POR MAIS SEGURANí‡A NAS ESTRADAS: Morando em Torres, médico aposentado fala sobre grave acidente que quase lhe tirou a vida

14 de dezembro de 2016

Evandro Parisotto sofreu grave acidente de carro em 2011 (e), que lhe fez ficar 53 dias em coma (d)*

 

Por Guile Rocha

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Um acidente no trânsito e mais uma história de vida alterada: a de Evandro Parisotto hoje com 58 anos. Entre os anos 70 e 80 ele formou-se em medicina na Cidade de Caxias do Sul – especializando-se, após, em ginecologia e obstetrí­cia na capital Porto Alegre. Casou-se, teve um filho, trabalhou por muito tempo principalmente em consultórios particulares. Em 2005 – após separar-se por um desgaste no casamento – decidiu mudar de vida: veio para Torres e assumiu o desafio de prestar seus serviços í  saúde pública, juntamente ao programa Estratégia de Saúde da Famí­lia.
O médico passou por concurso público na Prefeitura de Sombrio, e em 2010, chegou a acumular 5 empregos em lugares bastante distantes: "Eu atendia em Caxias, trabalhava em Sombrio, morava em Torres. Ainda fazia plantão em Capão e atuava em clí­nica de Tramandaí­. Logo fazia muita estrada, mais de 5 mil quilí´metros por mês,   mais que um taxi em Porto Alegre. Por isso que acabava dirigindo rápido: 150km por hora era o normal para mim nas estradas, as vezes até 180km/h" confessa Evandro ao jornal A FOLHA – se dizendo feliz pela oportunidade de dar esse depoimento para mim (jornalista Guile Rocha) e para um jornal do qual ele tornou-se fã nos últimos anos.
Por quase 30 anos, ele exerceu a medicina sempre aprimorando sua formação: presente em congressos frequentemente, entre inúmeras noites de plantão e mais de 1000 partos realizados. Mas os acontecimentos que antecederam o carnaval de 2011 fizeram com que os rumos de sua vida fossem alterados para sempre.
 

O acidente

Evandro conta que já estava com nova namorada em 2011, sendo que tinha se planejado para passar o carnaval daquele ano com ela, em Punta del Leste (Uruguai). Numa sexta-feira ele despediu-se dos colegas do posto de saúde em Sombrio, passou por Torres e rumou para Porto Alegre na companhia de um amigo, para quem dava carona. "Antes de eu continuar viagem, este meu amigo ainda me disse: ‘tu não vai correr hein?’. E eu disse (brincando) pra ele não me encher o saco, fui em frente", lembra o médico, que pegou sua namorada em Porto Alegre e seguiu viagem para Pelotas, em direção ao Uruguai.
 
Mas um pouco antes de chegar em Pelotas começou a chover. Entretanto, acostumado com a estrada e a velocidade, Evandro não tirou o pé do acelerador… afinal, queria chegar em Punta del Leste ainda a tempo do jantar. "A partir de então,não lembro bem do que aconteceu. Numa curva o carro devo ter aquaplanado, deve ter rodopiado. Foi ai que, violentamente, bati em uma árvore contra a minha porta e o carro caiu num barranco", cita o médico. Logo após o acidente, a parceira de Evandro – que utilizava o cinto de segurança e não se machucou muito (‘apenas’ fraturou duas costelas) – foi para a estrada pedir ajuda, desesperada, achando que seu namorado estava morto. Após algum tempo o socorro veio, e verificou-se que Evandro ainda estava vivo – apesar de seu estágio crí­tico após ter quebrado vários ossos, ter diversas fraturas e estar em um coma profundo. "Foi um acidente bem feio. Creio que foi o airbag lateral e o cinto de segurança que ajudaram a salvar minha vida. Além do fato de eu estar em boa forma fí­sica no momento da colisão".
 

Recuperação e sequelas  

Durante sua recuperação, o médico ficou por longos 53 dias em coma, quase 2 meses dos quais ele afirma não lembrar-se de nada: "Do coma, é como se eu tivesse deitado num dia e acordado no outro. Depois, ainda levei mais uma semana pra definitivamente acordar, tempo esse que fiquei delirando longamente, tendo estranhos sonhos.   Quando voltei a acordar de vez, ainda estava com a cabeça embaralhada: levei um mês pra acreditar que o acidente tinha sido de carro, e não de moto".
Passado este perí­odo, Evandro encarou fisioterapia e um longo perí­odo de recuperação. Mas não escapou das consequências de seu acidente: ficou com sequelas fí­sicas permanentes e teve que se aposentar da medicina compulsoriamente – diagnosticado com sí­ndrome pós traumática e déficit de memória recente. "Ainda sei tratar as doenças, lembro de coisas bem antigas mas, coisas de um mês, uma semana atrás, acabo esquecendo".
 

Recado para os leitores

Atualmente, Evandro não pode mais praticar os esportes que eram parte de sua rotina: Ele corria diariamente, fazia maratonas, duatlon aquático, jogava tênis, surfava. Com isso, acabou também ganhando muito peso (cerca de 30kg acima de seu peso normal). Isso tudo fora o fato de não poder mais atuar na medicina, atividade para a qual havia se preparado por 30 anos de sua vida.
"Eu acho que fui poupado, devo ter tido o objetivo de ficar aqui, para conscientizar a juventude de não correr. Esse depoimento não tem qualquer vontade de autopromoção, simplesmente quer alertar a todos, e principalmente aos jovens, sobre os perigos de acelerar demais no volante. Não quero piedade de ninguém, penso que nesse mundo a gente faz e a gente paga. Eu pedi e levei, são algumas escolhas erradas que fazemos e que podem influenciar o resto da vida da gente". diz o médico aposentado, que conclui refletindo sobre as expectativas pela publicação da vigente entrevista: "Espero que a rapaziada leia esse depoimento e, se ao menos um deles diminuir a velocidade na estrada, já me sinto satisfeito".

 

 

OMS relata Brasil entre os paí­ses com mais mortes no trânsito na América

 

O Brasil apresenta uma taxa de 23,4 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentadasem maio de 2016. Com isso, o paí­s tem o quarto pior desempenho do continente americano (Atras das ilhas caribenhas de Belize e República Dominicana, além da Venezuela). Os principais motivos para os óbitos envolvem a relação entre álcool e direção, alta velocidade e desatenção.De acordo com a OMS, estima-se que o número de mortos nas estradas em todo o mundo pode chegar a 1 milhão por ano em 2030 – sendo que a projeção mundial de ví­timas no trânsito tem peso maior nos paí­ses de baixa e média renda.
Já no Rio Grande do Sul, o número de mortos em acidentes caiu cerca de 20% em cinco anos, segundo levantamento do Detran realizado em maio de 2016. í­ndice de óbitos no trânsito diminuiu de 20 para 16 mortes, a cada 100 mil habitantes. Na prática, no ano de 2010 aconteceram 1.948 acidentes com morte no estado, resultando em 2.190 ví­timas. Em 2015, foram 1.735 óbitos em 1.531 acidentes. Para o Detran, a redução de 20% aconteceu a despeito do crescimento da frota, da população e do número de habilitados. No perí­odo, a frota cresceu 32% (1,5 milhão de veí­culos), enquanto a população cresceu em torno de 2% (190 mil habitantes) e o número de habilitados, 19% (750 mil condutores).

*Apesar de serem imagens fortes, decidimos publicá-las a pedido do próprio entrevistado


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