Jornal A FOLHA entrevista o escritor Luí­s Fernando Verí­ssimo

16 de dezembro de 2016

 

 

Por Guile Rocha

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Só pensar em como entrevistar Luí­s Fernando Verí­ssimo já é uma tarefa difí­cil. O cronista-romancista-poeta-músico-humorista impíµe respeito: cerca de 60 tí­tulos publicados e 5 milhíµes de livros vendidos. Com  textos publicados em 17 paí­ses e  vencedor de vários prêmios literários, Luis Fernando Verissimo é considerado um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. Ele marcou (e ainda marca) geraçíµes de leitores com suas crí´nicas do dia-a-dia, contos entre o inusitado e o tragicí´mico, relatos sobre os acontecimentos atuais, criação de personagens literários marcantes (como o Analista de Bagé, Ed Mort, a Velhinha de Taubaté).

Além do destacado sucesso como cronista e contista, Luí­s Fernando Verí­ssimo é cartunista, roteirista, tradutor. Já trabalhou como redator e revisor de jornais e também com a publicidade. Estará em Torres (na noite deste sábado, 17, na Pizzaria Panzerotti) com o Jazz 6, grupo onde por muito tempo foi saxofonista – sendo o saxofone outra grande paixão que lhe acompanha desde a juventude. Fora tudo isso, Luí­s Fernando ainda é filho de um dos mais memoráveis escritores da história literária brasileira:   í‰rico Verí­ssimo (autor do antológico ‘O Tempo e o Vento’).

Mas apesar de todo respeito que sua trajetória impíµe, foi uma grande satisfação poder conversar por telefone com o tí­mido Luí­s Fernando. Uma pessoa que fala pouco – ainda que sempre tenha muito a dizer em seus textos. Confira abaixo a entrevista!

 

 

Jornal A FOLHA ENTREVISTA: Luí­s Fernando Verí­ssimo

 

GUILE ROCHA – São muitas décadas dedicadas ao ato de escrever e uma notoriedade pública conquistada com os méritos de muitos prêmios literários e milhares de fãs pelo mundo. Eu mesmo, por exemplo, sou grande fã…  na juventude afinei meu sarcasmo e ironia com teus textos! Que sentimento   você carrega por este legado que já criou (e que ainda podes vir a criar)?

LUíS FERNANDO VERíSSIMO – Eu estou com 80 anos e olhando pra trás acho que tive uma boa carreira. Acho interessante principalmente o interesse entre os leitores mais jovens. í‰ sempre um sentimento bom saber que o pessoal gosta dos livros que eu escrevi.

 

Além do fato de ser seu ofí­cio, o que mais lhe instiga hoje no mundo das letras?

Tenho lido muito sobre economia e história, e leio menos por prazer atualmente (romances, ficçíµes, etc). Então, os tópicos que tenho prestado mais atenção ultimamente são a polí­tica, economia e história.

 

Se a saudosa velhinha de Taubaté (personagem clássico de crí´nicas, a última pessoa que acreditava no governo no Brasil) estivesse ainda viva, o que será que ela conversaria com o presidente Michel Temer?

Pois é (Risos)… a Velhinha de Taubaté era a última pessoa que acreditava no governo, então acho que hoje em dia ela não falaria com ele (Temer), não acreditaria mais em nada (da polí­tica do Brasil). Por isso mesmo acho que ela decidiu morrer (faleceu ‘literariamente’ em 2005, em frente a TV) porque ela não acreditava mais no que via da polí­tica, chegou a um ponto crí­tico.

 

Há algum tipo de livro que você gostaria de ter escrito mas nunca escreveu?

Um livro que já li várias vezes é o ‘Grande Gatsby’ (clássico de F. Scott Fitzgerald). Acho que é um grande romance, e seria um livro que eu gostaria de ter escrito, sem dúvidas .

 

 

No dia 17 de dezembro você vai estar com o Jazz 6 aqui na Panzerotti, em Torres. Coincidentemente, é a data do aniversário de seu pai (o renomado escritor í‰rico Verí­ssimo). Quais as liçíµes que você carrega dessa sua relação de filho com í‰rico Verí­ssimo?

O pai foi um homem muito bom, afetivo, ligado com a famí­lia. Acho que a lembrança que carrego dele é esta, da afetividade. Era também um homem muito coerente nas posiçíµes dele, e acabo tentando carregar isso pra minha vida também

 

Aliás, sua relação com Torres é antiga, no passado veraneou por aqui com sua famí­lia. Traz alguma memória boa de nossa cidade?

Eu veraneava no começo da década de 50 em Torres, quando era jovem. Geralmente alugávamos alguma casa: o pai e a mãe vinham e passávamos quase 3 meses na cidade, entre dezembro e março.   Tenho boa lembrança da praia, dos bailes da SAPT, dos companheiros que fiz. São sempre memórias muito boas.

 

Quando o cronista dá vez ao saxofonista? Ou os dois se misturam?

Na verdade, pra mim a música foi anterior a escrita. Comecei a tocar quando tinha 16-17 anos, enquanto que a escrita só comecei a levar a sério bem mais tarde. Acho que são coisas separadas, os tipos de atividade não tem muito a ver uma coisa com a outra. Só que o jazz e o saxofone, assim como a crí´nica, requerem um pouco de criatividade. Nesse ponto a música e a escrita se parecem.

 

Que coisas mais lhe fazem sentir prazer em estar vivo?

Acho que seriam meus netos – a Lucinda   e o Davi. A grande alegria da famí­lia hoje são os netos

 

E o que lhe desanima neste mundo?

O Brasil desanima a gente. A polí­tica brasileira, todos esses escândalos, essa incompetência. Um sentimento de impotência, parece que as coisas só pioram.

 

Como Luí­s Fernando Verí­ssimo se autodefine hoje?

Olha, não me conheço muito bem. Acho que estou tentando enfrentar a velhice com algum prazer. Mas não me conheço muito bem.

 

Você foi uma das minhas grandes inspiraçíµes literárias, instigou em mim uma vontade de escrever continuamente e, fatalmente, me levou ao jornalismo. Com um misto de satisfação e amargura, lhe agradeço por isso (brincadeira).   Mas que recado você daria para a nova geração de escritores?

O recado que dou é, principalmente ler muito. Pois a gente só aprende a escrever lendo os outros, não há outra maneira de aprender. Também ficar atento as técnicas de escrita, se aprimorar. Mas principalmente ler muito.

 


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