Espalhando o estilo de vida gaúcho

15 de setembro de 2014

Confira a entrevista completa com o gerente de divisão do Banco do Brasil em Brasí­lia, Hernani Cyreli, gaúcho que não mede esforços para levar a cultura riograndense para onde vai.

 

ENTREVISTA: Hernani Cyreli

 

A Folha – O que significa ser gaúcho pra você?

Hernani – Ser gaúcho significa cultuar as tradiçíµes e a cultura do sul do Brasil, mas , sobretudo, entendo que ser gaúcho é não aceitar passivamente as injustiças que se observa na sociedade, de qualquer origem. í‰ ser questionador, ter virtudes e exigir um comportamento que respeite a dignidade do ser humano.

 

Qual o sentimento de ter crescido nessa terra?

Hernani – O sentimento é de ter crescido e ter sido educado com base em valores sólidos, alicerçado na busca incessante da justiça, de respeito ao ser humano e í  natureza. De constante busca do conhecimento e da necessidade de capacitação para ter independência, convicçíµes, e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Sentimento de orgulho da cultura e do povo gaúcho, um povo que tem virtudes.

 

Quais os hábitos que você costuma ter/praticar para manter viva a tradição gaúcha em sua vida, mesmo morando em outro Estado?

Hernani – Primeiramente procuro exigir a prestação dos serviços com a qualidade que encontro no Sul. Questiono certos comportamentos e procuro mostrar que poderia se ter outra forma de conduta, todavia, com serenidade, porque tem que se respeitar a cultura dos brasilienses e dos que aqui residem, que é bastante diferente da nossa. Além disso, tomo chimarrão diariamente na minha equipe de trabalho, onde mantenho cuia, bomba, garrafa térmica e ervas trazidas do Sul. Tenho ainda introduzido a cultura e o hábito do chimarrão para colegas mineiros, goianos e pernambucanos, que experimentaram e invariavelmente tomam uns mates comigo. Minha TV a cabo em Brasí­lia capta o sinal da RBS TV, assim, assisto aos programas do Sul, especialmente os Curtas Gaúchos que são exibidos aos sábados. Como sou apaixonado pelo Internacional, costumo pegar um voo só para assistir ao jogo do Colorado, tanto em Porto Alegre como no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Salvador, Belo Horizonte, etc. Escuto diariamente as rádios do Sul, tanto AM como FM. No domingo, quando disponí­vel, compro a Zero Hora dominical. Constantemente também compro uns quilos de costela no supermercado Zafari, em Porto Alegre, e trago na bagagem aqui para Brasí­lia para fazer um bom churrasco. Todos os convidados, de todas as regiíµes do Brasil, reconhecem a qualidade da nossa carne e a maneira tí­pica de assar. E quando estamos no trabalho ou mesmo numa roda de amigos de outras regiíµes, que se toma conhecimento que alguém vai de viagem a trabalho ou a lazer para o Rio Grande do Sul, imediatamente perguntamos: Tchê, tu estás levando o passaporte? Sem entender nada, vem a pergunta “ Porque? Porque como tu estás indo para outro paí­s, a República Riograndense, se tu não tiveres o passaporte não vais conseguir entrar naquele paí­s! (risos).

 

Qual a sua relação com a cultura gaúcha?

Quando adolescente cheguei a frequentar   CTGs e ir a algumas bailantas/fandangos de bombacha e bota. Até rodeio frequentei, mas pouco vi prova de laço. Ficava pelo acampamento bebendo uma canha, acompanhando os violeiros nas cantorias gauchescas e namorando as prendas. Hoje, minha relação é de cultuar as tradiçíµes, de defender a cultura e o modo de vida do gaúcho, de valorizar as iniciativas e os comportamentos que, pelo seu protagonismo, podem servir de paradigma para outras culturas e outras regiíµes menos desenvolvidas do Brasil. No meu dia a dia, seja no trabalho, na sociedade ou durante o meu lazer, de forma natural, meu comportamento traz na sua essência o modo de ser do povo do Sul, seja no modo de falar, de questionar o status quo, ou por valorizar, de forma extremada, as tradiçíµes e a cultura do povo gaúcho.

