Entre a (i)legalidade e qualidade, caronas compartilhadas se popularizam em Torres

5 de abril de 2017

 

 Rodoviária de Torres (foto) vêm tendo diminuição no movimento, mas proprietária   não culpa as caronas compartilhadas nisso  

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Por Otávio Hoffmann

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A internet revolucionou as relaçíµes humanas, e as redes sociais amplificaram ainda mais esta revolução. Com esses avanços tecnológicos, surgiram aplicativos para celular com as mais variadas utilidades, sendo alguns muito polêmicos, como é o caso do aplicativo Uber, por exemplo. O Uber comprou briga com taxistas e polí­ticos por oferecer um serviço diferenciado (e mais barato) de transporte urbano, ampliando a concorrência que antes era basicamente inexistente.

Com isso surgiram outras vertentes, como aplicativos para caronas compartilhadas para viagens. í‰ o caso do BlaBlaCar, bastante utilizado por aqui. Até mesmo o popular aplicativo de GPS Waze começará a operar no Brasil, ainda esse ano, o Carpool, aplicativo para esse tipo de carona.

Em Torres, muitas pessoas, principalmente jovens, utilizam de grupos no Facebook para marcar caronas de Torres para outras cidades – como Porto Alegre, Florianópolis, a Serra Gaúcha. O grupo de caronas para Porto Alegre tem mais de 4 mil participantes. O valor da ajuda de custo fica entre R$ 25,00 e R$ 35,00. í‰ preciso respeitar normas de bom conví­vio, para garantir harmonia entre os usuários e certo controle e segurança dos que utilizam do serviço. Apesar de facilitar a vida dos usuários, essa é uma prática um tanto discutida em sua legalidade. Além disso, influencia no serviço de transporte coletivo, que vê seu movimento caindo cada vez mais.

Sócia proprietária da Estação Rodoviária de Torres há 27 anos, Zilka Jacques alega que opera em prejuí­zo (principalmente na baixa temporada) e reclama da falta de incentivo. Tudo o que nós oferecemos nós pagamos, mas ninguém nos ajuda. O movimento da rodoviária vem caindo ano após ano, mas Zilka não culpa as caronas compartilhadas. Para ela, a crise econí´mica do paí­s é a principal culpada, além dos í´nibus piratas que circulam pela cidade. Se há desemprego, se não há dinheiro, há falta de viagem.

Na última terça-feira (28 de março), foram vendidas 367 passagens intermunicipais na Rodoviária de Torres . Para se ter uma ideia, em 3 de fevereiro desse ano, a mesma rodoviária vendeu 987 passagens. No verão há í´nibus de turismo que vendem e compram passagens aqui, há mais linhas operando para o litoral, mas de qualquer forma é uma queda de 63%.

 

Caroneiros  opinam

 

Estudante em Novo Hamburgo, Mylena Rocha, 22 anos, é caroneira desde 2015. Ela utiliza o grupo no Facebook para agendar as caronas, pois acha mais prático, já que economiza tempo e dinheiro. Na hora de escolher a carona, o que conta pra mim é se conheço a pessoas e se mais caroneiros vão junto, porque hoje as coisas andam meio perigosas, nunca se sabe. Por isso, normalmente pego carona com os mesmos motoristas.

Por conforto, pelo tempo e pela economia é que a contadora Thassia Silva, de 27 anos, opta por pegar ou oferecer caronas. Para ela, a principal diferença é realmente o tempo de viagem. Numa viagem de carro levamos 2h aproximadamente. O í´nibus semidireto, mais frequente, leva 3h ou mais. A oferta de í´nibus direto é muito pequena, alega.

Mesmo que as caronas compartilhadas tragam economia e agilidade, é preciso tomar alguns cuidados, como buscar amigos em comum no Facebook e ir atrás de referências dos passageiros ou motoristas. Sempre olho o perfil nas redes sociais e vejo as informaçíµes básicas. Já deixei de dar carona por não ter referências da pessoa, diz Thássia.   Já Ester Barcellos, 21 anos, que oferece caronas para Porto Alegre, além de averiguar o Facebook, toma outros cuidados. "Por ser mulher em geral não dou carona para homens, exceto se já conheço.

 

   

Empresas de í´nibus intermunicipal "precisam se adaptar"

 

Os í´nibus direto só valem a pena em horários especí­ficos, como í s 7h, por exemplo, conforme indica o auxiliar de escritório da garagem da Unesul em Torres, Juliano Eberhardt Knevitz. Isso devido í  queda no movimento, principalmente em viagens com maior duração. Por isso, os í´nibus que passam pelas cidades da região (como Três Cachoeiras, Terra de Areia ou praias como Capão da Canoa e Tramandaí­) são privilegiados.

A queda, segundo Juliano, é gradual, mas menor que o esperado. Antigamente o í´nibus era a única opção, então viajavam pessoas em pé, como dava. Agora, em algumas linhas o motorista é quem tira a passagem e dirige. A empresa precisa se adaptar, afirma.

De qualquer forma, Juliano não vê com maus olhos as caronas compartilhadas. Acredita que a força da internet causa esse tipo de mudanças e que as empresas devem aumentar os atrativos. A Unesul, que agora faz parte da Planalto e da Ouro e Prata, está buscando melhorar. Os funcionários já estão fazendo cursos de aperfeiçoamento para valorizar os passageiros e tornar as viagens mais agradáveis.

 

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Caronas compartilhadas estão dentro da lei?

 

Assim como o serviço oferecido pelo Uber, as caronas compartilhadas trazem í  tona divergências na interpretação da lei, conforme indicam artigos disponí­veis na internet. Muito disso se faz porque as leis brasileiras estão defasadas, principalmente no que diz respeito í  internet.

O Código Brasileiro de Trânsito aponta infração   de trânsito pelo transporte remunerado de passageiros – Art. 231. Transitar com o veí­culo; VIII “ efetuando transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não for licenciado para esse fim, salvo casos de força maior ou com permissão da autoridade competente.

 

Ao mesmo tempo, o Código Civil trata do assunto de forma complementar ao Código Brasileiro de Trânsito. O artigo 736 diz que "Não se subordina í s normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia" (Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas).

 

E as redes sociais ampliaram o significado de termos como amizade, por exemplo. Além disso, outro problema evidente é a fiscalização, muito difí­cil. E vale ressaltar: há assuntos mais importantes a serem tratados pelas autoridades municipais, estaduais e federais. Pelo que se vê, empresas de transporte e até mesmo a proprietária da rodoviária de Torres não vê nas caronas compartilhadas um grande problema. Percebe-se, ao contrário, que é solução para muitas pessoas.

 


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