Neto mostra seu jeito de encarar com leveza enfermidades de seus avós em Torres

3 de janeiro de 2017

Francis sempre leva sua avó para passear quanto ela está disposta

 
 

A correria do dia a dia muitas vezes é tanta que vamos deixando de lado uma das coisas mais importantes: cuidar de quem amamos. Talvez, esta época do ano seja a oportunidade de você rever suas prioridades.  

   

Por Maiara Raupp

_______________

 

A pesada carga de trabalho, as exigências de agilidade nos meios de comunicação, as múltiplas tarefas domésticas, a necessidade de interação social, o trânsito, a apreensão com a crise financeira, dentre muitas outras atividades que o ser humano se envolve e se preocupa diariamente tem sufocado um ato tão simples e prazeroso: cuidar de quem amamos. Atualmente o simples ato de sentar em uma mesa de jantar (sem celular), deliciar-se com uma comida caseira e contar como foi o seu dia tornou-se raro. Não há tempo!

No final de dezembro esteve em exibição nos cinemas o filme O Vendedor de Sonhos, baseado no livro de psicoterapeuta Augusto Cury. Quem teve a oportunidade de ver vai entender bem o que estou falando, e quem não teve, aconselho a ver. No filme ele faz exatamente essa reflexão estar e cuidar daqueles que amamos enquanto há tempo.

í‰ exatamente isso que fazem o torrense e biólogo Francis Santos Custódio e sua mãe, a comerciante Sí´nia Nápole dos Santos. Há cerca de sete anos os dois se revezam para se dedicar em tempo quase integral a dona Edi Nápole dos Santos, 80 anos, e ao seu Manoel Domingos João dos Santos, 86 anos, avós e pais de Francis e Sí´nia, respectivamente. Manoel tem glaucoma ní­vel avançado (apenas 5% da visão), e Edi sofre do mal de Alzheimer.

 

Famí­lia: a base de tudo

 

í‰ acreditando na importância da famí­lia que Francis enfrenta diariamente os obstáculos das doenças dos avós com bom humor. Famí­lia é a ligação, é nossa referência, é a base de tudo. Hoje em dia tudo é considerado mais importante do que a famí­lia. Não deveria ser assim. Com relação a doença, se não levar com bom humor e naturalidade não se consegue vencer o dia. í‰ muito difí­cil. Só nós sabemos. Mas reclamar não resolve nada, completou ele.

Francis, sua mãe e sua irmã moram com os avós há cerca de 20 anos. Sempre partilhamos de muitas coisas com eles. Moramos no mesmo pátio. Atualmente é um pouco diferente. Antes meu aví´ ia no centro sozinho, minha avó cozinhava. Nos últimos sete anos se tornaram totalmente dependentes, contou Francis.

Seu Manoel nos dias bons enxerga 5%. Apenas vê vulto e claridade. Não tem noção de dimensão e com isso começou a apresentar certo ní­vel de esquizofrenia, já que vê coisas. A doença foi descoberta há uns 15 anos, no entanto já estava em um ní­vel muito avançado. Manoel trabalhou 35 anos na Prefeitura Municipal de Torres, contribuindo em vários feitos como a construção do Valão.

Dona Edi descobriu o Alzheimer faz uns oito anos. Após começar a apresentar os sinais da doença, o avanço foi muito rápido. Com o uso dos medicamentos a doença parou de progredir. Mas acredito que, além disso, essa interação e atenção que temos com eles contribuí­ram muito, afirmou o neto.  Francis contou ainda que a avó fugia muito de casa no iní­cio da doença e se perdia, mas hoje não mais. O que é mais difí­cil hoje é a demência. Devido a isso ela faz as necessidades nas calças, tira as fraldas, suja a casa. Tem que ter muita paciência, disse ele.

 

Cuidando com prazer

   

Francis sai com a avó para passear quando ela está em um dia ˜melhor™. O aví´ já é mais difí­cil. Ele reclama muito. A vó já não é tão reclamona. í‰ alegre, pra frente, só é braba, falou ele sorrindo. Dona Edi era cozinheira do Farol Hotel e depois de casas de famí­lia. Hoje não consegue passar um café, completou ele.

Francis conta que o que os avós mais gostam de fazer é ouvir música. TV irrita eles. O ví´ não enxerga e a vó não gosta do barulho. O que eles mais gostam é de música. Ouvem rádio, músicas de igreja, antigas. Eles até dançam juntos, relatou Francis, dizendo ainda que a avó fala umas 20 vezes em curto espaço de tempo que a música é bonita.

Outro passatempo predileto do casal de idosos é conversar. Eles contam histórias, piadas, eu preparo o café da tarde e rimos juntos, dissertou Francis. Faço por eles enquanto estão vivos. Me esforço para fazer eles felizes, porque depois que eles morrerem não adianta chorar, completou ele.

De famí­lia humilde, da roça, dona Edi e seu Manoel são analfabetos, mas sempre se dedicaram muito para a famí­lia que construí­ram: sete filhos, 17 netos e 4 bisnetos. Mesmo diante de tudo vejo que eles são muito felizes. O segredo, na minha opinião, é não tratar eles com tristeza ou como doentes, disse Francis.

O neto fala ainda que lidar com eles é como lidar com criança. Tem que dar comida, levar no banheiro, dar banho, colocar para dormir. Eles fazem manhas e chantagens. í‰ cansativo, mas prazeroso, assegurou ele, dizendo ainda que é muito recompensador fazer tudo isso. Quando eles partirem eu sei que fiz a minha parte. Porque a maioria do sofrimento das pessoas é pelo arrependimento. í‰ claro que a saudade dói, mas o arrependimento de não ter cuidado e convivido mais tempo com aqueles que amamos é pior, concluiu ele.

 


Foto: Cuidar da higiene pessoal do aví´ é uma das coisas que Francis mais se dedica


Publicado em:







Veja Também





Links Patrocinados