 

Como você vê a cultura gaúcha nos dias de hoje? Ela ainda está viva ou muito se perdeu ao longo do tempo?

Hernani – Penso que está viva. E quando se fala em cultura gaúcha, não pode se restringir aos CTGs, a forma de se vestir. Muito mais que estar de bombacha e bota, ou de vestido de prenda, o comportamento do povo para mim é o que demonstra que a cultura gaúcha está viva. O povo gaúcho, mesmo com o passar dos anos, jamais vai deixar de ser um povo que busca a justiça social, que valoriza as suas origens, as lides do campo, o modo de ser do gaúcho do extremo pampa do sul do Brasil, uruguaio e argentino. Um povo extremamente hospitaleiro, mas exigente, que cobra dos governantes e da sociedade uma conduta justa, igualitária e fraterna. Esta maneira de ser do gaúcho é inigualável e facilmente reconhecida por outras culturas e cidadãos de outras regiíµes do Brasil.

 

Na sua avaliação como os povos de outros Estados veem os gaúchos? No caso de Brasí­lia, há um respeito?

Hernani – Nas minhas viagens a trabalho e/ou lazer por várias regiíµes do Brasil, observo que os gaúchos são reconhecidos como um povo muito trabalhador, questionador, e arraigados í  sua cultura e as tradiçíµes. Por exemplo, em várias regiíµes aqui do Centro-Oeste, o desenvolvimento é atribuí­do í  migração de gaúchos principalmente que passaram a cultivar a terra e a produzir riquezas. Do Centro-Oeste migraram para o Norte e Nordeste. Já há muito tempo, os gaúchos ocuparam o Estado do Piauí­ e lá, em terras antes improdutivas, hoje produzem toneladas e toneladas de grãos, alavancando regiíµes antes totalmente improdutivas. Em Brasí­lia, observo que há o reconhecimento também de que o gaúcho é empreendedor, confiável, trabalhador. Muitos apontam que é um povo um pouco arrogante com a sua cultura e tradiçíµes, que gostariam de ver o Brasil dividido e o Sul transformado em um novo paí­s.

O que penso que é um pouco exagerado, é que nas brincadeiras e gozaçíµes nas rodas de conversa informal, costumam atribuir e pecha de que gaúcho é veado. Mas penso que não é só em Brasí­lia, mas como aqui se reúnem pessoas de todas as regiíµes do Brasil, essa gozação se potencializa um pouco mais. Embora não seja motivo para efetivamente desqualificar o povo gaúcho, que como povo defende a igualdade e se julga um pouco mais desenvolvido que outras regiíµes do paí­s. Há que se respeitar a equidade de gêneros, sem, todavia, deixar de defender a honra do povo gaúcho. Talvez, a gozação tenha um pouco de inveja, de sentimento de que, como diz a letra do hino riograndense, sirvam nossas façanhas de modelo í  toda a terra.

 

Há muitos gaúchos morando em Brasí­lia? í‰ normal que haja uma aproximação maior em virtude da cultura?

Hernani – Brasí­lia tenha uma população bastante heterogênea, com moradores de diversas regiíµes do paí­s, bem como do mundo, tendo em vista o estabelecimento das embaixadas de paí­ses de todo o mundo. Além dos brasilienses, predominam os mineiros, cariocas, goianos e nordestinos. Na última década, observa-se a chegada de muitos gaúchos. Entretanto, por questão cultural, não há uma aproximação natural desses moradores. Assim, em virtude da cultura, acabamos por manter maior aproximação com os gaúchos. í‰ normal se encontrar para um bom churrasco, se cumprimentar quando se vê um carro com uma bandeira do Rio Grande do Sul adesivada no carro, ou mesmo com a camiseta do Colorado ou do Grêmio. Enfim, a gauchada acaba se reunindo, inclusive os torcedores do time do bairro Humaitá, para falar das histórias da terra gaúcha, ouvindo uma rádioam/fm gaúcha, tomando um bom mate e esperando que a carne se ajeite no fogo para saborear um bom churrasco.  


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