos Antonio Louzada já possui experiência de várias polí­ticas públicas implantadas na cidade para brecar a proliferação de animais de Rua em Torres. Ele sugere que haja mais esterilização sob responsabilidade da própria municipalidade.    Louzada acha que a esterilização é o único caminho e propíµe que haja, ou um convênio entre a municipalidade e os veterinários de Torres, ou que a própria prefeitura contrate por concurso veterinários somente para a função de esterilizar e curar animais sem donos definidos. Ele conforme disse, e os outros veterinários de Torres são obrigados a trabalhar de graça para a causa e não recebem nenhuma contrapartida da municipalidade. Louzada exemplifica os casos de atropelamento, aonde bombeiros chegam í  clí­nica com um animal que necessita ser sacrificado, pois está em processo de óbito causado pelo acidente, e não existe verba pública sequer para pagar a injeção letal í s vezes a única postura que o veterinário possui perante o caso. Louzada diz que os veterinários, por amor í  profissão e aos animais, acabam ajudando muito a causa da proteção dos animais de rua, mas sugere mais entrada da prefeitura ou de outras ONGs para encaminhar mais rápido a solução.

 

O veterinário também propíµe multas pesadas para donos de animais que os deixam soltos nas ruas sem que estejam ao menos esterilizados. Propíµe, acima de tudo, um maior respeito í  profissão de veterinário, que também necessita de recursos para sua sobrevivência e não pode ser um ente voluntário nestes processos.  

 

O que fica de lição para a sociedade afinal é a necessidade de uma maior participação dos cidadãos na questão dos animais de rua. Mazelas como locais urbanos com cães latindo e fazendo necessidades no meio de edifí­cios devem ser combatidas, mas a irresponsável isenção que muitos donos de animais se propíµem a ter perante o caso é o problema principal a ser atacado. Somente uma polí­tica pública mais atuante não ir terminará com o problema, talvez melhore ou até piore, pois a cidade pode virar berço de irresponsáveis que largam animais ao Léo para que a sociedade encaminhe a solução de seu problema, lavando as mãos de responsabilidades.

 

   

A culpa é do ser humano e da sociedade organizada

 

   

A sociedade deve entender bem que um animal doméstico sem um dono por perto é um animal que sempre poderá causar transtornos ao coletivo. A esterilização de todos, independente de raça, preço ou outra distinção; a maior participação na resolução de problema, por exemplo, encaminhando a alguém um cão que está perdido na rua; a doação de valores em dinheiro e ração para as entidades de proteção aos animais e, acima de tudo, a compreensão que fomos nós, os seres humanos, que domesticamos uma espécie de uma raça e agora estamos fugindo da responsabilidade são algumas medidas que podem corroborar para a resolução dos problemas. Paciência, tolerância e acima de tudo engajamento: esta é a estrada a ser seguida conforme constatação de todas as partes. Consultadas e diretamente incluí­das nos encaminhamentos das possí­veis soluçíµes dos problemas atuais, normais em todos os municí­pios.

 


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